Marcos Frederico

Folia, bandolim e muita sátira

Autor da marchinha “Solta o Cano que Não Cai e de outras pérolas na cidade, mineiro lança dois discos reverenciando o Carnaval

Por LUCAS SIMÕES
Publicado em 21 de janeiro de 2017 | 03:00
 
 
Perfil. Marcos Frederico lança uma coletânea com marchinhas autorais e o disco “Carnaval Cigano”, em fevereiro Ciro Thielmann / Divulgação

Em 2011, o radialista Tutti Maravilha lançou um convite para que músicos de Belo Horizonte enviassem marchinhas autorais para tocar na rádio. Para a surpresa do músico Marcos Frederico, sua canção “Tapetenense”, hino despretensioso do time de futebol do qual o músico participa nas peladas de fim de semana, entrou na programação. No ano seguinte, com a inflamação de blocos e a politização do Carnaval oriundo da Praia da Estação, fazer marchinha virou coisa séria, vide a inauguração do Concurso Mestre Jonas, do qual Marcos Frederico foi vencedor no ano passado, com a composição “Não Enche o Saco do Chico”.

Com cerca de 15 marchinhas no currículo, incluindo a novíssima “Solta o Cano que Não Cai”, e dois discos engavetados para fevereiro inspirados na folia, Marcos Frederico tem feito do Carnaval um ingrediente a mais para as experimentações sonoras que ele acumula há anos. Mas o espírito momesco não é só de folia e vem regado por raízes de diversos gêneros. “O choro é a essência da música brasileira, considero minha principal escola. Além disso, ouço muita música do Leste Europeu, ibérica, com pegada árabe, não tenho preconceito. Ontem mesmo eu fui ouvir esse hit ‘Deu Onda’ para ver de qual é. De toda música, tento tirar um ensinamento”, diz.

Músico formado em violão clássico pela Fundação Clóvis Salgado (FCS), mas bandolinista autodidata, ele tem uma sólida trajetória pela música instrumental, tendo gravado três discos com influências do choro e do samba, se apresentando em cidades como Paris e Buenos Aires, além de ser eleito o melhor instrumentista no X Prêmio BDMG Instrumental, em 2010.

Além disso, à frente do Estúdio Liquidificador, Marcos Frederico gravou artistas como Lucas Fainblat e o disco “Universo Carapuça” (2015), além de ter produzido “Mata Hari” (2016), álbum em parceria com o advogado Leonardo Brant. “Com o Lucas, exploramos muito o choro. Já com o Leo, foi algo mais rock ‘n’ roll, totalmente diferente. Gosto disso. E, no meio desses trabalhos, percebi que o Carnaval seria um terreno fértil para explorar outras ideias, mais malucas ainda. No começo, era mais uma zoeira, sacanagem, depois nos politizamos mais nas marchinhas, e comecei a investir nelas assim como faço com meus discos”, diz o músico, também integrante do Bloco do Approach desde 2013.

Depois dos sucessos de “Coxinha da Madrasta”, de Flávio Henrique, e “Baile do Pó Royal”, de Alfredo Jackson, Joilson Cachaça e Thiago Dibeto, ambas de cunho político, Marcos Frederico começou a compor com o parceiro Vitor Veloso, explorando as temáticas mais absurdas dos representantes do povo – como “Prefeito, Libera o Cooler” (2016), que criticava a decisão do então prefeito Marcio Lacerda em proibir isopores e coolers em calçadas da cidade; e “Não Enche o Saco do Chico”, também do ano passado, que arma uma defesa a Chico Buarque de Holanda, atacado pessoalmente em um restaurante do Leblon por suas opiniões políticas.

Neste ano, o alvo foram os vazamentos de conversas entre políticos narrados na divertida “Solta o Cano que Não Cai”, candidata ao Mestre Jonas 2017. A música é acompanhada por um vídeo humorístico, no qual aparecem vários caciques da política nacional, como Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra e ACM Neto. “Trouxemos uma cultura visual para as marchinhas. Porque muita gente ainda não capta a mensagem ouvindo a marchinha no meio da multidão. Então, nós decidimos ilustrar. Porque, na internet, as marchinhas ficam populares muito rápido, o povo aprende a cantar vendo o vídeo e só depois vai para a rua”, justifica o compositor.

Discos. A profissionalização das marchinhas fez com que Marcos Frederico editasse sua primeira coletânea, reunindo nove composições autorais e com parceiros em um disco, a ser lançado em fevereiro. No mesmo mês, com data marcada para o dia 26, ele apresenta o álbum “Carnaval Cigano”, instrumental, mas com forte influência da folia mineira. “Eu quis fazer um disco de festa, para dançar, bem focado no bandolim como instrumento principal. Misturo minhas influências orientais, música ibérica também, um pouco do Nordeste brasileiro. Trouxe vários parceiros, como o Flávio Henrique, que divide a faixa-título comigo, e o Murilo Antunes, autor da letra de ‘Enigma’, a única cantada do álbum. Espero que o disco seja um legado interessante para a festa que BH virou depois da explosão carnavalesca”, adianta o compositor.