Poesia

Entre o singular e o coletivo

Flávia Péret lança “Uma Mulher, publicação independente, e um livro-expandido, criado por Tande Campos

Por Joyce Athiê
Publicado em 27 de abril de 2017 | 03:00
 
 
Mídias. Ideia explorada por Flávia Péret no livro “Uma Mulher” acabou se expandindo para a internet Bianca de Sá/ Divulgação

Uma mulher que detesta sapatos, que não tira a roupa na frente de qualquer pessoa. Ou então uma mulher que ferve de raiva, uma piriguete e também aquela que tem cheiro de alho nos dedos. Todas elas estão presentes em “Uma Mulher”, livro de poesias de Flávia Péret que será lançado no próximo sábado (29) às 10h, na Banca, espaço dedicado a publicações independentes.

Formada em jornalismo, Flávia seguiu um caminho comum. O gosto pelas palavras a levou para a literatura. Foi nesse trânsito que ela encontrou o espaço da sala de aula, como professora, por sete anos, da Oi Kabum, escola de arte e tecnologia. “Foi um momento importante, porque eu escrevia, mas não mostrava, tinha uma relação conflituosa com o meu texto. Mas lá tinha uma gráfica, e comecei a ter uma interface de editora dos trabalhos dos alunos. Paralelamente a isso e encorajada pelas feiras de publicações independentes, comecei a desengavetar meus textos”, conta.

Assim, Flávia começou a lançar os próprios livros, sempre com tiragens pequenas e feitos de forma artesanal. “Meu viés é com livros pequenos e curtos. Tenho uma ideia e faço”, afirma. Foi assim com “Uma Mulher”, em que Flávia passou a anotar em seu caderninho pequenas frases a partir de uma estrutura encontrada. O livro tem o formato de uma lista, com 120 frases derivadas da repetição “uma mulher que...”.

“É uma tentativa de engatilhar a experiência de ser mulher, múltipla, complexa, partindo de um lugar-comum, quase estereótipos, como a mulher que chora, que se olha no espelho. Mas, quando eu desloco essas frases, elas ganham uma poética. Além do lugar do comum, trago também o incomum, na possibilidade de subverter esses lugares. Um exemplo é ‘uma mulher que se masturba’, algo que não é colocado abertamente entre nós. Trabalho, então, com a dualidade entre o que é comum e o que é segredo, colocando os dois no mesmo patamar”, comenta.

Flávia chama a atenção, no entanto, para a noção de comum que norteia sua criação. “Não se trata do banal, do corriqueiro, do ordinário. Falo no sentido de uma comunidade. Cada frase cria uma biografia que tem profundidade. É um livro que pede uma leitura criativa”, explica.

A cada página, três versos curtos são postos pela simplicidade que reflete o cotidiano. “São frases que vinham do nada. Comecei a fazer a lista olhando para a minha experiência, mas logo o olhar se direcionou para fora, saiu do autobiográfico e agora flutua na alteridade, quando passo a olhar também para outras mulheres”, diz Flávia.

As inúmeras possibilidades, no entanto, tornaram a lista infinita, e ela acabou transbordando para o ambiente virtual. “Uma Mulher” desdobra-se em um livro-expandido online. No site umamulher.org, desenvolvido por Tande Campos, encontram-se os mesmos versos presentes no papel, porém recombinados a partir de um algoritmo, que gera novos textos em interação com cliques da leitora ou do leitor.
“Essa ideia permite que a lista continue e ainda carrega a ideia de que a linguagem é um vírus, é um jogo e se multiplica, tem esse poder de expansão. Além disso, queremos também abrir para que as leitoras escrevam suas próprias frases, que entrarão em diálogo com frases escritas por outras mulheres”, adianta.


Agenda

O quê. Lançamento do livro “Uma Mulher”, de Flávia Péret
Quando. 29 de abril, sábado, às 10h
Onde. Banca (rua Gonçalves Dias, 789, Funcionários) - http://banca.site
Quanto. Entrada gratuita e R$ 25 (livro)