Karina Buhr

O discurso de uma leoa em busca de justiça

Cantora baiana lança “Selvática, manifesto feminista em disco, com rock e gritaria

Por LUCAS SIMÕES
Publicado em 05 de outubro de 2015 | 03:00
 
 
Feminismo. Karina Buhr foi censurada pelo Facebook por mostrar os seios na capa de “Selvática” priscilla buhr/divulgação

Da nova geração de mulheres que empunham microfones no Brasil, a baiana de criação pernambucana Karina Buhr é o melhor exemplo de uma artista que soube amplificar sua poesia a multidões, mesmo estando contra a maré o tempo inteiro. E do seu próprio universo regional, que não se curvou ao eixo hype entre o Rio de Janeiro e São Paulo, ela inflama milhares de vozes do Oiapoque ao Chuí com a necessidade em falar de opressões que parecem toca-la em carne viva. Pelo menos é essa a sensação que o estonteante “Selvática” (YB Music) transmite em guitarras agressivas de punk rock, peitando o machismo com um berro animal contra a histórica subserviência da mulher ao homem.

Cria de um conceito popular novo, movido por financiamentos coletivos poderosos na internet, Karina Buhr conseguiu R$ 40 mil dos fãs para bancar o álbum. E ganhou apoio do MinC quando o Facebook de Mark Zuckerberg tentou censurar seus seios na capa tão necessária de “Selvática”.
Para guiar um manifesto feminista em formato de disco, Karina Buhr tomou como base para seu discurso passagens da Bíblia, recortando os infindáveis trechos em que a mulher é subjugada ao homem, marcada por traições, culpas e pecados.

E a partir da imagem de mulheres dominadas por regimes patriarcais, ela compara a exploração de animais descritos nos textos sagrados com os abusos às mulheres, criando assim as selváticas, ou uma legião de feministas prontas para peitar a servidão ainda tão pungente hoje.

FOTO: Reprodução/ Facebook
Censura para foto da capa de álbum gera onda de apoio à cantora Karina Buhr


Nesse contexto, aparecem canções como “Eu Sou Um Monstro”, em que a baiana coloca as garras de fora pela primeira vez: “hoje eu não quero falar de beleza / ouvir você me chamar de princesa / eu sou um monstro”. Em “Pic Nic”, ela enfatiza ainda mais o discurso (“não quero saber porque você veio / nem de sua cerveja, seu gelo / sua ganância”) para selar sua punhalada no machismo com a ópera-rock “Selvática”: “agora és dela a espada, e não o algoz / ela come a selva de fora / ela vem da selva de dentro”.

Da sonoridade, Buhr mantém experimentações que marcam sua atitude desde a estreia, com o também peitudo “Eu Menti Pra Você” (Independente/Tratore, 2010). Nas guitarras, ela conta com Edgar Scandurra, Fernando Catatau e Manoel Cordeiro para estufar o timbre punk.

Mesmo diante de porradas fortes, Karina Buhr ainda destila uma doçura em cima de arranjos tropicais e rodas de ciranda, em canções de amor como “Desperdiço-te-me” e “Dragão”. Eis, assim, uma fina flor inspirada e pronta para disparar espinhos, caso pisem em seu calcanhar ou tentem obriga-la a vestir a blusa.

 

Ouça o single 'Eu sou um monstro', de Karina Buhr: