Biografia

Livro reconta trajetória de um dos estilistas mais polêmicos do Brasil

É a primeira obra de Carlos Minuano, 45, jornalista e escritor

Por Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2017 | 03:00
 
 
Clodovil morreu em 17 de março de 2009, aos 71 anos, vítima de um AVC Dida Sampaio/AE - 10.4.2008

SÃO PAULO. O leitor deve saber que Clodovil Hernandes foi estilista e apresentador de TV explosivo. Mas sabe que ele atuou em quatro filmes? Que virou nome de carro, o Monza Clodovil, e, quando deputado, criou lei que proíbe produtos infantis com aparência de cigarros? Essas e outras descobertas justificam a biografia “Tons de Clô” (leia trecho abaixo).

É o primeiro livro de Carlos Minuano, 45, jornalista e escritor. Clodovil virou tema, ele diz, em 2012, como pauta de reportagem sobre uma mostra em Ubatuba em tributo ao estilista, morto em 2009, aos 71 anos. Mas a história cresceu. O livro destaca o talento de Clodovil, pontuado por mulheres que vestiu, como Hebe Camargo. Descobrimos que nasceu em Elisiário (SP), estudou em colégio de padres e fez seu primeiro desfile aos 18 anos, antes de vir a São Paulo, em 1959. Dualidades são bem exploradas: o gay que dizia não ter “orgulho de transar com homem”. O polemista rancoroso, solidário na morte do rival.

Minuano tangencia os primórdios da moda brasileira, quando estavam no auge Dener Pamplona (1937- 1978), Matteo Amalfi (1932-2014), Ronaldo Ésper e Clodovil. Expoentes que foram atropelados pela chegada de marcas como a Dior. Era o declínio da moda sob medida, vencida pelo consumo de massa.

Da época virou marca a briga com Dener, que a imprensa apelidou de “guerra das tesouras” e que, anos depois, inspirou a novela “Ti-Ti-Ti”. Falando em TV, foi nela que ele investiu ao se ver ameaçado. O livro detalha passagens por canais, repetindo o padrão arroubo impetuoso + ofensa a alguém poderoso = demissão.

Na Rede TV, a carreira chegou ao auge e ao fim. Em 2003, estreou à frente do “A Casa É Sua”, de audiência respeitável. Mas aí veio o “Pânico na TV”, que o perseguiu para que calçasse as “sandálias da humildade” – quadro no qual celebridades tidas por arrogantes eram convidadas a se redimir. Clô não gostou. A irritação alimentou o ibope dos programas, mas lhe rendeu uma caçada – os comediantes chegaram a usar um helicóptero. Ele deixou a TV e, em 2006, foi eleito deputado federal com a terceira maior votação de SP.

Assassinado? A pesquisa por vezes carece de fontes e cruzamento de informações. É temerário falar em temas delicados como Aids e uso de cocaína citando somente uma amiga dele.

“Achava que o instituto Clodovil Hernandes (chefiado por Maurício Petiz, ex-assessor de imprensa de Clodovil) seria a principal fonte, mas ele e a advogada inventariante se recusaram a falar”, diz Minuano. A obra cita ainda desvios de pessoas próximas e teorias segundo as quais o estilista não morreu graças ao terceiro AVC.

Tais lacunas, porém, não afetam o resgate de um frasista implacável, injustamente esquecido: “Não existem mais estilistas; é um monte de bichas”. “Se o Collor tinha aquilo roxo, o meu é rosa-choque”. “Clô para os íntimos, Dô pra quem eu quiser e Vil para os inimigos”.

Trecho

"Uma das principais marcas de Clodovil foi, sem dúvida alguma, a incrível capacidade de não controlar a própria língua. Isso provocou encrencas desde cedo e, mais tarde, muitos processos. O cascudo certeiro que levou na orelha ainda na infância, e que o deixou surdo de um ouvido, veio do pai após uma resposta atravessada. (...)

Aquela pancada não seria, porém, o único abalo da adolescência a deixar marcas. Outra sacudida não poderia ter acontecido em momento mais improvável, e caberia fácil em alguma peça de Nelson Rodrigues. Aos 13 anos, em um domingo qualquer, Clodovil acabava de voltar da missa. Pode até ser que estivesse escutando meio pela metade, mas seus olhos estavam bem abertos, e se arregalaram ainda mais quando viu seu pai na cama com outro homem, segundo relembrou em entrevista à revista “IstoÉ Gente”,

em 2003. O nível do choque subiu um pouco quando ele percebeu que a transa era com o tio, irmão de sua mãe. Ou seja, tudo em família."