Xangai

Sentimentos de raiz do sertão  

Compositor baiano lança novo disco de voz e violão, com versões de nomes como Ataulfo Alves e Geraldo Azevedo

Por LUCAS SIMÕES
Publicado em 09 de julho de 2015 | 03:00
 
 
Solo. Xangai estará sozinho no palco para apresentar repertório variado de aproximadamente 15 canções, relembrando parceiros como Renato Teixeira, mas SolCoêlho

O cantautor Eugênio Avelino talvez não seja tão reconhecido pelo nome de batismo. A alcunha de Xangai, porém, é figurinha carimbada nos encartes de discos de Renato Teixeira, Elomar, Almir Sater e Pena Branca e Xavantinho, dentre outros. Mas o sucesso e a exposição não interessam ao compositor nascido em Itapebi, no sul da Bahia, longe das antenas de TVs. “Eu gosto de brindar meus parceiros em discos que gravo. Não me interessa estética, modelos predeterminados, sucesso no rádio, músicas comerciais, televisão. Componho músicas pensando em belos poemas de grandes cantadores. Quero cantar só o que sinto”, avisa o compositor. É com essa marca, reunindo gente como Geraldo Azevedo e Ataulfo Alves entre seu repertório, que um dos artistas mais importantes do sertão brasileiro lança “Xangai” (Independente), seu 17º disco autoral, em único show, amanhã à noite, no Sesc Palladium.

Avesso ao rótulo de 40 anos de carreira, a serem teoricamente completados no ano que vem, pela marca do primeiro álbum de Xangai, “Acontecivento” (1976), o compositor nordestino enxerga sua estrada muito mais extensa do que a própria coleção discográfica. “Tem um lado equivocado de considerar a carreira de cantores no Brasil. Clementina de Jesus e Cartola vieram a gravar discos com sessenta e tantos anos. Mas Cartola já tinha feito a Estação Primeira de Mangueira, algumas músicas gravadas por Elizeth Cardoso. A carreira dele começou no primeiro disco? Não. Isso são só convenções. Eu tenho 67 anos de carreira porque nasci na música”, crava Xangai, fazendo referência à própria idade.

Um pouco por essa percepção fora dos eixos convencionais e também por cantar sentimentos independentes de modismos, como gosta de dizer, Xangai reuniu 14 regravações em um disco inteiramente de voz e violão – após passar nove anos de hiato desde o último álbum, “Estampas Eucalol” (2006), lançado pela gravadora Kuarup. Todas as músicas foram gravadas a seu modo sertanejo, com microfones posicionados às margens do lago formado pela represa Pedra do Cavalo, no sítio Ponta da Torta, na região da Chapada Diamantina – refúgio pessoal do amigo Cesar Fernandes de Oliveira Neto –, onde Xangai permaneceu por quatro dias gravando.

Para a sonorização do registro ao ar livre, o compositor convidou Beto Santana, que já trabalhou com Maria Bethânia, e Vavá Furquim, responsável pelos shows de Caetano Veloso, incluindo a nova turnê com Gilberto Gil, “Dois Amigos, Um Século de Música”. “Os dois já eram meus parceiros de antiga data, trabalhamos juntos na minha carreira. E pensei que só eles poderiam tirar um som tão fino no meio do mato, com a naturalidade que eu quis dar para cada canção deste disco novo”, ressalta Xangai.

Entre o repertório diversificado do compositor baiano, que interage com o xote, o baião, a toada e a ciranda, apenas algumas canções são autorais, entre elas “Ino no Cangaço”, com Ivanildo Vila Nova, “Água”, em parceria com Jatobá, “Em Nome do Sol”, escrita com Jacinto Silva, e “Menino Gaiteiro”. Todo o restante do disco são pinceladas de reverências a nomes importantes de sua história musical, como versão de “Pequena”, de Renato Teixeira, e “Espiral do Tempo”, de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando, indo até o poema “Eu”, de Florbela Espanca, adaptado para canção pelo próprio Xangai. “São músicas que, de alguma forma, falam sobre dor, luz, amor sincero, temas sociais, ecologia, o universo sertanejo sem invencionices: a pureza de viver o que se sente de verdade. É nisso que acredito quando toco e canto canções. O repertório é algo sempre aberto aos sentimentos que externamos na hora de fazer um show ou tocar um violão simples entre amigos”, se justifica Xangai.

SHOW. Para a apresentação em Belo Horizonte, porém, onde ele mantém amigos próximos como Celso Adolfo e Tavinho Moura, Xangai não irá reproduzir o álbum na íntegra – nem pretende chegar perto disso. “Quem quer ouvir o disco, é só comprar. Eu não tenho um compromisso de cantar um disco inteiro – seja qual for. Canto o que me dá vontade na hora. Em BH, quero fazer uma música minha mais recente, chamada ‘Canarinho Verde’. Posso ter vontade de cantar Milton Nascimento também, ‘Morro Velho’ é uma canção maravilhosa, alguma coisa do saudoso Fernando Brant. Veremos”, avisa o compositor.

Para os próximos shows depois da capital mineira, além de marcar presença em São Paulo e no Rio de Janeiro, Xangai se apresenta em Palmas, Aracaju, Natal e na cidade mineira de Nanuque, no dia 16 de agosto, para onde se mudou aos 18 anos e ganhou o apelido artístico por causa de uma sorveteria que o pai mantinha com o nome de Xangai. “Será especial, certamente. É um dos meus berços na vida e quero acolher as pessoas por lá – gente que vive o que eu vivi e vivo até hoje: o sertão, a simplicidade do interior”, garante Xangai.

Agenda

O que. Show do compositor Xangai – Voz e Violão

ONDE. Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro)

QUANDO. Amanhã, às 21h

QUANTO. Os ingressos custam R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)