Flip

Líderes criticam desrespeito

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 28 de julho de 2017 | 03:00
 
 
Álvaro Tukano criticou a discriminação aos povos tradicionais Ibere Perisse/flip

Paraty.  Flip ainda contou com a presença de lideranças de povos tradicionais e quilombolas, entre eles o líder indígena Álvaro Tukano. Segundo ele, o índio é tratado como um invasor que não tem direito à terra. “Os índios não são invasores. Quem são invasores são eles, do agronegócio, eles é que estão destruindo tudo”, afirmou.

O tema voltou à tona na mesa Arqueologia de um Autor, quando foi discutida a necessidade de um cânone literário extraoficial, que inclua os descendentes de negros e indígenas.

 

Scholastique Mukasonga

 

Paraty. Scholastique Mukasonga – nascida em 1956 em Ruanda e hoje escritora francófona respeitada mundo afora – passou à força pela provação de ver 27 membros de sua família mortos no genocídio naquele país em 1994. Centenas de milhares de tutsis, sua etnia, foram dizimados pelo exército de maioria hutu, numa guerra civil que ainda desabrigou outros 2 milhões de pessoas. Esse trauma e a necessidade de salvar a memória da família Scholastique transformou em literatura, que ela apresentou ontem, como convidada da 15ª Flip.

A editora Nós publica dois de seus livros por aqui: “Nossa Senhora do Nilo” e “A Mulher dos Pés Descalços”, este muito marcado pela história real de sua mãe. “Escolhi abordar esse assunto tão duro porque na verdade ‘mãe’ significa força, mas também amor, afeição, ternura e doçura”, disse. “Tive grande dificuldade, me senti como se lanças atravessassem o meu corpo enquanto escrevia, mas ‘A Mulher’ é o livro ao qual eu me sinto mais vinculada como autora”, comentou a escritora, que já publicou cinco outras obras na França, onde vive.

Antes disso, ainda nos anos 60, ela e a família foram forçadas a viver numa área subdesenvolvida de Ruanda. Scholastique depois fugiu para o Burundi e, na sequência, chegou à França em 1992, dois anos antes do massacre.

Apesar de toda dor, Scholastique dá valor à responsabilidade de contar essas histórias a partir de um país sem tradição escrita. “Em tudo isso existe algo de muito positivo, porque eu convivi com a minha família e tive tempo de guardar os costumes. O fato de poder me lembrar dessas coisas e hoje ser considerada uma guardiã dessa tradição”, comentou na Flip.