Teatro

Reinvenção de um clássico

Com Malvino Salvador, nova versão de 'Boca de Ouro', de Nelson Rodrigues, chega a BH neste fim de semana

Por Renato Lombardi
Publicado em 16 de março de 2018 | 03:00
 
 
João Caldas/divulgação

O universo de Nelson Rodrigues (1912-1980) sempre instigou o ator Malvino Salvador. “Eu li quase todas os textos do Nelson entre 2006 e 2007 porque queria produzir uma peça inspirada na obra dele. Mas na época decidi deixar de stand-by porque, sinceramente, não me achava com capacidade para interpretar um texto dele”, conta o ator, que tem em casa toda a obra do famoso dramaturgo brasileiro. Mas um convite do diretor mineiro Gabriel Villela fez Malvino decidir protagonizar um dos textos mais icônicos de Rodrigues, “Boca de Ouro” – montagem que poderá ser vista sábado (17) e domingo (18) no Grande Teatro do Palácio das Artes.

O espetáculo conta a história do temido bicheiro carioca Boca de Ouro, que ganhou o apelido por ter trocado os dentes naturais por próteses de ouro. “‘Boca de Ouro’, por incrível que pareça, era um dos poucos textos do Nelson que eu não tinha lido. Mas já conhecia o enredo, sabia da história e, logo que recebi o convite, fiquei muito feliz não só de ser da obra do Nelson Rodrigues, mas também por ser um personagem incrível”, afirma o ator.

No palco, a misteriosa morte do contraventor é investigada pelo repórter Caveirinha (Chico Carvalho), que tem como principal fonte a ex-amante dele, Guigui (Lavínia Pannunzio), ora exaltando, ora criticando o bicheiro.

Para dar vida ao personagem-título do espetáculo, o ator revela que precisou entender a realidade na qual Boca de Ouro está inserido. “Ele nasceu na gafieira, cresceu no submundo do crime, onde fez carreira e se tornou um contraventor, o maior bicheiro da região de Madureira, no Rio”, explica Malvino.

“Por outro lado, esse bicheiro tinha uma necessidade megalomaníaca de materializar o que ele nunca teve. Então, ele coloca dentes de ouro e decide construir um caixão inteiramente de ouro, e só depois de construir esse caixão ele ‘poderia morrer’. Ele cria uma trajetória mítica para ele mesmo”, pontua o ator.

A direção de Villela foi fundamental para ele aceitar o convite para participar da montagem. “O Gabriel, com suas peculiaridades e seu olhar em cima da obra do Nelson, imprime suas características de encenador de uma maneira muito pungente e que transcende a obra original”, observa o ator.

A montagem mistura canções para contar a história de Boca de Ouro – ao todo, são 14 músicas. Quando questionado sobre seu lado cantor, Malvino brinca: “Canto no meio de todo mundo. Cantar mesmo só no banheiro de casa”.

Novela das seis. A partir da próxima terça-feira, Malvino Salvador poderá ser visto em “Orgulho e Paixão”, novo folhetim das seis da Globo, escrito por Marcos Bernstein e inspirado no universo da escritora inglesa Jane Austen.

“Meu personagem é o Brandão, um coronel do Exército que assume para si a responsabilidade de dar o exemplo para a sociedade. Ao mesmo tempo, ele tem um lado aventureiro, pois se envolve em competições de motociclismo, o que na época era proibido”, adianta o ator, explicando que a novela se passa no início do século XX.

No desenrolar da história, na fictícia Vale do Café, Brandão vai se tornar, involuntariamente, um herói. Ele, que usa um disfarce para participar das corridas clandestinas de motocicleta – um touca vermelha –, vai ajudar as pessoas e salvá-las de diversas situações, como assaltos. “Ele ficará conhecido como o Motoqueiro Vermelho, mas ninguém saberá a verdadeira identidade dele. Mais pra frente, somente Mariana (Chandelly Braz), por quem Brandão é apaixonado, vai descobrir a verdade”, adianta Malvino.

Agenda

O QUÊ. Espetáculo “Boca de Ouro”

QUANDO. Sábado (17), às 21h, e domingo (18), às 19h

ONDE. Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537)

QUANTO. A partir de R$ 50 (inteira)

FOTO: João Caldas/divulgação
“Eu já conhecia o enredo do ‘Boca de Ouro’, sabia da história e, logo que eu recebi o convite, fiquei muito feliz não só de ser da obra do Nelson Rodrigues, mas também por ser um personagem incrível.”