Dança

'Primeiro Bailarino' revê a trajetória do carioca Thiago Soares

Documentário que estreia domingo no HBO Max mostra carreira bem-sucedida do bailarino

Por Laura Maria
Publicado em 12 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 
Ação. Thiago Soares em cena do documentário “Primeiro Bailarino”, que estreia domingo no HBO Max HBO/DIVULGAÇÃO

Com mais de 15 anos de carreira, Thiago Soares, 36, já perdeu o número de vezes que subiu ao palco. Carioca, de Vila Isabel, e há 12 anos no posto de primeiro bailarino do The Royal Ballet, de Londres, o brasilieiro faz uma média de três espetáculos por semana. O que o público tem acesso, entretanto, representa apenas uma parte de seu trabalho.

Com o objetivo de registrar o que acontece quando as cortinas se fecham é que foi produzido “Primeiro Bailarino”, que estreia neste domingo, às 21h, no HBO Max. Dirigido por Felipe Braga, o documentário percorre os bastidores do Royal Opera House para contar a trajetória do brasileiro, desde o anonimato – quando descobriu a dança através do irmão mais velho, que tinha um grupo de street dance no Rio – até alcançar o topo de uma das mais importantes companhias de dança do mundo.

“A proposta do Felipe (Braga) era experimentar um período de muita ação da minha vida como bailarino, experimentar o que é ser o protagonista de uma companhia internacional em aspectos que vão tanto para cima como para baixo, além de mostrar a personalidade de diferentes coreógrafos, a exaustão física, o compromisso que nós fazemos com o nosso sistema emocional...”, afirma Soares.

Durante 90 minutos, “Primeiro Bailarino” se apoia em imagens de Soares e dos bastidores da Royal Opera House, bem como em suas interações com pessoas como a coreógrafa carioca Deborah Colker, o dançarino sueco Alessio Carbone e a argentina Marianela Núñez, primeira bailarina da Royal Opera House e sua ex-mulher.

Retrato. Soares define o documentário, que foi exibido na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, como “genuíno”, porque faz um registro sincero de sua trajetória profissional. “É um retrato real da minha carreira. Tudo o que está ali é parte de mim. Quando o Felipe me fez a proposta, decidi entrar nela para o bem ou para o mal”, avalia.

Para Braga, a história de Soares seria suficiente “para segurar um filme”. “O Thiago é um artista questionador. Quando comecei a pesquisar, descobri que seria rico apresentar para o público como é estar lá, fazendo parte de uma companhia de balé, como eles se reinventam e quais são os temas universais de cada artista. A escolha dele como personagem vai muito por essa sua capacidade de ele sempre questionar”, justifica.

Para imprimir leveza à dança, Soares não esconde que pega pesado. Seja nos ensaios, na alimentação regrada ou no cuidado com o corpo (sua “máquina”, como ele mesmo diz). “A proposta do Felipe (Braga) era experimentar um período de muita ação da minha vida como bailarino, experimentar o que é ser o protagonista de uma companhia internacional em aspectos que vão tanto para cima como para baixo, além de mostrar a personalidade de diferentes coreógrafos, a exaustão física, o compromisso que nós fazemos com o nosso sistema emocional...”, afirma o carioca.

 

“A dança é minha vida”

O processo de preparação de um bailarino para apresentações é solitário e demanda autoconhecimento. Thiago Soares revela que ficou preocupado à medida que as filmagens de “Primeiro Bailarino” descortinavam sua rotina e mostravam sua relação com a dor e com o próprio corpo.

“O documentário foi abrindo as portas da minha intimidade, da minha solidão, do que me faz ruir, daquilo que dói. Mas percebi que o Felipe (Braga, diretor) era o cara da arte. Quando percebi que eu estava seguro, foi uma espécie de expressão artística”, comenta.

Mensagem. Soares avalia que, caso o documentário consiga levar uma mensagem positiva ao público, seu esforço em mostrar sua intimidade terá valido a pena. “Espero que, de alguma maneira, através da minha jornada, outras pessoas que almejam saibam que podem viver de arte. É um sonho para mim”, conta.

“Eu me sinto muito privilegiado de, em algum momento, ter me aprofundado como bailarino. A dança é a minha vida. Houve momentos em que ela era tudo o que eu tinha, minha melhor amiga. Tudo o que eu tenho e conquistei vem da dança. Sempre fui privilegiado por esse meu amor à dança”, afirma o bailarino.

 

Artista será tema de filme

Além de “Primeiro Bailarino”, outro filme vai contar a história de Thiago Soares nos cinemas.

Com direção de Marcos Schechtman, diretor de “Salve Jorge” (2012) e “Caminho das Índias” (2009), a produção de caráter ficcional, ainda sem título, tem filmagem prevista para o segundo semestre de 2018. Quem vai viver Soares na tela grande será o mineiro de Ouro Branco, Matheus Abreu. No ar em “Malhação”, Abreu matriculou-se em aulas de balé.

Trajetória. Thiago Soares nasceu em São Gonçalo, mas passou sua infância em Vila Isabel, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. Criado em uma família de classe média baixa, deu seus primeiros passos na dança aos 12 anos, quando se divertia com os amigos e o irmão apresentando-se com hip-hop.

O balé clássico surgiu em sua vida três anos mais tarde, ao ser convidado para integrar Centro de Dança Rio, no Meier, no Rio. Da companhia para o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi um salto, e, aos 17 anos, conquistou medalha de prata no Concurso Internacional de Dança de Paris.

Soares relembra que essa época foi decisiva para que ele enveredasse definitivamente no caminho da dança.

Depois de conquistar medalha de ouro no Concurso Internacional do Ballet Bolshoi, realizado em 2001, na Rússia, ele foi convidado para integrar o Royal Ballet, em Londres. “Em 2002, fui solista, depois, primeiro solista, função na qual trabalhei por quatro anos. E, em 2006, me tornei o primeiro bailarino”, diz. Dentre os espetáculos apresentados por Soares estão “A Bela Adormecida”, “O Lago dos Cisnes” e “O Quebra-Nozes”.