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Histórias de quem as viveu

Jornalista e empresário, o mineiro Paulo Cesar de Oliveira lança nesta segunda-feira (10) “De Tudo que Eu Vi, seu terceiro livro

Por Raphael Vidigal
Publicado em 09 de dezembro de 2018 | 03:00
 
 
O jornalista e empresário Paulo Cesar de Oliveira lança amanhã “De Tudo que Eu Vi” Douglas Magno

Ao chegar a um restaurante no Rio de Janeiro para jantar com Ibrahim Sued (1924-1995), Paulo Cesar de Oliveira, articulista de O TEMPO e empresário, foi surpreendido por um gesto do colega de profissão, cuja fama o levou a ser cantado em música por Jorge Veiga (1910-1979) que, em 1955, lançou “Café Soçaite” (dos versos: “Já fui até citado na coluna do Ibrahim”), composta por Miguel Gustavo.

“Cheguei sozinho, e o Ibrahim estava acompanhado da esposa, Simone. Então, sobrou uma quarta cadeira, que ele mandou o garçom retirar”, relembra o entrevistado. Sem entender, Oliveira questionou Ibrahim. “Aí, ele me respondeu que era para não sentar nenhum chato ali perto da gente”, diverte-se o jornalista e empresário.

“Ibrahim era uma figura aparentemente difícil, ele tinha um jeito especial e foi uma personalidade marcante, quase precursora. Diziam que ele falava mal e escrevia mal, mas era muito inteligente”, afirma Oliveira.

Encontros com pessoas proeminentes da vida pública brasileira foram uma constância ao longo dos 50 anos de atividade profissional do jornalista e empresário, que ele repassa em “De Tudo que Eu Vi: Lições das Mais de Cinco Décadas de Jornalismo e Outras Histórias”, cujo lançamento acontece nesta segunda-feira (10), no Buffet Catharina.

É sua terceira incursão no mercado editorial. Oliveira estreou em 2005 com “PCO Encontros” (definido por ele como “mais artístico”) e, em 2011, lançou “Minha Palavra” (2011), onde deu início aos relatos sobre o ofício que continuam na atual empreitada literária.

Elementos. Uma colaboração fundamental em “De Tudo o que Eu Vi” foi a do jornalista Eduardo Murta, que colheu as lembranças de Oliveira com um gravador antes de passar os escritos para as 270 páginas. Foi também de Murta a ideia de dividir o livro em seções temáticas com os quatro elementos básicos da natureza.

Dessa maneira, “água”, “fogo”, “ar” e “terra” perpassam assuntos relacionados à trajetória pessoal, política e espiritual do mineiro, que passou a infância em Montes Claros. Para completar, há depoimentos de pessoas próximas à Oliveira. “Só tem amigos. Inimigo não chamei”, brinca.

Políticos e celebridades no caminho do autor

Com passagens por importantes veículos de comunicação, Paulo Cesar de Oliveira é também responsável pela VB Comunicação, da qual faz parte a revista “Viver Brasil”, fundada em 2008 pelos filhos do empresário. Humildemente, ele se declara “assessor” de Gustavo Cesar de Oliveira, o herdeiro que ocupa o cargo de diretor da empresa. “Posso dizer que a criação desse projeto foi o momento mais importante da minha trajetória nos últimos tempos”, afirma o patriarca Oliveira.

Habituado a comentar a política nacional, o entrevistado teve a oportunidade de travar contatos importantes com chefes de Estado, passando por vários momentos do país, indo de Juscelino Kubitschek e Ernesto Geisel a Fernando Collor e Aécio Neves. Os rumos do Brasil com a prisão do ex-presidente Lula e a vitória de Jair Bolsonaro no pleito de outubro costumam ser tema dos artigos do jornalista em O TEMPO.

“Lula poderia ter se tornado um líder em âmbito mundial se não tivesse sido preso. Não dá para negar o crescimento que o Brasil teve nos últimos anos, mas a corrupção, que sempre existiu, tomou proporções nunca vistas antes”, pontua Oliveira.

Por outro lado, ele vê com esperança o futuro. “(Jair) Bolsonaro se elegeu em cima dessa indignação popular contra a corrupção. Não tenho dúvidas que devassaram a vida inteira dele em busca de algum ilícito e não encontraram nada. Então ele tem moral para colocar em prática o discurso do combate à corrupção”, afirma.

Furo jornalístico. Em março de 1973, a chegada de uma das maiores fabricantes automotivas do mundo ao Brasil foi anunciada, em primeira mão, por Paulo Cesar de Oliveira. O chamado “furo jornalístico”, na visão do entrevistado, caiu em desuso. “O jornal impresso precisa se dedicar a um viés mais analítico. E na internet tudo muda o tempo todo”, afirma ele.

Cura após promessa de tia-avó

A religiosidade de Paulo Cesar de Oliveira é abordada em “De Tudo que Eu Vi”. O jornalista se declara ecumênico e volta a valer de seu humor para comentar o tema. “Eu não acredito em ateu. Porque, quando a coisa aperta, a primeira coisa que fazem é chamar por Deus, Nossa Senhora, todos os santos”, declara.

A ligação de Oliveira com a fé vem de longe. Admirador de todas as religiões, ele informa que nunca foi de frequentar cultos, mas que se sente uma pessoa espiritualizada.

Ainda criança, foi diagnosticado com anemia perniciosa, a mais grave de todas, e brucelose, uma doença que costuma atingir gado e que Oliveira acredita ter sido contaminado por ingestão de leite. Morando em Montes Claros, a família o trouxe para Belo Horizonte a fim de tentar o melhor tratamento. Com exames semanais sendo realizados, as notícias não eram boas, e as doenças continuavam no organismo de Oliveira.

Tudo mudou com a promessa de uma tia-avó. “Ela prometeu que, se eu me curasse, faria minha primeira comunhão em Aparecida do Norte (SP), o maior centro de peregrinação religiosa da América Latina”, conta.

O exame seguinte enfim trouxe uma surpresa positiva. “Eu estava totalmente curado, os próprios médicos classificaram aquilo como um milagre”, relata. “Acredito nos fenômenos porque já vi acontecerem. É uma coisa indescritível, não dá para explicar, a pessoa precisa passar por isso”, sustenta o jornalista.

Agenda

O quê. Lançamento do livro “De Tudo que Eu Vi: Lições de mais de Cinco Décadas de Jornalismo e Outras Histórias”, de Paulo Cesar de Oliveira (editora José Olympio, R$ 114,90).

Onde. Buffet Catharina (av. Raja Gabáglia, 3.080, Estoril)

Quando.  Nesta segunda-feira (9), às 19h