Cinema

'Star Wars: Os Últimos Jedi' marca a despedida de Carrie Fisher

No papel de Leia Organa, a atriz, morta em 2016 encerra sua carreira em grande estilo

Por Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2017 | 03:00
 
 
Estrela. Carrie Fisher faleceu em dezembro do ano passado, depois de concluir todas as suas cenas DISNEY/BUENA VISTA/DIVULGAÇÃO

SÃO PAULO. Luke Skywalker é o herói? Era? Talvez o mundo fosse quadrado (leia-se: machista) demais para perceber a força de Leia Organa, a princesa de Alderaan, transformada em líder da rebelião contra o temível imperador Palpatine. Luke assume o holofote, é a sua jornada a ser contada na trilogia inicial de Star Wars. Mas é um dos Skywalkers. Quando, ainda jovem, parte no meio do seu treinamento para enfrentar Darth Vader em “O Império Contra Ataca”, o jovem Jedi imprudente exibe ao Mestre Yoda a face tempestuosa que lhe aproximará do Lado Negro da Força.

Luke Skywalker nunca foi o herói ideal a carregar os Jedi adiante. Ao ver o aprendiz partir, Yoda diz: “Ainda há outro”. Ou outra, no caso. Leia é o oposto do seu irmão em personalidade, igualmente forte na Força, embora nunca treinada. Enquanto Luke tem dificuldade em lidar com a raiva e a frustração, e isso o aproxima perigosamente do lado sombrio dos Sith e o afasta do caminho Jedi, Leia é a representação máxima da esperança. A figura que jamais cairia.

Ficou, contudo, no segundo plano da trajetória de Star Wars, sem sequer herdar o sobrenome perigosíssimo de Skywalker. Permaneceu Organa, como era quando foi adotada.

“Os Últimos Jedi”, tal qual “O Despertar da Força”, tem a função de estabelecer a personagem de Carrie Fisher no lugar de destaque que sempre lhe foi devido – em uma das cenas mais emocionantes do filme que estreia no Brasil, ela prova que a Força é poderosa nela, sim.

Fisher morreu no fim do ano passado, em dezembro. “Os Últimos Jedi” é sua despedida. E que adeus, meus amigos. Leia nunca foi tão poderosa e, ao mesmo tempo, serena. A luta nunca foi totalmente vencida ao final de “O Retorno de Jedi”, quando Vader e Palpatine perecem. Han Solo partiu. O filho deles, Ben Solo, tornou-se Kylo Ren e trilhou o caminho maligno do avô. O irmão Luke decidiu se ausentar da briga por perceber um distúrbio no equilíbrio da força. Restou a ela, Leia, a função de agrupar aqueles que gostariam de ver o Império – e, agora, a Nova Ordem – derrotados.

Os números não lhe favorecem, as estratégias inimigas são cada vez mais agressivas, e Leia sente cada perda, cada vida rebelde que se vai nas ações militares. Tem candura e compaixão. Tem também um brilho no olhar, um desejo pela vitória. E, principalmente, pelo fim dessa guerra que foi iniciada em 1977 (para a gente, pelo menos, tão distante dessa galáxia onde batalhas inteiras são resolvidas com um duelo de sabre de luz).

A Leia de Fisher, 40 anos da estreia do primeiro Star Wars, ganha sua versão mais digna e justa. Foi preciso desse tempo todo para escancarar a fragilidade masculina do universo criado por George Lucas. Fisher se foi sem aproveitar o gosto de ver sua personagem tratada como merece. Mas deixa Rey, vivida por Daisy Ridley, com um belo caminho pela frente.

Resenha

Rio de Janeiro. Uma das questões que mais assombram o ser humano é a que diz respeito a seu destino. Várias correntes da filosofia, e também a neurociência, apimentam o debate, mas nenhuma consegue chegar a uma conclusão definitiva. Não é por acaso que esse tema sempre esteve presente na saga “Star Wars” – George Lucas, criador desse universo, foi influenciado pelo diretor japonês Akira Kurosawa, que trabalhava com essa temática.

Em “Os Últimos Jedi”, esse mote está mais vivo do que nunca, junto com a relação entre pais, filhos e agregados, outra ideia que permeia a obra. Personagens como Kylo Ren (Adam Driver, ótimo) e Rey (Daisy Ridley) deixariam Freud em êxtase se pudessem ser analisados em seu divã. A dramaturgia entre os dois é um dos destaques.

Pode soar pretensão colocar o foco sobre esses assuntos nos filmes da franquia, já que eles não são esmiuçados em profundidade. Mas reduzir o longa dirigido por Rian Johnson a batalhas épicas e cenas eletrizantes é má vontade com o que vem da indústria cinematográfica. Alguns podem ponderar que é tanto barulho que a reflexão fica perdida. Mas mesmo este senão é questionável se levada em consideração a velocidade com que o mundo gira hoje.

Independentemente das preferências, Johnson, que também é roteirista do longa, segue a cartilha e usa todas as ferramentas que tornaram “Star Wars” uma febre. E tempera esse novo capítulo com mais humor, o que pode chatear os mais sisudos. Ao final, “Os Últimos Jedi” é bem-sucedido em aliar diversão e inteligência. Johnson não consegue responder à pergunta sobre o destino, mas quem consegue? A missão vai ficar para o terceiro filme.