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O show espetáculo do U2

Lançado em DVD Live from Mexico City, da turnê PopMart, a mesma que trouxe a banda irlandesa pela primeira vez ao Brasil, em 1998

Por RICARDO BALLARINE /ESPECIAL PARA O TEMPO
Publicado em 20 de dezembro de 2007 | 17:05
 
 
Lançado em DVD "Live from Mexico City", da turnê PopMart, a mesma que trouxe a banda irlandesa pela primeira vez ao Brasil, em 1998 ASSOCIATED PRESS

Em 1997, quando a música pop começava a experimentar o auge da eletrônica e presenciava a invasão das batidas por minuto em outros estilos, surgiu a notícia de que o U2 iria lançar um álbum recheado de samples e guiado pela dance. O primeiro single, "Discothèque", confirmava os boatos. Não só pelo nome, mas também pela música, uma espécie de embrião do "electro- rock".

Em seguida, o tal álbum foi lançado. "Pop" não era exatamente um trabalho eletrônico, mas ampliava as experimentações iniciadas em "Achtung Baby" e "Zooropa". Trazia baladas ("Staring at the Sun" e "If God Will Send His Angel") e explorava os caminhos que a eletrônica proporcionava na época - além do "Discothèque", "Mofo" e "Miami". O U2, então, foi para a estrada.

A turnê PopMart começou com uma mistura de desconfiança e fidelidade. Com um repertório que não entusiasmava, o sucesso das obras anteriores garantia público nos shows. O disco novo não vingou, só que uma estrutura imensa e modernosa já havia sido criada para promover "Pop". Aos poucos, o U2 mudou a seleção das canções apresentadas ao vivo, abriu o baú para reverter as primeiras impressões e começou a deixar de lado as novas composições.

PopMart pretendia ironizar o consumismo. Um arco amarelo estilo McDonald’s e um telão no fundo do palco, que tomava toda a cena, impressionavam pelo gigantismo. Um clima de anos 70, à la Village People, no figurino, mais as animações de Roy Lichtenstein e Keith Haring, formavam um pacote que varreu o mundo. E, pela primeira vez, o Brasil incluso. A PopMart pousou por aqui em 1998, para dois shows em São Paulo e um no Rio de Janeiro.

Essa turnê chega agora no DVD "PopMart - Live from Mexico City". O show gravado na Cidade do México no final de 1997 e lançado em 1998 em VHS capta toda a pompa, grandiosidade, pretensão de criticar um modo de vida de excesso e um repertório irregular. Características que podem ser reconferidas em mídia digital.

O show, como espetáculo, funciona. O cenário e os apetrechos eletrônicos dão clima de cabaré ao som de rock. Números como "Pride", "Where the Streets Have no Name", "I will Follow" e "New Year’s Day" soam como intrusas em meio ao ambiente criado para a PopMart, mas funcionaram ao vivo. Foram essa canções que garantiram a empatia com o público - se bem que, tanto no México como no Brasil, o repertório era irrelevante quando comparado a assistir pela primeira vez à banda ao vivo. "Last Night on Earth", "Gone", "Please", músicas de "Pop", passaram em branco.

"Pop" se revelou um trabalho que, dez anos depois, ainda não disse a que veio. Suas canções sem força sumiram das duas turnês seguintes ("Elevation" e "Vertigo"), o que pode indicar que até a banda tenha colocado em xeque o disco - na coletânea "18", lançada no ano passado, nenhuma música desse disco foi incluída. Era um trabalho indeciso, pretensioso e sem inspiração, que levou o U2 a uma parada de quase três anos, até o lançamento de "All that You Can’t Leave Behind", saudado em 2000 como uma volta às origens. Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. esqueceram as ilusões eletrônicas, voltaram às guitarras e melodias e prepararam uma turnê sem cenário. Era a resposta aos excessos de PopMart, que pretendia, por sua vez, continuar a explosão de excessos da "Zoo TV", criada numa época em que a tecnologia começava a dominar os meios de comunicação.

PopMart que existiu na fronteira dessa alta tecnologia. Em 1997, a Internet engatinhava, o celular era restrito e o CD dominava a indústria fonográfica - mp3 era uma sigla que acabara de sair do laboratório. Como comparação, no show do México, Bono pede que as luzes se apaguem no final de "With or without You". Então, o público acende os isqueiros para criar um impressionante mar de fogo. Já em 2006, com o show da Vertigo Tour, que também passou pelo Brasil, o mesmo Bono pede, em "One", para que as luzes se apaguem e o público erga seus celulares...

O DVD nacional é simples, sem extras. No exterior, foi lançada uma edição dupla, com faixas extras, clipes, um documentário sobre a passagem da banda em Sarajevo e a concepção da turnê.

"Live from Mexico City" é o penúltimo exemplar dos shows lançados em VHS a ganhar versão digital. Falta "Under a Blood Red Sky - Live at Red Rocks" (lançado em 1994), show do álbum gravado em 1983, quando a banda ainda engatinhava nos Estados Unidos, fazia uso da música como forma de protesto - nesse vídeo está a cena de Bono marchando com uma bandeira branca ao som de "Sunday Bloody Sunday" - e ainda olhava o mundo com certa ingenuidade.

Depois, ao descobrir a América, os irlandeses apimentaram o perfil com um pouco de cinismo. O mundo ficou aos pés do U2, desde então.

AGENDA - "Live from México City". U2, Universal. Preço médio: R$ 45 (simples, nacional) e R$ 130 (dupla, importada). A edição importada pode ser encomendada em www.livrariacultura.com.br