Cinema

Rússia além de Eisenstein 

Mostra Cinema Russo Contemporâneo traz 16 filmes russos, produzidos depois da Perestroika, a Belo Horizonte

Por lucas buzatti
Publicado em 25 de fevereiro de 2015 | 03:00
 
 
“Entropia”. Filme de 2002, da cineasta Maria Saakyan, é a mais nova produção exibida na mostra Ars et Vita

Em 1985, o então líder da União Soviética Mikhail Gorbachev aprovou o conjunto de políticas de reestruturação chamado Perestroika. O sistema não pretendia substituir o socialismo, mas propunha uma reforma política, social e econômica no país.

Se a Perestroika deu certo ou não, é assunto para historiadores e cientistas políticos. Fato é que o período acirrou a produção cinematográfica russa, fazendo pipocar filmes memoráveis – que serão exibidos na inédita Mostra de Cinema Russo Contemporâneo, que acontece entre hoje e o dia 15 de março, no Sesc Palladium. São 16 longas, em sua maioria dramas, que recontam a história da transição da União Soviética.

Curadora da mostra, a russa Maria Vragova, uma das proprietárias da produtora Ars et Vita, conta que a ideia surgiu há quatro anos, com o objetivo de apresentar aos brasileiros filmes de outros cineastas russos que não somente os icônicos. “Queria mostrar o cinema russo além de Serguei Eisenstein e Andrey Tarkovsky”, explica. “São filmes que remontam a essa época de mudança, que sabe-se muito pouco por aqui. Além de mostrar a produção cultural desse período, contam o que estava acontecendo no país, o que as pessoas estavam esperando”, conta Vragova.

A mostra, que estreou no Rio de Janeiro no início de fevereiro e agora chega a Belo Horizonte, conta com 16 filmes, que tratam de diferentes assuntos dentro do recorte da Perestroika. “É um período que deu muita liberdade aos cineastas. Liberdade para criar, para se expressar através da linguagem cinematográfica. Temos filmes como ‘Penitência’, de 1984, que foi censurado durante a ditadura. Depois da Perestroika, mais de 200 filmes proibidos foram liberados, e ele é um desses”, afirma Vragova, lembrando que “Penitência, filme que abre a mostra, terá uma única exibição.

Vragova conta que existem também filmes polêmicos, que retratam realidades sociais pouco faladas sobre a Rússia, como “Mercadoria 200”, que fala sobre a guerra contra o Afeganistão, e “Garota Internacional”, que discute o problema da prostituição no país. “Recebi um e-mail de uma russa que mora no Brasil, criticando a mostra, perguntando porquê eu exibia filmes que mostram o lado ruim da Rússia”, conta a curadora. “No entanto, a curadoria exibe as várias facetas do país, dentre elas as negativas. É importante mostrar os problemas para evoluir e seguir em frente”, defende.

Mas nem só de drama vive a mostra, que também abarca outros gêneros. “Tem ‘Entropia’, de 2002, o filme mais novo da mostra, da jovem cineasta Maria Saakyan, que é uma comédia deliciosa. ‘Melodias da Noite Branca’ também é um melodrama, bem leve, que mostra as belezas de São Petersburgo. Enfim, são filmes para todos os gostos”, conclui. A mostra conta ainda com uma exposição de 65 imagens do fotógrafo russo Vladimir,um dos mais importantes do século, que mostra o cotidiano da Rússia.

Agenda

O quê. Mostra de Cinema Russo Contemporâneo

Quando. De hoje a 15 de março

Onde.Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro)

Quanto. Entrada gratuita, com retirada de ingressos duas horas antes de cada sessão