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Redação O Tempo

Por RENATO VIEIRA
Publicado em 05 de março de 2012 | 01:00
 
 
SONY/DIVULGAÇÃO

Nos últimos anos, os canais a cabo e os cinemas optaram por ampliar a gama de obras audiovisuais dubladas. Antes restritas à TV aberta e ao mercado de vídeo doméstico, a dublagem tem hoje a missão de atrair a nova classe C, cujo poder aquisitivo vem aumentando gradativamente, e que cada vez mais investe em entretenimento, mas que não se adapta ao hábito de ler legendas. Os estúdios que prestam esse tipo de serviço se multiplicaram, já que a demanda tem sido cada vez mais intensa.

O primeiro canal a cabo que optou por dublar toda a sua programação foi a Fox, em 2007, incluindo séries de destaque, como "24 Horas" e desenhos como "Os Simpsons". "Já naquela época detectamos uma grande demanda por conteúdo dublado. Com a mudança, tivemos ótimos resultados, aumentando a audiência da Fox", conta Paulo Franco, vice-presidente de programação do canal.

Segundo ele, o número de assinantes de TV a cabo pertencentes à Classe C aumentou cerca de 30% no último ano. "Verificamos que, com esse novo quadro, aumenta também a demanda por dublagem", completa.

Franco alega que seria mais cômodo para o canal manter filmes e séries com legenda. "Dublar é muito mais caro e muito mais trabalhoso do que legendar, mas sabemos que a maioria dá preferência à dublagem".

Outros canais também seguiram a tendência. Neste ano, a Sony pretende adaptar 100% de sua programação. "Já estamos dublando para eles as séries ‘Unforgettable’ e ‘Pan Am’, com estreia prevista para março", conta Mauri Ribeiro, diretor artístico da Dublavídeo, fundada há 20 anos.
"Hoje em dia a pessoa chega em casa e quer relaxar, não quer fazer esforço pra ler legenda. Agora, a Classe C compra tudo de tecnologia, é assinante de TV a cabo e demanda isso. É uma questão de comodidade", diz Ribeiro.

Há quem dê outros contornos à opção pela dublagem. "O público está exigindo conhecer a obra no idioma que ele fala. Essa é uma tendência mundial. Quando um brasileiro compra um livro de um autor estrangeiro, é natural que ela opte pela publicação em português. Assim como o teatro. Quando há adaptações de peças internacionais, elas são traduzidas e adaptadas para a língua e o contexto local", opina Zodja Pereira, dubladora há 35 anos e diretora da Central Dubrasil, de São Paulo.

"Essa identificação valoriza o nosso idioma, faz com que o brasileiro, mesmo que o produto não retrate sua realidade, se sinta representado", sintetiza Pereira. Ele frisa que o espectador deve ter o direito de escolha. "Não dá para ter só a opção de áudio original ou só dublagem. Quem assiste tem o direito de escolher".