“Na Plateia do Mundo”

O legado crítico de Sábato

Novo livro apresenta 200 críticas teatrais de espetáculos estrangeiros produzidas pelo pesquisador mineiro

Por Joyce Athiê
Publicado em 10 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
Novo livro de Sábato Magaldi é dedicado aos textos que o crítico escreveu sobre peças teatro estrangeiras que ele presenciou ALEX SILVA/AE - 14.4.2007

Depois de reunir, em 1.328 páginas, as críticas de Sábato Magaldi (1927-2016) publicadas no “Jornal da Tarde” entre 1966 e 1988, refletindo sobre o teatro brasileiro, a escritora Edla van Steen, viúva do crítico e organizadora do seu trabalho, torna público outro vigoroso esforço.

Dessa vez, ela publica as palavras de Sábato sobre companhias e cenas teatrais estrangeiras. Além das edições do “JT”, o livro “Na Plateia do Mundo”, publicado pela Global Editora, traz também textos veiculados pelo “Diário Carioca” de 1950 a 1953. Embora Edla confesse que Sábato nunca pensou em publicar os textos em livro, seu debruçamento sobre a obra do crítico se iniciou ao lado dele.

“Quando ele estava vivo, pesquisei tudo que ele tinha escrito sobre teatro brasileiro, que era sua grande paixão. Reunimos tudo em ‘Amor ao Teatro’. Um trabalhão. O ‘Jornal da Tarde’ até hoje não foi digitalizado. Um ator, Wesley Leal, me ajudou, indo ao jornal fotografar as críticas publicadas de 1981 a 1988, que Sábato não guardou. Como nós ficamos casados mais de 38 anos, a minha vivência ao lado dele me fazia lembrar de espetáculos e eu ia atrás. Ele ficou feliz ao ver o livro pronto e, apesar da idade e dos problemas de saúde, compareceu ao lançamento e assinou, por mais de três horas, todas as dedicatórias”, relembra.

Durante a pesquisa de “Amor ao Teatro”, dedicado à produção cênica brasileira, Edla decidiu separar críticas de Sábato sobre o teatro estrangeiro em uma segunda publicação. “Aos 24 anos, quando ele começou a publicar no ‘Diário Carioca’, já estava pronto como crítico, apontando qualidades e defeitos de espetáculos franceses, italianos, ingleses e outros. Ele foi para a França fazer um curso de estética e teve a sorte de assistir e elogiar as estreias das primeiras peças de Jean Genet e Eugène Ionesco”, afirma.

Edla conta que, além de assistir aos espetáculos, na rotina de Sábato estavam também horas dedicadas à leitura de peças teatrais, à escrita de prefácios, às aulas de história do teatro e legislação teatral na Escola de Comunicação de Artes da Universidade de São Paulo (USP) e orientação a teses de doutorado, participação em seminários de dramaturgia e orientação a autores.

“Ele não se limitava a escrever sobre as montagens. Sempre foi cúmplice do teatro. Ele jamais ia assistir a um espetáculo achando isso ou aquilo. Às vezes, a montagem de um clássico de Shakespeare, por exemplo, no Brasil, recebia entusiásticas palavras, e a mesma peça montada pela Comèdie ou pelo Old Vic ganhava justas restrições”, completa Edla.

Além de um registro das palavras e do pensamento teatral de Sábato, o livro revela outras questões como, por exemplo, o escasso diálogo e as precariedades das condições de circulação de espetáculos dos países latino-americanos. “Na Plateia do Mundo” traz, em sua maioria, um registro sobre companhias europeias.

“Talvez ele tenha escrito mais sobre teatro europeu porque ia mais à Europa, onde aliás moramos por quatro anos, quando ele foi lecionar na Sorbonne, em Paris, e na Universidade de Aix-en-Provence, no sul da França. Os países latino-americanos não costumam convidar os críticos brasileiros para verem seus espetáculos ou lecionar em suas universidades. Os festivais internacionais de teatro, organizados por Ruth Escobar, trouxeram muitos espetáculos dos países vizinhos. Sábato escreveu sobre todos”, conta.

Acervo. Nascido em Belo Horizonte em 1927, Sábato estudou direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Apenas em 1949, ele deixou a capital mineira para criar morada no Rio de Janeiro, França e São Paulo, onde tornou-se professor emérito na Escola de Comunicação e Artes da USP. Os laços natais, no entanto, foram fundamentais para que Edla decidisse doar todo o acervo do crítico para a UFMG.

“Tenho certeza de que ele ficaria satisfeito com a escolha. Sábato sempre teve orgulho de ser mineiro. Doei tudo: correspondência, originais das críticas, fotos, quadros. Em algum momento, esse acervo vai poder ser consultado e espero que a biblioteca primorosa nos assuntos teatrais possa ser útil aos alunos dos cursos de teatro”, pontua Edla.

Publicação

“Na Plateia do Mundo”
Sábato Magaldi
Global Editora
472 páginas
R$ 59

FOTO: acervo pessoal
Autora Edla van Steen organizou os textos de Sábato Magaldi