Arte contemporânea

Um novo cenário das artes 

Vilarejos na Costa Leste do Uruguai, próximos a Punta del Este, ganham galerias de arte com produção atual e local

Por Paola Singer
Publicado em 13 de julho de 2014 | 03:00
 
 
Escultura “A Grande Função”, do artista uruguaio Ricardo Pascale, no vilarejo de Jose Ignacio MATILDE CAMPODONICO

New York/EUA. Em janeiro, o músico, escritor e artista visual uruguaio Dani Umpi teve uma exposição solo em Punta del Este, Uruguai. Ela foi realizada na Galerie Xippas, local elegante aberto recentemente pelo negociador de arte Renos Xippas, de Paris. Penduradas nas paredes da galeria, brilhantes colagens feitas de pequenos fragmentos de fotos de revistas, e caixas contendo rostos de pássaros usando perucas de neon – uma viva exibição da tendência de Umpi para o bizarro e o sarcasmo.

Arte de última geração e galerias de alto nível são novidade no Uruguai, país geralmente associado à modéstia e à moderação. Mas sua Costa Leste – especialmente Punta del Este e as aldeias vizinhas de José Ignacio e Pueblo Garzón – tornou-se um paraíso de inverno (com clima quente) para ricos internacionais. No século passado, a cena artística do Uruguai (respeitável, mas de certa forma insular) foi fortemente influenciada por um estilo geométrico abstrato conhecido como construtivismo, criado no início de 1900 pelo pintor Joaquín Torres García. No novo milênio, artistas locais ficaram mais experimentais numa era de livre fluxo de informações. “Há alguns anos, comecei a ver que o Uruguai estava se movendo numa direção muito interessante”, declarou Xippas. “Existe uma nova geração com ideias frescas e irônicas”.

Ele pretende se mudar para um espaço maior, montado em seis hectares na metade do caminho entre Punta del Este e José Ignacio. “Decidi abrir uma galeria em Punta del Este antes que chegasse alguém como Larry Gagosian e o fizesse”, afirmou Xippas, referindo-se a um dos negociadores de arte mais famosos do mundo.

Em frente ao futuro estabelecimento de Xippas fica a Fundación Pablo Atchugarry, um centro artístico sem fins lucrativos conduzido por Pablo Atchugarry, artista de Montevidéu que ganhou reconhecimento internacional com uma série de esculturas abstratas em mármore. O centro recebe exposições de artistas como Le Corbusier e novos talentos locais, como Rita Fischer.

Mas a transformação mais notável da região ocorreu 37 quilômetros ao Sul, em José Ignacio. Essa península enganosamente rústica, que há apenas uma década era uma tranquila aldeia de pesca, é hoje um dos locais de férias mais cobiçados da América do Sul. E também está se tornando um eixo de arte, em parte graças a Alexander Vik, financista e colecionador de arte norueguês que construiu dois resorts de luxo focados em arte, Estancia Vik Jose Ignacio e Playa Vik Jose Ignacio. Ambos são decorados com uma coleção de obras feitas localmente, como esculturas, murais e pinturas. “Recebemos muitos pedidos de hóspedes que querem comprar arte e conhecer os artistas”, explicou Vik. O estilista Jason Wu, por exemplo, levou para casa um desenho do artista Marcelo Legrand após ver seu trabalho numa das suítes do Estancia Vik.