Artes cênicas

Outros palcos para a arte  

Campanha de Popularização leva espetáculos teatrais a espaços do Caminho das Artes, na região de Nova Lima

Por joyce athiê
Publicado em 19 de fevereiro de 2016 | 04:00
 
 
Pesquisa. Caminho das Artes recebe espetáculos com diversas linguagens que passam pelo circo, pela dança e teatro de bonecos <MC>sinparc/divulgação

Dando continuidade ao projeto que integra a Campanha de Popularização do Teatro e Dança desde 2014, alguns espaços do Caminho das Artes – um circuito que surgiu a partir do movimento espontâneo de grupos e artistas, moradores da região de Nova Lima e Brumadinho – recebem uma série de apresentações teatrais.

Dessa vez, o C.A.S.A, sede dos grupos Armatrux e Cia. Suspensa, e o espaço de ensaios do Grupo Atrás do Pano, localizados respectivamente no Vale do Sol e no Jardim Canadá, abrem suas portas para o público a partir de hoje. Até 6 de março, o projeto recebe seis espetáculos para adultos e três para crianças, entre produções dos anfitriões e artistas convidados, como Giramundo, Quatroloscinco - Teatro do Comum, Grupo dos Dez e ZAP 18.

Segundo Beto Plascides, coordenador dos projetos especiais da Campanha, no ano passado quase 2.000 pessoas compareceram aos espetáculos do Caminhos das Artes. “O público comparece, mas, claro, considerando as devidas proporções em relação aos espetáculos realizados em Belo Horizonte. Por isso, o Sinparc disponibiliza transporte gratuito (veja no quadro ao lado)”, afirma Beto.

Apesar do reconhecimento da vocação do Caminho das Artes pela Campanha de Popularização, os espaços do circuito ainda enfrentam o desafio de se comunicar com a comunidade local e ainda de levar outros públicos à região. “Este é o período em que temos o maior número de espectadores. Isso faz da Campanha um importante parceiro, no entanto, nem sempre esses espectadores voltam com a mesma frequência durante as outras ações realizadas pela rede. Nosso desafio consiste em manter uma programação constante de espetáculos e cursos para que o público reconheça que o espaço está ativo durante o ano todo e não somente durante a Campanha”, afirma Rogério Araújo, ator do Armatrux.

Enquanto isso, outras potencialidades são exploradas no circuito. Como aponta Rogério, um dos principais públicos do Caminho das Artes são os próprios artistas e trabalhadores do setor cultural da região. “Por meio dessa rede que foi criada, esses profissionais puderam se reconhecer e estabelecer relações de trocas artísticas e de trabalho. Foi possível ao Armatrux, por exemplo, reconhecer que existia na região profissionais capacitados para atender as demandas do grupo, que não precisávamos ir à Belo Horizonte para contratá-los. O Caminho das Artes possibilitou um deslocamento do eixo de produção. Na verdade, instituiu um novo polo de criação”, conta.

Embora diverso, com rotas e espaços distintos, o Caminho das Artes reúne artistas e grupos de pesquisa permanente que buscam inserir seus projetos artísticos nas comunidades onde estão instalados, como aponta a atriz Myriam Nacif, do grupo Atrás do Pano. “Nossa sede, por exemplo, está localizada entre condomínios residenciais e em uma antiga comunidade periférica. Nosso público local é composto por moradores de ambos perfis. O que acontece aqui, e que para o grupo é bastante relevante, é a formação de um público diferenciado daquele que normalmente frequenta teatro. São pessoas com pouco acesso aos bens culturais, mas que carregam valores populares e de raiz. São remanescentes de uma cultural secular rural, ilhada entre prédios e mansões de condomínio”, afirma a atriz.

Programação. A agenda do Caminho das Artes começa com o premiado “Por Parte de Pai”, do Grupo Atrás do Pano. De hoje a 6 de março, o coletivo apresenta, no espaço próprio, a adaptação de uma história criada pelo escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós e narrada pelo olhar de uma criança sobre o mundo que o cerca.

A peça é carregada de sentimentos poéticos e revelações existencialistas que se expressam por meio de Antônio, um menino que experimenta a vida na casa dos avós paternos, onde vive parte de sua infância permeada por cheiros, sensações, sonhos, medos e dúvidas constantes.