Artes visuais

Olhares voltados para o hábito

Artista plástica Andrea Lanna celebra 35 anos de carreira com pesquisa permanente sobre o sentido da arte

Por Letícia Fontes
Publicado em 16 de março de 2018 | 03:00
 
 
Processo. Mostra inédita reúne 200 obras, entre pinturas, esculturas e um painel Orlando Bento/divulgação

Em 2015, durante o processo de doutorado, a artista plástica mineira Andrea Lanna mergulhou em uma série de trabalhos para tentar entender o que ocorria em seu processo criativo. Percorrendo suas anotações, encontrou não apenas uma forma de registrar os pensamentos, mas uma metodologia: a disciplina. “O trabalho do artista tem que ser disciplinado, na verdade, um hábito. O fazer tem que ser cotidiano, rotina, que de tanto se repetir se encontra a diferença. A finalização? Não tem, cada dia um novo recomeço”, pondera ela.

E foi assim, de maneira espontânea, que as reflexões de Andrea, ou seja, na verdade a dedicação, resultaram em 200 criações inéditas que podem ser conferidas na exposição “Calendário”, aberta a partir de sábado (17) na galeria de arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube.

Celebrando 35 anos de carreira, a artista reuniu pinturas, letras em bronze e um grande painel, sob direção artística do professor e também artista plástico Roberto Bethônico.

Professora da Escola de Belas Artes da UFMG, Andrea traz trabalhos que foram construídos por conceitos operatórios originados a partir das mais diversas vivências, na pesquisa do ateliê e na academia. A inspiração, segundo ela, foi realmente a cronologia, a começar pela infância no litoral fluminense.

“A referência começou na paisagem e no imaginário que tinha da minha vida e de Niterói, onde ia muito com a família, nas flores e na paisagem e, a partir disso, extrapolei. Nesse processo de montagem, me ocorreu a compreensão dessa disciplina ininterrupta, que se impõe e é necessária tanto para realizar uma tese, quanto para construir uma série em arte”, explica. “O artista hoje não precisa ficar dividido, as coisas se sobrepõem. Tem que atuar em muitas instâncias”, acrescenta.

Andréa fez sua primeira exposição em 1982, e, logo na estreia, já recebeu elogios do escultor e professor Amilcar de Castro (1920-2002). “Entre frutas, peixes e mulheres caricatas, nascerá uma pintora”, ele disse. De lá para cá, foram 25 exposições coletivas e nove individuais. “Se você for pensar, 35 anos em termos de arte não é nada. Essa trajetória marca também um recomeço, que agora, partindo do zero, é um incentivo a continuar”, sintetiza.

Para pensar. A intenção com as imagens é abrir acesso a outros campos da percepção, segundo Bethônico. O diálogo estabelecido entre as obras convida o público a ir além. “Andrea tem relação forte com a pintura e sempre foi uma pintura visceral, forte carregada de expressão. Buscamos colocar isso também no espaço. O trabalho vai crescendo e evoluindo dando a ideia de sequencia e raciocínio, até quando em uma sala, as obras se abrem e com a luz do dia se renovam. Quem sabe não surge um novo trabalho a partir daí?”, reflete Bethônico. “Não só pela questão da amizade, mas minha singela contribuição é incentivá-la, poder impulsionar o trabalho adiante. Que os estudos e as pesquisas nunca acabem”, completa ele.

Agenda

O quê. Exposição “Calendário”.

Quando. De terça a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Até 13 de maio.

Quanto. Entrada franca.