Laço matrimonial com a guitarra

“Minha guitarra e eu somos casados de tal maneira que nenhum casamento meu resistiu a ela” (risos). Quem diz a frase é o guitarrista carioca Fredera, 73, para chamar a atenção sobre o relacionamento que estabeleceu com o instrumento ao longo das décadas. “Foram embora seis casamentos. Estou em bodas de ouro com a guitarra”, completa ele.

Satisfeito com a escolha de ter preterido os relacionamentos amorosos para se dedicar à música, ele se orgulha de ter desenvolvido um estilo próprio. “Eu sou fã de muitos guitarristas, como Jimmy Page, do Led Zeppelin, mas não sigo a linha de nenhum deles. Aprendi a ciência de tocar, mas tenho um estilo completamente próprio”, garante.

A paixão desenvolvida pela guitarra é tão contundente que Fredera sente, digamos, ciúme. Isso porque o álbum “Balada para um Anjo na Terra - Iris Blues” será destinado a um público de “estudiosos, aficionados pela guitarra e colecionadores”. A má (ou boa, dependendo do ponto de vista) notícia para o enamorado Fredera é que o financiamento coletivo, meio pelo qual ele está buscando recursos para o lançamento do disco, não restringe o perfil de pessoas que queiram adquirir a obra. 

Ainda assim, o músico está se precavendo. O disco terá apenas tiragem de 300 exemplares em CD e 100 em vinil. “É um disco para apreciadores, não quero disponibilizá-lo online”, reitera, para em seguida abrir uma exceção: “No futuro, posso rever isso e liberar o disco”. Fredera, que não grava um álbum desde “Aurora Vermelha”, em 1995, afirma que “nem iria gravar o disco”. O apelo de uma das filhas, porém, foi mais forte. “Balada para um Anjo na Terra - Iris Blues” foi batizada com o nome da jovem, que faleceu aos 24 anos em 2015, vítima de um câncer. 

“Tem um blues dedicados a cada um dos meus filhos, para ela, para o mais velho e para o mais novo. Também tem outro dedicado a um grande amigo meu, o César Augusto Pereira, que faleceu antes de ouvir a música”, diz. 

Os blues jazzístico de “Balada um Anjo na Terra - Iris Blues” compõem apenas uma face do álbum, segundo Fredera. “Temos também um lado praticamente erudito do disco. Como a faixa ‘A Saga de J.U.’, que é uma espécie de poema sinfônico dedicado a um personagem de um grande escritor brasileiro”, diz sem revelar o nome do autor, caso contrário, a família do escritor poderia “brecar” a produção da faixa. 

O álbum tem também participações de nomes como Chico Amaral, Enéas Xavier, Beto Lopes e André Limão e foi gravado em BH e em Alfenas, cidade onde o artista mora. Fredera precisa arrecadar R$ 12 mil até o dia 6 de junho, mas conseguiu captar R$ 2.460 – número consultado até o fechamento da matéria.