Dança

Franceses em movimento 

FranceDanse Brasil 2016 traz a Belo Horizonte o espetáculo “BiT, da companhia da icônica coreógrafa Maguy Marin

Por Lucas Buzatti
Publicado em 01 de outubro de 2016 | 03:00
 
 
Mãos dadas. Em “BiT”, seis bailarinos dançam uma constante farândola Herve Deroo / Divulgação

Maguy Marin é uma das mais emblemáticas coreógrafas e bailarinas contemporâneas da França. Nascida em Toulose, em 1951, começou a dançar no conservatório de sua cidade-natal antes de se mudar para Bruxelas, na Bélgica, onde trabalhou com Maurice Breját até 1978, na escola Mudra e no Balé do Século XX. Mas foi em 1981 que Marin ganhou o mundo com a coreografia “May B”, que traduzia em movimentos as peças do teatrólogo Samuel Beckett. Ali, a francesa mostrou que a dança contemporânea podia refletir, sem medo e de forma profunda e política, os sentimentos mais sombrios e ocultos do ser humano.

Décadas depois, Marin mantém-se, graças às criações ousadas da companhia que capitaneia há mais de 30 anos, como um dos grandes ícones da dança contemporânea europeia. Intitulada “BiT”, sua 49ª criação chega amanhã, pela primeira vez, a Belo Horizonte. O espetáculo vem ao Brasil por meio do festival FranceDanse 2016 (promovido pelo Institut Français de Paris e Institut Français Brasil/Embaixada da França) e integra a programação do projeto Pauta em Movimento, do Sesc Palladium.

O título da criação faz uma referência dupla ao termo da informática, que designa a unidade de medida de informação, e aos beats (batidas) dos ritmos eletrônicos. “‘BiT’ foi criado com base no ritmo e na relação existente entre diferentes tempi (plural do latim tempus), coexistindo juntos”, explica a coreógrafa, em entrevista ao Magazine. “Fala sobre como viver junto com o nosso próprio ritmo individual, conectado ao ritmo dos outros”, completa.

Marin conta que a concepção da coreografia passa por dois momentos. “Usualmente, nós passamos por um período de pesquisa de dois meses, quando muitos direcionamentos são possíveis. Depois, com material acumulado, chega o tempo para compor”, afirma, lembrando que “BiT” conta com a atuação de seis bailarinos. “Na maior parte do tempo, todos estão em cena. Mas há momentos que têm apenas dois no palco”, afirma. “É um longo crescente, que chega a explosão, quedas e retomadas”, diz a coreógrafa, hoje aos 65 anos.

Um motivo é recorrente na estrutura do espetáculo: a farândola, dança de origem provençal em que os pares, segurando-se pelas mãos, formam uma fila que se movimenta de forma inquieta. Em “BiT”, se inserem nessa dança expressões múltiplas, de ritos de amor a danças macabras. “BiT é uma longa farândola. Os dançarinos ficam de mãos dadas e têm que estar cientes da distância e da sincronização entre eles”, ressalta.

O suporte musical do espetáculo é o tecno, vertente da música eletrônica usada na trilha original de Charlie Aubry. “A energia da música tecno foi necessária pela sua capacidade de desespero e aflição”, justifica a coreógrafa, que faz suspense quanto aos figurinos e recursos cênicos de “BiT”. “Sugiro que descubram sozinhos quando vierem assistir ao espetáculo”, instiga.

Para a coreógrafa, as criações da Cie Maguy Marin – que já passou pelo Brasil cinco vezes entre 1994 e 2016 – continuam intensas por manterem o foco nas relações humanas. “As coreografias estão sempre girando em torno do mesmo propósito, que são as relações entre os humanos, como viver juntos com diferentes caminhos e formas de expressão”, sublinha. “Penso que a dança francesa está viva e bem aberta, hoje em dia, para colaborações de artistas advindos de várias outras disciplinas”, completa.

A coreógrafa francesa revela, ainda, os próximos passos da companhia. “Estamos constantemente em turnê e vamos criar uma nova peça para 2017. Também estamos envolvidos em um local chamado Ramdam Un Centre D’Art, que recebe residências artísticas, workshops e outras atividades artísticas”, finaliza Marin.

Agenda

O quê. Cie Maguy Marin apresenta “BiT”

Quando. Amanhã, às 19h

Onde. Grande Teatro do Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro)

Quanto. R$ 10