Música

Go, Johnny, Go!

Johnny Hooker desembarca em Belo Horizonte nesta sexta (13) para celebrar com fãs uma carreira em pleno crescimento

Por Thiago Pereira
Publicado em 13 de janeiro de 2017 | 03:00
 
 
Amém. Para o músico, shows tem caráter de comunhão com a audiência Sherolin Santos / Divulgação

Se pudermos confiar no clima que invade a capital mineira a partir de janeiro, já há alguns anos, Johnny Hooker, 29, desembarca aqui nesta sexta-feira (13) com uma honraria máxima: “inaugurar” o Carnaval de 2017. Os ensaios abertos de blocos já estão acontecendo, sim, mas o show do pernambucano desta sexta (13), no Music Hall, tem grande chance de ser aquela primeira comunhão de sexos, de afetos, de festividades que é a cara da folia belo-horizontina.

Hooker, que ainda não tinha a dimensão do Carnaval por aqui, adora a hipótese. “Minha relação com o Carnaval é simbiótica. Em Recife, é nossa principal festa, nosso Ano-Novo. É espaço de soltar demônios, ironias, brincadeira, ou seja, é grande parte do que sou como artista”, conta o pernambucano.
Aliás, comunhão e Carnaval são termos caros à “experiência Johnny Hooker”, especialmente ao vivo. “Convido as pessoas a entrarem nessa jornada e se deixarem levar. A jornada do coração partido, da hora mais escura até a superação, com a chegada de uma novo Carnaval”, diz. A comparação faz todo sentido se pensarmos que o show é a transfiguração cênica de “Eu Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!”, um dos petardos musicais mais interessantes da música brasileira dos últimos anos, espécie de “ópera-rock gay” (brinco com o termo, e Hooker se diverte), ou seja, um álbum que possui uma linha narrativa e um arco conceitual bem demarcados.

“É uma espécie de entidade que baixa em Recife, e começa a observar as histórias de amor que acontecem. Depois, começa a vocalizar as histórias, em que cada uma representa um degrau das fases de uma relação, o luto, a perda amorosa”, explica.

No palco, Hooker convoca a dramaturgia e, de certa forma, materializa o que em disco era este personagem espectral, fantasmagórico. Um xamã comandando transfigurações, “uma experiência meio mística e musical, de cura do coração”, acredita. “(Ela é ) dividida em atos, em vários episódios, pois cada música carrega a história para a superação, e o público embarca na experiência. Acho que as pessoas se sentem à vontade para liberar esses demônios. Elas soltam a franga, as coisas presas na garganta, dores, desamores, frustrações. E aí vira uma comunhão, uma coisa quase religiosa”, acredita.

Aceitação. O sucesso de Hooker é genuinamente medido nos milhões de streamings, likes e compartilhamentos em plataformas digitais, nos prêmios que conquistou (como o de melhor cantor no 26°Prêmio da Música Brasileira de 2015), nas músicas emplacadas em telenovelas e, claro, nos shows lotados desta turnê (que deveria ter se encerrado no ano passado, mas que, devido à demanda, encara uma segunda e última fase). Ele acredita que muito de sua ascensão no cenário da música brasileira se deve ao caráter íntimo, tingido em drama, de suas canções. “O disco fala de coisas que as pessoas passam, mas não esperava esse escopo, essa magnitude, foi realmente uma coisa que mudou minha vida”, diz.

Sem falsa modéstia, comemora o fato de ver seus números aumentando e que eles “podem ser comparados aos de artistas pop, que têm uma indústria por trás, gravadoras etc.”. “Eu não tenho nada disso, sou dono de mim, tenho minha sócia, mas também sou co-produtor de tudo. Então, mesmo sem essa máquina de propaganda, alcançar essas marcas é algo extraordinário”, comemora.

O fator música (e não o setor lírico) também chama atenção no trabalho de Hooker. Isso porque ele recupera e mixa uma longa linhagem fundamental para entender a sebosa alma brasileira, nosso espírito de vira-lata (“amar é abanar o rabo, lamber e dar a pata”, já dizia Cazuza), o drama quente e suado de fim de noite. Maysa resgatada da fossa e curando as feridas numa folia de Carnaval.

“Sim, acho importante esse reencontro do brasileiro com a música latina, o bolero, o lado romântico chamado de brega pela crítica, o axé. O Nordeste, enfim”, defende. E, assim, o filho do fotógrafo Gil Vicente, cujas lentes retrataram boa parte da geração manguebit, se vai tornando um “expoente” da nova MPB, como disse recentemente em um programa de TV (com lágrimas nos olhos de Hooker), outro pernambucano notório, o jornalista Xico Sá.

 

Agenda

O quê. Johnny Hooker
Quando. Nesta sexta-feira (13), às 22h
Onde. Music Hall (av. do Contorno, 3.239, Santa Efigênia, 3209-8686)
Quanto. R$ 100 (inteira)


Johnny Hooker

O filho de Bowie, Madonna e Caetano Veloso

Johnny Hooker comanda a jornada de cura dos corações partidos pela terceira vez em Belo Horizonte. O encontro, que se repete nesta sexta-feira (13) no Music Hall, é, nas palavras do músico, motivo de espera e de ansiedade. “Eu amo o público daí. É caloroso e, ao mesmo tempo, educado; sabe aproveitar cada momento, cada musica, de maneira inteligente”, elogia. “Às vezes certos públicos querem tudo de uma vez, toda a experiência. O pessoal daí saboreia o show com calma, mas, ao mesmo tempo, com calor, é algo bem característico”, compara.

O evento da noite desta sexta (13) será carregado de tintas dramatúrgicas, pois contará também com a presença de membros do grupo teatral mineiro Toda Deseo (que o pernambucano quer muito conhecer), que, assim como Hooker, concatena artisticamente questões centrais para a sociedade atual, como as discussões de gênero. “Eu me lembro de uma entrevista da (psicanalista e escritora) Regina Navarro, já há uns 15 anos, na qual ela falava que, num futuro muito próximo, as linhas de gênero iriam começar a ruir, a entrar uma na outra. Isso me marcou muito como adolescente e, hoje, vejo que isso aconteceu: a roda do mundo girou para a frente em questão de direitos, de cuidados com a comunidade gay do mundo inteiro”, diz o músico.

Pais artísticos. Se essas são questões que evidentemente atravessam a marcante performance de Hooker, ele sublinha a todo tempo suas fontes de inspiração. Uma delas, a que parece ser a mais forte, morreu no início do ano passado, o que pode inspirar um tributo de Hooker no palco. “David Bowie. Não paro de me emocionar com as homenagens que têm sido feitas a ele. Já fizemos uma versão ao vivo de ‘Moonage Daydream’ e, quem sabe, pode rolar de novo. Sou muito inspirado pelo lado conceitual dele, a coisa do personagem”.

Além do saudoso camaleão, o altar de Hooker tem espaço para outros grandes performers, como Madonna e Caetano. “São atores, para além de músicos, pessoas que inspiram muito esse meu lado multimídia. Pessoas que usam a música e o palco para subverter papéis”, elogia.

 

“Bíblias” de Hooker

 
Madonna, “Like a Prayer”. “Me ensinou a ser quem eu quisesse ser”
 
Caetano Veloso, “Muitos Carnavais”. “Um caldeirão de coisas”
 
David Bowie, “Ziggy Stardust”. “Um marco fundamental”