Artes plásticas

Em diálogo com Aleijadinho 

Carlos Bracher abre exposição com 85 telas, entre quadros e aquarelas que tentam releitura do mestre do Barroco

Por gustavo rocha
Publicado em 31 de outubro de 2014 | 04:00
 
 
Opostos. Presente na obra de Bracher, o contraste entre extremos é um dos traços marcantes do Barroco: claro e escuro, belo e grotesco Romulo Fialdini / Divulgacao

Já se passaram quatro décadas desde que o artista plástico Carlos Bracher escolheu Ouro Preto como a cidade onde iria viver. Impregnado pelas obras e atmosferas barrocas presentes em sua rotina, o artista retribui a influência e abre, amanhã, a exposição “Aleijadinho 200 anos: Tributo de Bracher”, no Museu das Minas e do Metal (MMM), em Belo Horizonte. “Eu precisava fazer isso, até como forma de gratidão fraterna, amorosa aos anos que vivo na cidade, sob grande influência dele”, pontua o artista.

A série 85 de quadros e aquarelas foi feita especialmente para as comemorações dos 200 anos de morte do grande nome do Barroco brasileiro, o escultor Aleijadinho. “É uma descida ao mundo que circundava Aleijadinho, com suas percepções e evocações”, comenta Bracher.

O fato de estar há tanto tempo em uma das cidades onde Aleijadinho mais deixou rastros de seu vasto repertório artístico, na opinião de Bracher, facilitou a produção da série, feita em apenas três meses.

“Esse tempo (marcado no relógio) não importa tanto, eu prefiro pensar no tempo onírico, num tempo que é subjetivo”, comenta. “Mas, por outro lado, certamente, esse convívio de mais quatro décadas – 43 anos para ser exato – vai se assimilando no dia a dia, e o fato de viver há tanto tempo em uma cidade como Ouro Preto facilitou essa compreensão da importância da obra dele. Cada vez mais, eu fico impressionado com sua grandeza. É, de fato, um grande mestre”, completa.

Ao longo do período de criação, contudo, o artista perambulou por seis cidades que fizeram parte da trajetória de Aleijadinho: Congonhas, Ouro Preto, Sabará, São João del-Rei, Tiradentes e Mariana. Além disso, ele tentou criar uma interlocução entre os vários elementos da vasta obra do mestre do Barroco, pintando, inclusive, algumas obras ao ar livre.

“Eu tentei dar uma visão a mais completa possível, para abordar sua obra. Fui atrás de suas inspirações – a arquitetura, a escultura, os retábulos, os altares, as peças de santo –, usando sempre pesos equivalentes para pegar todo o espírito da obra dele. Ele é um homem de muitas facetas, e são muitos ângulos de visualidade da obra de Aleijadinho”, exalta Bracher.

Singularidade. Não é novidade artistas se inspirarem na obra de Aleijadinho para compor seus trabalhos. Seja reverenciando, repaginando, recortando ou mesmo negando sua estética para construir novas linguagens, existem vários exemplos e várias obras que dialogam com o expoente mor do Barroco mineiro. Bracher acredita que sua série de trabalhos faça uma “releitura” dos trabalhos cujo diferencial repousa justamente na sua longa convivência com Ouro Preto.

“É curioso notar essa questão da culturação das pessoas quando vão para lugares diferentes. Imagine: se você sai do país e passa um tempo vivendo fora, você naturalmente aprende outra língua e adquire novos hábitos. Acho que é justamente o que acontece comigo em relação ao Barroco. A cada dia que passa, eu me torno um artista ainda mais barroco”, garante. “Todos esses valores são forças que vão dando uma conotação, um tempero poético muito forte. A base humana é essa”, finaliza.

Comemorações. A exposição de Bracher faz parte da programação da 37ª semana do Aleijadinho no MMM, que comemora os 200 anos de morte do artista barroco. Haverá ainda a palestra “Aleijadinho arquiteto”, no dia 6, e um seminário, no dia 22, com palestras, performance artística, exibição de documentário inédito e lançamento de livro sobre o projeto com Bracher.

Agenda

O quê. “200 anos de Aleijadinho: Tributo de Bracher”

Quando. De amanhã a 23 de novembro (3ª a dom., das 12h às 18h; exceto às quintas, das 12h às 22h)

Onde. Museu das Minas e do Metal (praça da Liberdade, s/nº, Funcionários)

Quanto. Entrada franca

Quem é?

Natural de Juiz de Fora, Carlos Bracher foi para a Europa no final dos anos 1960, fixando-se em Paris e Lisboa, onde estudou pintura e expôs em galerias locais. Quando retornou ao Brasil, passou a residir em Ouro Preto. Os livros “Bracher”, de Olívio Tavares de Araújo, e “Bracher: Do Ouro ao Aço” tratam de sua obra.