Yzalú

“Minha Bossa é Treta” injeta suingue no rap 

Cantora paulista lança primeiro disco, com discurso feminista e inédita de Sabotage

Por LUCAS SIMÕES
Publicado em 14 de março de 2016 | 03:00
 
 
Discurso. Yzalú faz discurso feminista e versa com habilidade sobre cotidiano, preconceito e amor rogério fernandes/divulgação

Yzalú não é só uma poeta atenta e veloz, negra, da periferia de São Paulo, cantora há mais de 15 anos. Seus versos se equilibram entre a linha política e lírica. “Meu violão discursa, neguin, disparando métrica, sim. Foi no rap que aprendi. O rap, tio, me tirou do mundo frio”, ela recita sob a batida de um violão suingado ou de um solo de sax ou de um beat gangsta. Não há amarras para o rap em “Minha Bossa é Treta”, estreia assertiva de Yzalú no mercado fonográfico.

O título provocativo de seu primeiro disco traduz uma cantora bem talhada entre a acidez e a doçura, que não recorre a eufemismos para se expressar delicada ou agressivamente. Uma bela descoberta de representante forte da nova geração do rap nacional.

“Minha Bossa É Treta” fez muito barulho por conter uma inédita de Sabotage, cedida pela família do rapper para que Yzalú cantasse. “Figura Difícil” é daquelas pedradas certeiras do Maestro do Canão, que parece falar sobre os dias de hoje – ainda que faça referência ao início dos anos 2000. Mas não é a melhor do disco, com todo o respeito a Sabotage, claro, que ainda participa com uma mixagem de voz em uma faixa bônus, remixada com seu vocal.

É que Yzalú não precisa do respaldo de ninguém para brilhar com um discurso feminista de mulher negra, ao mesmo tempo em que consegue versar com habilidade sobre sentimentos abstratos do cotidiano e relacionamentos amorosos.

Com 12 faixas produzidas por Marcelo Sanches, Yzalú insere o violão na espinha vertebral do rap, logo na abertura, com “Alma Negra”, suingada por um soul bem a cara de Tim Maia. A faixa título expõe um flow veloz da cantora, que chega a lembrar Criolo nos versos desembolados numa sequência de fôlego impressionante: “essa é nossa herança, mermão, presta atenção. Eu sei que somos resultado de um produto fabricado, bem selado, barra sem código”.

“Teu Sorriso”, a mais lírica do álbum, com participação do rapper Pazsado, fala de amor sem recorrer a métricas ou vocabulários clichês. “Ao teu lado eu me sinto a mais bela menina de Angola, a mulher verdadeira”, diz a letra em cima de um beat sensual e cadenciado.

O vocal sem exageros de Yzalú, com uma voz limpa, aguda e ao mesmo tempo firme e decidida, coroa as letras intensas escritas por ela. Uma combinação que faz dessa artista mais do que uma MC. Yzalú faz rap, mas tangencia a canção ao mostrar ter suingue popular natural e talento de sobra para rimas e sons radiofônicos nada óbvios.