Ensaio

Recordações e influências da semana modernista de 22 

Estudo analisa obras de vários artistas que estabeleceram narrativas com o viés do Modernismo

Por gustavo rocha
Publicado em 18 de outubro de 2014 | 03:00
 
 
Estudo perpassa obras criadas em diferentes Estados brasileiros CESAR TROPIA

Quando artistas paulistanos se reuniram para mostrar seus trabalhos e discutir os caminhos da arte moderna brasileira, no Teatro Municipal de São Paulo, lá no longevo ano de 1922, eles talvez não tivessem dimensão da importância daquela que ficou eternizada como a referência mor da arte moderna brasileira, conhecida depois como Semana de 22. Pois o acontecimento ganha, agora, mais uma obra que resgata sua memória e importância. Trata-se do livro “Modernidade Toda Prosa”, de Eneida Maria de Souza e Marília Rotther, que será lançado hoje, na Livraria Quixote.

Eneida e Marília são professoras de literatura brasileira, respectivamente, na Universidade Federal de Minas Gerais e na PUC-Rio. Publicada pela editora Casa da Palavra (240 págs., R$ 39), a obra faz parte da coleção Modernismo e lança luz sobre as narrativas construídas pelos artistas do movimento, ampliando-o em relação aos seus principais ícones (Mário e Oswald de Andrade, por exemplo) e à literatura.

“Nosso estudo passa pelas narrativas do Modernismo brasileiro presentes, por exemplo, no cinema de Glauber Rocha e Humberto Mauro”, comenta Eneida. “Estudamos a obra de autores que são mais obscuros ou não tem suas obras diretamente relacionadas ao movimento. Murilo Mendes e Jorge de Lima, por exemplo, sempre tiveram suas obras relacionadas a questões religiosas, do catolicismo, uma característica não muito presente nos autores modernistas”, completa a pesquisadora.

E quais são as características estéticas e temáticas que fazem do movimento uma referência histórica até hoje? “Há uma narrativa fragmentada muito presente, e também é o Modernismo que rompe o uso da retórica na construção de suas histórias. Surgem, ainda, temáticas nacionais de minorias, como acontece com ‘Macunaíma’ (clássico de Mário de Andrade que narra a história de um anti-herói brasileiro que nasce em uma tribo indígena e parte em direção a São Paulo), grande clássico do Modernismo”, explica.

“Pode parecer provinciano de nossa parte, mas vale lembrar que o Modernismo paulista se esqueceu do que estava sendo feito em outras regiões do país. O Rio de Janeiro passava também por um movimento de modernização da cidade. Além disso, surgiam Pixinguinha e outros artistas. Havia uma espécie de imaginário coletivo que não se comunicava diretamente, mas que influenciou de maneira parecida artistas de diferentes estados”, defende, chamando atenção à singularidade do estudo que traz ao público.

Além de revisitar a Semana de 22, Eneida defende a importância de se pensar nos efeitos e influências do movimento sobre a produção contemporânea. “Não se pode ignorar sua importância, mas é preciso também lançar luz sobre a produção feita atualmente no país”, pontua.

Lançamento

“Modernidade Toda Prosa”, hoje, às 10h, na Livraria Quixote (rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)