'Monty Python’s Flying Circus'

Humor ao extremo na Netflix

Ícone da TV britânica, programa de comédia tem todos os seus 45 episódios disponibilizados no catálogo da plataforma

Por Da Redação
Publicado em 04 de maio de 2018 | 03:00
 
 
A acidez do irreverente sexteto pode ser acessada agora por meio do serviço de streaming, que abriga também as três comédias da trupe feita para o cinema Netflix/divulgação

Paraty, RJ. “Monty Python’s Flying Circus”, um dos grandes programas cômicos da TV, está finalmente disponível, na íntegra, para o público brasileiro. A Netflix incluiu em seu catálogo os 45 episódios da atração do grupo humorístico britânico Monty Python. Exibido pela BBC em quatro temporadas, entre 1969 e 1974, “Flying Circus” inovou o humor televisivo com sua comédia surrealista e nonsense.

Na contramão do humor de TV da época, na atração do grupo britânico não havia bordões ou imitações de políticos ou celebridades; piadas não acabavam, mas eram cortadas abruptamente por desenhos animados esquisitíssimos, em que freiras tiravam a roupa e policiais voavam pelos ares como pássaros.

O Monty Python era um sexteto formado por cinco britânicos – John Cleese, Eric Idle, Michael Palin, Terry Jones e Graham Chapman (1941-89) – e um norte-americano, Terry Gilliam.

Todos cursaram universidades prestigiosas: Jones e Palin se conheceram em Oxford; Cleese, Chapman e Idle, em Cambridge. Gilliam se formou em ciências políticas no Occidental College, em Los Angeles, e conheceu John Cleese em Nova York, quando o segundo participava da turnê de um grupo estudantil de teatro de Cambridge. Depois de um tempo atuando e escrevendo para grupos de teatro de Oxford e Cambridge, os integrantes do que viria a ser o Monty Python passaram por empregos de redatores e roteiristas de rádio e TV até receberem a incumbência da BBC de criar um novo programa humorístico para as noites de domingo.

O primeiro episódio estreou às 23h de domingo, 5 de outubro de 1969, e foi um desastre de audiência. Em reuniões internas, executivos da BBC classificaram o programa de “nojento” e “acima do limite do aceitável”. Por pouco, “Flying Circus” não foi cancelado depois de apenas um episódio. Mas a emissora insistiu, e o público inglês começou a captar a estranheza do programa.

Os comediantes reconhecem a ousadia da BBC. No livro de entrevistas “Monty Python, Uma Autobiografia”, Terry Jones diz: “A BBC orgulhosamente não só ignorava os roteiros como não conferia os episódios antes de serem transmitidos (...) Nenhuma outra organização teria deixado o Python impune”.

Michael Palin completa: “Dava para tirar proveito desse nível de audácia e liberdade. Lembro que fazia muito bem para o nosso estado de espírito, era o que queríamos fazer há anos. Nem tudo funcionou, mas o sentimento geral era de que dava para imaginar de tudo, de que quase toda ideia era factível. Não havia regras nem limites”.

Um dos quadros mais famosos do grupo é o do “Papagaio Morto”, em que John Cleese volta a uma loja de animais para reclamar que o dono do lugar (Michael Palin) lhe vendeu um papagaio morto.

O texto ficou tão famoso que até a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, não exatamente um ícone da comédia, replicou trechos inteiros num discurso em 1990, ironizando o pássaro do logotipo do Partido Liberal Democrata.

Nunca visto antes. “Flying Circus” era diferente de tudo que se tinha visto em TV até então. Mas o humor daquele tipo, bizarro e surrealista, já existia no rádio, especialmente num programa genial da BBC chamado “The Goon Show”, com Spike Milligan e Peter Sellers, que durou de 1951 a 1960 e influenciou muito a trupe dos Pythons. De todo modo, ninguém havia levado essa estranheza para a televisão daquela forma.

O programa era tão diferente que telespectadores ligavam para a BBC reclamando de cortes que o tornavam ininteligível. Mas a atração era assim mesmo, com um quadro emendado no outro – e muitos deles sem conclusão. Uma cena de tribunal poderia ser interrompida pela entrada de Genghis Khan ou de Napoleão Bonaparte. Nada era estranho demais para o Monty Python.

Mas, bem, até a ousadia cansa, e os integrantes da trupe, especialmente John Cleese, logo perceberam que estavam se repetindo. Ele abandonou “Flying Circus” após a terceira temporada, e a quarta teve só seis episódios.

Mas o fim do programa de TV incentivou o sexteto a investir no cinema, o que resultou em três comédias extraordinárias: “Monty Python e o Cálice Sagrado” (1975), “A Vida de Brian” (1979) e “O Sentido da Vida” (1983). A boa notícia é que os filmes da trupe também entraram para o acervo da plataforma Netflix.