Exposição

Um mergulho na necessária arte do fazer nada

“A Cidade e o Ócio promove cultura e prazer da ociosidade na Casa do Baile

Por Daniel Oliveira
Publicado em 27 de junho de 2017 | 03:00
 
 
Redário. Exposição convida público a dar uma pausa e usar uma das redes para curtir a vista local Bárbara Fonseca / Divulgação

No mundo contemporâneo, não há tempo para o ócio. Ou você está trabalhando, ou está na academia, ou correndo, ou resolvendo problemas – mesmo quando está no trânsito, aproveita para ouvir as notícias no rádio; ou, se está andando, o smartphone fornece uma fonte constante de atividades.

“Somos bombardeados por informações e tecnologias o tempo inteiro e, cada vez mais, temos necessidade de parar, relaxar e ter tempo ocioso para absorver todo esse conteúdo”, reflete a arquiteta Bárbara Fonseca. Foi pensando nisso que ela e Constanza Cherulli – sua sócia na Liga Arquitetura desde 2015 – conceberam a exposição “A Cidade e o Ócio”. Aberta para visitação na Casa do Baile até o dia 25 de agosto, ela tenta trazer à tona uma discussão sobre a escassez de espaços públicos nas grandes cidades para que as pessoas desfrutem do tempo livre.

“A gente acredita muito que o espaço convida as pessoas, determina e indetermina atividades. Belo Horizonte tem muitos locais para o ócio, como a Pampulha e o parque das Mangabeiras, mas faltam locais rotineiros, do meu caminho de casa ao trabalho, por exemplo – um espaço para uma pausa, respirar. Aqui, você tem que se programar para ir, como um ‘domingo na Pampulha’, mas falta diluir esses espaços na cidade”, avalia Bárbara.

Para capturar os breves momentos em que as pessoas conseguem escapar desse ciclo fechado, ela e Constanza pediram à fotógrafa Luiza Ananias que rodasse a capital em diferentes locais e horários em busca de indivíduos aproveitando momentos de ócio no espaço público. O resultado são as 24 fotos expostas em meio a textos assinados pelas próprias idealizadoras, além dos arquitetos Flávio Carsalade, Roberto Andrés e Patrícia Cioffi. “Foi uma sugestão da Luiza expor as imagens em preto e branco para realçar a própria natureza da atividade”, destaca Bárbara.

O grande destaque de “A Cidade e o Ócio”, porém, é o que as criadoras chamam de seu “espaço interativo”. No jardim externo da Casa do Baile, elas montaram uma espécie de redário, em que as pessoas podem se jogar para desligar a mente e curtir o visual da lagoa. “Como arquitetas, estávamos discutindo como representar nosso tema na parte física da exposição, sem muito sucesso. E, no nosso escritório, temos uma rede. Decidimos fazer uma pausa, fomos lá fora e, assim que nos sentamos na rede e demos esse respiro, falamos ‘é isso’. Ela é a representação física do ócio”, conta Bárbara.

Ela e a sócia partiram, então, em busca de escritórios de design da capital que topassem criar diferentes redes para o espaço. Sete aceitaram o convite: o Ori; o Molett, que fez uma de moletom; o Atelier MaCraft produziu a sua com couro; o Urda Atelier trabalhou com tear; Regina Misk fez a sua com tricô; Ronaldo Silvestre criou uma com jeans; e as próprias sócias da Liga tramaram a sua a partir de fibras de PVC. “Queríamos trabalhar o contraste entre rigidez e maleabilidade para refletir esse embate entre rotina e ócio”, explica a idealizadora.

Apesar de ter sido concebida especificamente com a Casa do Baile em mente, “A Cidade e o Ócio” não deve parar por ali. As arquitetas já receberam um convite para levar a exposição para a Escola de Arquitetura da UFMG e estão estudando a viabilidade de levar sua cultura do ócio para outros espaços da capital.

 

Agenda

O quê. Exposição “A Cidade e o Ócio”
Quando. Em cartaz até 25/8
Onde. Casa do Baile (avenida Otacílio Negrão de Lima, 751, Pampulha)
Quanto. Entrada gratuita