Música

Para Gal, ‘ter um filho foi revolucionário’

Cantora baiana fala de censura, da série que reviu sua trajetória e da importância da maternidade em sua vida

Por Raphael Vidigal
Publicado em 17 de novembro de 2017 | 03:00
 
 
Solo. Gal Costa toca violão no show ao lembrar a primeira música que cantou de Caetano Veloso Marcos Hermes/divulgação

Colocado no ar no último dia 9, o videoclipe “Vá Se Benzer”, de Preta Gil, foi retirado do YouTube poucas horas depois. Madrinha de batismo da cantora, Gal Costa participa do clipe que hasteia a bandeira da liberdade, ao colocar o dedo na ferida em discussões recentes, relacionadas a identidade de gênero, racismo e homofobia. “Sou eu/ Que nasce devendo, que corre/ Que é gueto, que é gay, que é pobre/ Homem e mulher”, afirmam os versos da canção, enquanto pessoas se beijam e abraçam. A faixa está presente no álbum “Todas as Cores”, lançado pela filha de Gilberto Gil, somente nas plataformas digitais, em outubro. “Adorei gravar tanto a música em estúdio quanto o clipe com Preta. Ela é minha afilhada querida, e, quando me convidou, topei na hora”, diz Gal.

Já a reação de internautas que denunciaram o vídeo, alegando conteúdo impróprio, e que culminou em sua proibição já revista pelo YouTube, causou estranheza na baiana, que, durante a ditadura militar, teve que ver amigos como Caetano Veloso e Gilberto Gil exilados em Londres, e que chegou a ousar em capas de discos consideradas polêmicas, como “Índia”, de 1973, em que aparecia de biquíni e com parte dos seios à mostra. “Fico assustada com as coisas que estão acontecendo. Nos tempos da ditadura, que vivi com intensidade, essa censura vinha só de cima, dos próprios militares. Hoje, além de a censura vir de cima, também vem de pessoas comuns. É preciso muita música para abrir de novo a cabeça das pessoas”, compara.

A tristeza perde espaço quando o assunto é a homenagem recebida através do documentário “O Nome Dela É Gal”, dirigido por Dandara Ferreira (filha do secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira) e exibido pela HBO, hoje já disponível no mesmo YouTube que protagonizou a polêmica. “Nunca havia recebido convites assim, para séries sobre minha carreira. A própria Dandara acha que há pouco material sobre mim e, portanto, resolveu fazer a série. Aceitei com felicidade e acho que ficou lindo”, derrete-se a cantora, que nos quatro episódios recebe afagos de Tom Zé, Maria Bethânia, Caetano, Gil e outros que fizeram parte de sua história. “Os depoimentos me emocionaram, quem não gosta de ver que é querida?”, indaga e aproveita para responder, afinal, o que a faz cantar. “Sei que gosto de música desde bem criança. Minha mãe ouvia música o tempo todo quando estava grávida. Eu sempre soube que seria cantora. Amo o que faço antes de ser profissional. A música precisa me emocionar. Isso é o principal”, destaca.

E quem ela gosta de escutar? “São tantos. Caetano, Gil, João Gilberto, Milton, Djavan, Nando, Criolo, Mallu, Marcelo Camelo”, cita, sem dispensar o que está por vir. “Tenho um filho de 12 anos, aprendo muito com ele. Faço visitas ao Spotify, ao Deezer... Mas ainda gosto do vinil”, diz, lembrando que o disco que ela lança em 2018 também sairá nesse formato.

Gal afirma que o filho Gabriel é um de seus canais de novidades. “Ele é muito musical, ouve canções de todos os tipos, de rap até música clássica. Outro dia, estava escutando ópera”, conta. “Ele é curioso com música de toda espécie, sem preconceitos, e acho isso bom. Ele está com 12 anos, e acho que a geração dele é assim”. E completa: “Fico cheia de alegria toda vez que ele chega em casa depois da escola. Ter um filho foi algo revolucionário na minha vida”, celebra. A cantora descobriu após os 40 anos que não podia ter filhos. Aos 60, adotou Gabriel. (com agência)