Sexismo

Mulheres ainda são ponto fraco 

Redação O Tempo

Por DANIEL OLIVEIRA
Publicado em 21 de setembro de 2014 | 03:00
 
 
Cotada para estrelar um filme solo, Scarlett Johansson interpreta a Viúva Negra de "Os Vingadores" Divulgação

Uma das principais críticas feitas ao universo da Marvel é a inexpressividade, ou simples inexistência, de personagens femininas bem desenvolvidas. Em entrevista algumas semanas atrás, a atriz Jessica Chastain criticou abertamente o estúdio por Scarlett Johansson, que acabou de estrelar um sucesso de US$ 200 milhões com “Lucy”, ser uma das únicas dos Vingadores que ainda não teve seu filme solo.

“40% do público do ‘Guardiões da Galáxia’ foi de mulheres, e elas não foram ali para ver o Peter Quill com tanquinho de fora”, reclama a colorista Cris Peter. Ela lembra que, há alguns anos, o mercado editorial de quadrinhos se encontrava em crise e foi esse novo público trazido pelo cinema que salvou a indústria, portanto ele não pode ser ignorado.

A colorista acredita que personagens femininas são mal desenvolvidas em todas as mídias, e que os filmes são até melhores no quesito objetificação/sexualização que as HQs. A regra só é quebrada com produtos estereotipados e, para Peter, ao contrário do que se pensa, mulheres não querem ver só comédia romântica. “Eu cresci vendo filme do Schwarzenegger, Stallone, e tive que me acostumar a me identificar com personagens masculinos porque só tem mulher atrapalhando e gritando”, pontifica.

Ela enxerga até mesmo em “Guardiões”, que traz a alienígena Zamora (Zoe Saldana) como uma de suas protagonistas, vários dos problemas que povoam o gênero. “Um, tem vários ‘butt shots’ dela saindo de costas o tempo inteiro. Dois, ela sofre da síndrome de Smurfete de ser a única mulher no meio de um bando de homem. E três, por que ela tem que ser a chata carrasca com um bando de idiotas? Por que ela não pode ser engraçada e entrar na galhofa?”, questiona.

Por sinal, o sucesso dirigido por James Gunn é, segundo Peter, o maior argumento contra a justificativa dada por executivos e estúdios de que filmes estrelados por heroínas não fazem sucesso. “Eles pegaram um bom diretor e bons roteiristas, com um orçamento de ponta, e tornaram uma HQ que ninguém conhecia em um sucesso retumbante. Aí, fazem ‘Mulher-Gato’ e ‘Elektra’ com o trocado que sobrou, diretores e roteiristas péssimos, ninguém gosta, e eles culpam a personagem”, analisa, apontando a Capitã Marvel como uma personagem esperando para se tornar um sucesso.

Não por acaso, “Elektra” é quase uma unanimidade entre os críticos como o pior filme da Marvel até hoje. Para a colorista, a mudança tem que começar nos próprios quadrinhos, em que a maioria dos roteiristas ainda é homem. Peter explica que muitas meninas competentes ficam intimidadas porque vão fazer entrevista, mostrar seu trabalho e acabam levando cantadas. “Mas não pode, tem que cortar, passar por cima e fazer o que elas já vêm fazendo na internet. Não estamos mais no século XVII. Temos dinheiro para gastar. As editoras têm que fazer alguma coisa para ficar com ele”, provoca. (DO)