Teatro Francisco Nunes

O velho novo palco do teatro  

Palco de shows históricos, antigo espaço é reaberto após cinco anos fechado e ainda não se sabe como será gerido

Por gustavo rocha
Publicado em 06 de maio de 2014 | 03:00
 
 
12 milhões. É o valor estimado da reforma que teve contou com parceria da Unimed-BH [CREDITO]joão godinho

A reabertura oficial do Teatro Francisco Nunes hoje para receber o espetáculo “Prazer”, apenas para convidados, dentro da programação do Festival Internacional de Teatro, FIT–BH, é cercada por uma série de questões. A primeira delas é a perplexidade da classe artística e da população da cidade pelo período tão longo fechado: cinco anos – justamente quando o prefeito Marcio Lacerda assumiu seu primeiro mandato de prefeito da cidade. Outra é como será a política de venda de ingressos e de ocupação do teatro, já que contou com uma parceira do setor privado, a Unimed-BH, em sua reforma, que custou R$ 13 milhões.

Se o teatro falasse por si, ele contaria do tempo de sua intensa programação – musical, principalmente – que ele recebia na década de 1970. Elis Regina, Baden Powel, Caetano Veloso, Fernanda Montenegro são apenas alguns dos muitos que pisaram no palco do “Chico” Nunes.

Falaria ainda do próprio FIT, que durante muitos anos foi produzido em uma das salas do teatro, quando seu diretor, Carlos Rocha, respondia pela coordenação geral do festival. Nele o público pôde ver “Noite de Reis”, dos suecos do Bakka Theatre, o grupo espanhol Teatro La Pupa, a Companhia dos Atores com “Melodrama” e tantos outros

Os anos dourados dos shows musicais do Chico Nunes respondem por um nome: Tutti Maravilha. A trajetória profissional do produtor está colada intimamente com a história do Teatro Francisco Nunes, que foi batizado a princípio como Teatro de Emergência por ter sido construído às pressas, em 1950, uma vez que a cidade andava carente desse tipo de espaço, após o fechamento do Teatro Municipal. Nos anos 1970, ganhou a aura de reduto da MPB na cidade. “O Chico Nunes era o point. Eu me lembro de, antes mesmo de ser produtor, ter ido assistir a Os Mutantes, ‘Hair’ e a Fernanda Montenegro lá”, relembra.

Hoje totalmente reformado – com poltronas, sistema de ar condicionado, tratamento acústico, sistemas de som e iluminação novos – nem parece aquele cujo forro “falso” de eucatex não suportou o peso excessivo e chegou a cair. O incidente, ocorrido nos anos 1970, quando o Francisco Nunes era o maior teatro da cidade, é lembrado pelo hoje radialista Tutti Maravilha.

“Era um show dos Novos Baianos e nós reservamos aquele dia especialmente para uma calourada da PUC. Mas eu os avisei que deveriam distribuir apenas mil ingressos. Eles distribuíram quase 3.000. Com o teatro superlotado e uma multidão do lado de fora, o Pepeu convidou a turma para subir na beirada do palco, que obviamente não aguentou o peso. Eu me lembro de levar gente para o pronto socorro ali perto”, revela Tutti.

Em tempos diferentes da produção de shows de grandes artistas, em que o profissionalismo extremo dos dias de hoje era substituído por um boa dose de bom humor e relações mais afetuosas, Tutti revela histórias inusitadas de gente famosa. “Eu sou de um tempo em que não se fazia shows com cachê fixo, a gente dependia da bilheteria e não tinha projeto para patrocinar a vinda dos artistas. Eu abria as cortinas do palco, corria para a bilheteria para fechar o borderô e, no final de tudo, pagava os artistas no camarim”.  

A relação carinhosa com o “velho Chico” segue muito viva – “eu me emociono sempre que vou lá”, revela. Mas se da parte de Tutti, o amor pelo espaço segue intacto, os gestores parecem não devolver na mesma moeda: Tutti sequer foi convidado para a recente solenidade de reabertura do teatro. “Eu fiquei sabendo pelo jornal que o teatro iria reabrir. Mas eu entendo. Essas história do Teatro Francisco Nunes que conto são de tanto tempo. Essa gente que está aí não deve nem saber quem eu sou”, lamenta ele.