Batendo bola com o folclore

Orquestra Sinfônica de Minas prepara show especial no Cine Brasil

Orquestra Sinfônica de Minas Gerais se apresenta amanhã dentro da programação do Verão Arte Contemporânea

Por THIAGO PEREIRA
Publicado em 12 de fevereiro de 2014 | 04:00
 
 
Homenagem. Orquestra Sinfônica inicia suas homenagens ao centenário do compositor Guerra-Peixe amanhã, no Cine Theatro Brasil Paulo Lacerda - Fundação Clóv

O programa preparado pela Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG) para a apresentação de amanhã, no Cine Theatro Brasil, é especial por jogar luz nas criações de Heitor Villa-Lobos (“Bachianas Brasileira No 7”) e principalmente César Guerra-Peixe (“Concertino Para Violino e Orquestra de Câmera”), cujo centenário de nascimento se comemora este ano. “Esta última é uma peça pouco executada por aqui, tem caráter quase inédito”, garante Marcelo Ramos, maestro regente da OSMG. “A apresentação no festival Verão Arte Contemporânea é um bom gancho para as comemorações que se estenderão durante todo este ano, como a que faremos no dia 21 de março, em Brasília. Faremos em grandes estilo, com coro, orquestra e narrador. É uma obra grandiosa”, antecipa.

Ramos destaca a importância de levar essa apresentação para um evento sortido como o Verão Arte Contemporânea. “Eu imagino que outras manifestações do próprio evento têm uma cara mais contemporânea. Mostraremos uma coisa mais antiga, de 50 anos para cá, mais que tem uma ligação muito explícita com o folclore – Villa-Lobos com as inserções indígenas e amazônicas e Guerra-Peixe com as pesquisas no Nordeste e no Sudeste. O público gosta muito quando se vê ali naquela manifestação, quando identifica um tema, tem aquela reação de ‘já ouvi isso’ em outros momentos da música popular brasileira, como na ‘Asa Branca’”, diz Ramos.

Outro fator louvado pelo maestro é o preço dos ingressos e o espaço da apresentação, que ampliam a conexão com um público mais “popular”. “É a terceira vez que nos apresentamos no Cine Theatro Brasil desde sua reinauguração, é muito bacana pegar o público do ‘centrão’, o pessoal que está passando por ali e fica para assistir. Queremos trazê-los para nosso cardápio”, diz.

Cem anos do Mestre. Em ano de Copa do Mundo no país, não custa lembrar que são dois de nossos maiores craques na música erudita nacional – aliás, como lembra Marcelo Ramos, é de Guerra-Peixe o popularíssimo arranjo para o frevo “Pra Frente Brasil”, tema símbolo da campanha vitoriosa do escrete nacional no torneio de 1970, no México. “Ele atuava em todas”, diz Ramos.

Realmente, a trajetória artística do músico carioca é versátil e audaciosa, atuando em diversas frentes de nossa produção artística. “O espetáculo é também uma forma de destacar isso”, diz Ramos.

A habilidade dele impressiona: desde cedo tocava diversos instrumentos; estudou nos anos 1930 com (o professor e musicólogo alemão Hans-Joachim) Koellreuter, fazendo parte do histórico grupo Música Viva, até o rompimento com o mestre no final dos anos 1940. É esta virada que marca um período importante na produção de Guerra-Peixe: seus estudos do folclore brasileiro, primeiramente no Nordeste, e depois no Sudeste. “Ele começa a refletir essa cara nordestina, muitas vezes misturada com outros folclores, como o congado, a folia de reis. O interessante é que ele ela usa a técnica aprendida com Koellreuter, não jogou fora, apesar do rompimento. Com a estética que ele aprendeu com a música dodecafônica, ele transformou o material que capturava em suas pesquisas, construindo temas mais ‘audíveis’ a partir do material popular”, afirma.

Para coletar esse material em suas andanças pelo Nordeste, Guerra-Peixe chegava a usar recursos avançados para a época. “Ele saía gravando em um cassete e depois utilizava em seus temas, ou literalmente, incluindo o som ambiente registrado, ou diluindo isso mais discretamente”, destaca Ramos.


Agenda

O QUÊ. Orquestra Sinfônica de Minas Gerais

QUANDO. Amanhã, às 21h

ONDE. Grande Teatro do Cine Theatro Brasil(rua dos Carijós, 258, centro)

QUANTO. R$ 16(inteira) e R$ 8 (meia)


História

César Guerra-Peixe, aos 9 anos de idade, já era um músico versátil, com habilidades no violão, bandolim, piano e violino. Ele compôs trilhas para cinema, publicou livros sobre a música folclórica do Nordeste e ainda atuou como arranjador sinfônico de artistas como Chico Buarque, Luiz Gonzaga e Tom Jobim.