Inverno das Artes

Muita cultura para aquecer os corações

Segunda edição do evento leva ao Palácio das Artes, a partir de hoje, nomes que vão de Filipe Catto a Gilberto Gil

Por Lucas Buzatti
Publicado em 01 de julho de 2016 | 03:00
 
 
Vanguarda. Ícone da Vanguarda Paulistana, Arrigo Barnabé (ao centro) apresentará uma reedição do clássico álbum “Clara Crocodilo” (1980), no dia 30 de julho, no Grande Teatro Rubens Matto/divulgação

Traçar uma enxuta linha do tempo de movimentos culturais brasileiros por meio de uma vasta programação artística. Foi esse o eixo curatorial que guiou a segunda edição do Inverno das Artes, que começa nesta sexta-feira (1) e vai até 1º de agosto, no Palácio das Artes. Realizado pela Fundação Clóvis Salgado (FCS), o evento traz a Belo Horizonte artistas de distintas gerações e linguagens, tais como Gilberto Gil e Jorge Mautner, Tom Zé, Arrigo Barnabé, Paulo Braga, Eduardo Dussek, Simone Mazzer, Filipe Catto e Cida Moreira. Completam a diversificada programação nomes promissores da música brasuca contemporânea, como Lineker e Duda Brack.

O presidente da FCS, Augusto Nunes-Filho, conta que o evento surgiu em 2015 e foi incorporado à programação anual do Palácio. “O Inverno das Artes surgiu de uma reunião de diretoria, no ano passado, quando comentamos que o mês de julho é muito parado em Belo Horizonte. Não oferece muitas opções de lazer, as pessoas não saem de casa. Pensamos, então, em ocupar o Palácio às segundas-feiras, e convidamos músicos autorais, independentes, com trabalhos consistentes”, relembra. “No meio do processo, vimos que era um projeto de muita potência, que poderia ser ampliado. E, já no começo do ano, pensamos no formato dessa segunda edição, que terá um cardápio cultural bem interessante”, completa o gestor.

Para a segunda edição do Inverno das Artes, a cúpula da FCS buscou referências que vão desde o barroco mineiro até a música contemporânea, passando pelo modernismo, o tropicalismo, a vanguarda paulistana e o cinema underground. “O legal é que teremos artistas jovens, que estão despontando agora, e também pilares da nossa cultura, que mostram as fontes de onde essas revelações beberam”, comenta Nunes-Filho. “A ideia é contar um pouco da história da nossa cultura através dos convidados, que trarão espetáculos autorais, criativos e muito irreverentes”, completa.

Abrindo a programação, o Coral Cidade dos Profetas, de Congonhas, realiza, nesta sexta-feira (1), na Sala Juvenal Dias, um concerto focado na música sacra, especialmente a colonial mineira. “Eles são especialistas em música barroca. Tive a oportunidade de ver um concerto em Matozinhos e fiquei impressionado. Estão fazendo um resgate belíssimo de partituras de compositores menos conhecidos dessa época. Então, achamos que seria uma grande homenagem às nossas raízes musicais”, comenta o presidente da FCS.

Amanhã, no Grande Teatro, é a vez do cantor gaúcho Filipe Catto dividir o palco com Cida Moreira, uma das vozes mais autênticas da vanguarda paulista. “Esse show, que se chama ‘Eviscerados’, já está na estrada há uns três anos. Como o nome diz, é um espetáculo visceral, em que a gente canta o que gosta, um para o outro, e também para o público”, conta Filipe Catto. “É muito intimista, ela no piano e eu cantando. Um show muito cru, verdadeiro. Cantamos de Chico Buarque a Rolling Stones, de Caetano a Angela Ro Ro, de Prince a canções populares brasileiras de domínio público. É um repertório que parece desconexo, mas que se conecta, exatamente, na emoção”, completa.

Para Catto, alguns destaques do show estão em músicas como “Angel”, dos Stones; “Querido Diário”, de Chico Buarque; “Sinal Fechado”, de Paulinho da Viola; e “This Is The Girl”, de Patti Smith. “Tem também um momento lindo, que é quando fazemos um medley de três canções interioranas, que são ‘Caicó’, ‘Cuitelinho’ e ‘Linda Flor’. São músicas muito antigas, que falam do coração, da terra”, diz Catto, reverenciando sua parceira de palco. “A Cida é uma das artistas mais autênticas do Brasil”, assinala.

O gaúcho celebra, ainda, a oportunidade de dividir a programação com artistas de sua geração, como Duda Brack, Simone Mazzer e Lineker. “Estamos vivendo um momento muito bonito e forte, em que o trabalho de um artista fortalece o do outro”, sublinha Lineker, que se apresenta com o parceiro Chicão na Juvenal Dias, no dia 11 de julho. Mineiro de Bambuí, radicado em São Paulo, ele se anima com a chance de cantar em BH. “Vai ser minha primeira vez na cidade, como cantor profissional. É uma oportunidade incrível, ainda mais num lugar especial como o Palácio”, diz.