Estilo

O texto de Hornby e a questão dos gêneros literários

Redação O Tempo

Por THIAGO PEREIRA
Publicado em 04 de agosto de 2013 | 03:00
 
 

É comum Nick Hornby ser catalogado como um autor de “literatura pop”, embora esse seja um termo de difícil precisão acadêmica. Alguns pesquisadores inscrevem no gênero obras que subvertem a linguagem por meio de experimentações. Mas o uso comum do termo se refere a autores diversos (como Roberto Drummond, Manuel Puig e Anne Tyler) que carregaram para a literatura aspectos da banalidade cotidiana – sem, em nenhum momento, tratar isso como banal – fazendo uma espécie de mediação entre os dois mundos, via citação, intertextualidade e outros recursos. Hornby parece se situar nesse grupo.


Para Márcio Serelle, a obra de Hornby pode ser dividida, a grosso modo, em sua prosa ensaística e em sua prosa romanesca. “Na primeira, incluiria livros como ‘31 Canções’ e ‘Frenesi Polissilábico’, em que é possível apreender, de forma mais direta, as ideias dele acerca, principalmente, da música e da literatura”, explica.

“Sobre a prosa, Hornby se diz ‘não interessado em linguagem’, isto é, não afeito a experimentações literárias como as de corte modernista”, separa. O que de alguma forma posiciona-o como um romancista realista. “Ele talha seu romance como se fosse, na metáfora dele, uma janela transparente e simples, por meio da qual os leitores alcançam os personagens. Seu projeto é, nesse sentido, realista, pois, para falar com Peter Gay, trata-se de erguer, em diálogo com a cotidianidade e os costumes, um espelho (sempre distorcido, é claro) das pequenas criaturas e seus mundos modulados pelo pop. Esses compõem a outra vertente da literatura de Hornby, em que temos, além de ‘Alta Fidelidade’, ‘Um Grande Garoto’, e outros livros”.

Todos parecem concordar que a ideia de construir seus personagens visando o pop como um dispositivo de identidade pouco valeria se ele não fosse um bom escritor. “Se destaca a conexão com o pop, mas há, sim, um grande romancista”, atesta Costa. “Ele usa ferramentas para atingir um grupo ‘x’ de pessoas, mas são apenas ferramentas. O que move o leitor é sua prosa e história envolventes”.

Para Schwartz, Hornby lança mão de um interesse comum, extra-literário, entre seus leitores. “O que não significa que não tenha grande talento como romancista: ninguém cria aquela ‘voz’ tão original, autêntica e coloquial, sem ser um ótimo escritor”, elogia.