Cinema

Filme brasileiro tem sessão lotada em Cannes

O longa já abre com a cena em que o corpo é encontrado e recua aos dias precedentes, com Gabriel Buchmann viajando pelo Leste da África como um mochileiro “roots

Por Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2017 | 03:00
 
 
Cena de Gabriel e a Montanha Gamarosa Filmes / Divulgação

CANNES, PARIS. Único longa  brasileiro em Cannes neste ano, “Gabriel e a Montanha”, do carioca Fellipe Gamarano Barbosa, estreou em sessão lotada na Semana da Crítica, seção do festival europeu paralela à competição principal, na manhã de ontem. João Pedro Zappa (de “Boa Sorte”) dá vida a Gabriel Buchmann, brasileiro que morreu de hipotermia aos 29 anos tentando escalar um monte no Malaui em 2009.

O longa já abre com a cena em que o corpo é encontrado e recua aos dias precedentes, com Buchmann viajando pelo Leste da África como um mochileiro “roots” (de raiz), como ele mesmo se descreve.

No começo, a trama deixa em aberto o que faz aquele brasileiro vestido como um africano, comendo a mesma comida que os locais e pernoitando na casa deles. O conteúdo dos e-mails que ele mandava ao Brasil, lidos em “off”, e a chegada da namorada, vivida por Caroline Abras, dão pistas de suas origens: ele é um jovem economista, vindo de família abastada, que não quer entender a miséria de forma acadêmica, quer experimentá-la.

“Ele era um personagem contraditório, não tinha um grande objetivo,mas uma série de pequenos objetivos”, diz o diretor. “Ele queria ser visto como um local, mas também queria conhecer o lado turístico daquilo tudo”.

Barbosa era amigo do verdadeiro Buchmann, com quem estudou no Rio de Janeiro. Para rodar o filme, fez duas viagens refazendo o caminho do ex-colega e coletando depoimentos dos africanos que o haviam acolhido em seus últimos dias. Em torno de dez desses locais – guias, anfitriões, motoristas de safári etc – reencenam o contato que tiveram com o brasileiro atuando como si mesmos em cena com Zappa.

O diretor explica por que optou por abordar a história do amigo num filme de ficção, e não num documentário puro. “Porque era uma forma de tê-lo vivo e de dobrar o tempo, com passado e
presente ao mesmo tempo”, responde. Disso resultam interações que pintam um retrato bem empático do personagem.

A busca pelo contato humano é o que distingue Buchmann do protagonista de “Na Natureza Selvagem”, outra história de um viajante  solitário com trajetória malfadada. “Eles são o oposto”, diz Zappa. “O Gabriel não queria se isolar, não queria perder tudo o que tinha”.

Lotada, a sessão em que o filme foi exibido contou com a mãe de Buchmann na plateia e colegas convidados por ela e pelo diretor. Neste ano, o júri da semana é presidido pelo também brasileiro Kleber Mendonça Filho, que em2016 disputou na competição com “Aquarius”.