Memória

“Traço era rápido, energético contínuo e dinâmico”

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 02 de fevereiro de 2014 | 04:00
 
 
Caboco Mamadô reinava em seu cemitério dos mortos-vivos Org. Henfil/ reprodução

Poucos conseguiram, como Henfil, o grau de inserção na vida social do Brasil da época. E seu desenho, que muitos poderiam chamar de simples, dizia tudo que ele queria. “Tinha um traço rápido (talvez soubesse que sua vida seria curta e não poderia perder tempo), energético (era hora de mudanças e ele passava esta energia para o leitor), contínuo (dava a impressão que nunca levantava a caneta do papel) e dinâmico (conseguia passar o movimento de um desenho animado em apenas uma única imagem)”, define Gual, em uma rápida análise sobre a obra de Henfil.

Amava o Brasil e brigou por ele em todas as instâncias. Em épocas obscuras, defendeu publicamente Nelson Rodrigues e Chacrinha, para quem ilustrou o livro “Chacrinha É o Desafio”, em 1969. Foi perseguido pela ditadura, mas isso não parecia mudar sua rotina. “Estávamos em casa (apartamento em São Paulo), e eu esperava uma ligação de uma namoradinha quando o telefone tocou, eu atendi e era um cara muito nervoso que dizia que iria matar o Henfil. Eu passei o telefone para ele... Ele atendeu, desligou e foi dormir. Nem se deu ao trabalho de fechar a porta, que ficava constantemente destrancada”, diz Nilson, em uma das dezenas de histórias que guarda da época do apartamento de Higienópolis.

Nilson ainda conta de uma passagem que diz muito de como Henfil recebeu aqueles rapazes que moravam com ele. “Estávamos no apartamento desenhando, eu, o Glauco e ele virava para nós, autoritário: ‘Isso aqui não é lugar de ficar se divertindo, não’. Ficava irritado, se levantava com aquela cara de Fradinho que ele fazia e ficava criticando nossos trabalhos”.

Laerte tem outra visão do mestre. “O Henfil nunca teve uma posição muito professoral com a gente, embora fosse um mestre. A gente tinha uma convivência muito próxima”. A cartunista destaca uma faceta peculiar de Henfil. “Era muito típico dele sequestrar expressões. No apartamento, por exemplo, éramos o ‘bunker’, por causa do Somoza (ditador da Nicarágua). Lembro de um jornal de esquerda que o convidou a colaborar e, durante a reunião, na dúvida de como chamar a sessão de dicas, Henfil virou e falou: ‘Vamos chamar de Serviço Nacional de Informação (SNI)’”. (RSNM)