Política

O futuro da cultura em Minas

Grande número de exonerações em cargos comissionados do Estado preocupa público, artistas e produtores

Por Gustavo Rocha
Publicado em 09 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 
Mariela Guimarães

Preocupados com os rumos das emissoras públicas de rádio e televisão no Estado de Minas Gerais, após a exoneração de cerca de 35% dos funcionários da Rede Minas e da saída de Elias Santos da rádio Inconfidência, um grupo de ouvintes da rádio – liderados pela paraense Diana Mourão – convocou uma reunião, anteontem, na casa de shows A Autêntica.

O objetivo ia além de uma conversa sobre o futuro dos dois veículos: o debate englobava um quadro mais amplo e complexo da cultura no Estado, na gestão do governador Romeu Zema, iniciada no dia 1º de janeiro deste ano. 

“Existe uma grande preocupação diante desse momento de desaparelhamento de alguns equipamentos da cultura em Minas, como as exonerações ocorridas nas emissoras e o esvaziamento da Secretaria de Cultura. Pensando a cultura como uma cadeia de trabalho, é um setor que está sendo afetado, e precisamos nos alinhar e traçar possíveis ações”, comenta Luh Pantoja, produtora cultural, que esteve presente na reunião.

Parte do movimento se dá principalmente por conta da gestão de Flávio Henrique (1968-2018) e, depois, Elias Santos, à frente da Inconfidência, período considerado exemplar pelos ouvintes.

“Minha relação se intensificou na gestão deles à frente da rádio. Sobretudo com o programa ‘Casa Aberta’, em que o ouvinte participa ativamente. Chama nossa atenção a capacidade da rádio de agregar vários segmentos da sociedade, de levar a periferia para o asfalto e vice-versa. Além da valorização da música que é produzida em Minas”, comenta Diana Mourão.

A iniciativa ganhou proporções maiores e atraiu produtores e artistas de Belo Horizonte, que também compareceram ao encontro. Roger Deff, rapper e apresentador do programa “Rimas e Records”, da Inconfidência, considera importante manter uma mente aberta para conversar com o novo governador e vislumbrar um horizonte otimista.

“É preciso encarar que o governador é Romeu Zema e, embora ele não tenha apresentado um plano para a cultura durante a campanha, é um alento saber que seu vice é Paulo Brant e que ele vai assumir a pasta da Cultura. Vemos isso com otimismo moderado”, comenta Deff.

É bom lembrar que Paulo é irmão de Fernando Brant (1946-2015), músico, escritor e figura importante no Clube da Esquina. Paulo já foi secretário de Cultura do Estado na gestão de Aécio Neves, entre 2008 e 2010. “Ele (Paulo) vem de uma história ligada à música. Entendemos como ponto para possível diálogo”, completa o rapper.

Após os ânimos acirrados por conta das eleições, os artistas e produtores entendem que é hora de procurar um tom conciliatório pensando no futuro. “Não queremos enfrentamento, queremos trabalhar de mãos dadas, entendendo qual é a visão da nova gestão para a gente se posicionar”, garante Luh.

“A cultura é uma força política importante. No caso da música, temos a tradição de mobilização política que já gerou diálogos com o Estado anteriormente, que deu origem ao programa Música Minas. Além disso, a cultura também é um campo econômico que gera empregos diretos e indiretos e movimenta dinheiro. Em um momento de crise, no Brasil e no mundo, não perceber esse setor com seu potencial econômico é subestimar sua força”, completa o rapper.

Exonerações

Os cortes de cargos comissionados na nova gestão não foram exclusividade das emissoras públicas. Na reunião de segunda, Israel do Vale – agente cultural e ex-presidente da Rede Minas – revelou que o setor que lida com Lei Estadual de Incentivo à Cultura teve metade dos seus funcionários dispensados. Estima-se que dos 400 funcionários do Palácio das Artes, apenas 32 permaneceram. Na Biblioteca Pública Luiz de Bessa, 75% do quadro foi demitido, e no Iepha, 50%.

A reportagem entrou em contato com o Governo para falar sobre o assunto, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.