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Um pequeno baú sonoro das maravilhas de Rita Lee

Caixa com três primeiros discos solo de Rita Lee é retrato musical e biográfico de sua carreira

Por Thiago Pereira
Publicado em 12 de agosto de 2013 | 11:10
 
 
Nos dois primeiros discos solo, Rita teve a companhia dos parceiros de Mutantes Fernando Ffiúza Sônia Polakiewcz

O primeiro serviço a que se presta esse “Três Tons de Rita Lee” é nos lembrar que a cantora é uma das artistas mais impressionantes e imprescindíveis da música popular brasileira. Claro que ela não está esquecida, mas talvez a essencialidade de sua carreira, sim. Especialmente o começo de sua trajetória solo, muito bem narrada nestes três atos.
A bem da verdade, nos dois primeiros álbuns da caixa ela não estava sozinha. “Build Up” é a tentativa de expandir o nome da cantora comercialmente, para fora do leque Mutante. Desde o título explícito (“Construída”) até o anúncio formal na primeira faixa (“Sucesso Aqui Vou Eu”), a intenção era fazer de Rita uma estrela pop, em um Brasil bafejado pela moda e mídia do final dos anos 1960. Uma terra onde “Coca-Cola no coco dá”, como ela canta em “Hula Hula”. A questão é que Rita nasceu moldada: tirando uma concessão aqui e ali (como hit “José”), o álbum segue o padrão de excelência Mutantes, de quando a torneirinha criativa do grupo jorrava litros e até receita culinária (“Macarrão com Pimenta”) era servida musicalmente.

“Hoje É o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida” é um disco dos Mutantes, com assinatura e desenho de Rita na capa. Toda a banda participa compondo e tocando. Ouvido hoje, soa como a transição exata do que seria uma banda pautada pelos delírios lisérgicos da época, mas sem deixar de lado o humor, as segundas intenções expressas nas letras e interpretações. Do início com “Vamos Tratar da Saúde” ao blues chapado de “Tiroleite”, passando pelo heavy de “Tapupukitiba”, a experimentação é a marca. Aos hoje campeoníssimos corintianos, “Amor em Branco e Preto” retrata um tempo pré-1977,em que sofrer era sofrer mesmo.

Quando a banda virou totalmente a chave para o rock progressivo, o caldo entornou. Rita, que não crê em bruxas (“Pero que las hay, las hay”, como escreveu na canção), foi buscar os ingredientes corretos para a poção mágica que iria mudar o rock brasileiro para sempre. Dispensada dos Mutantes, afogou as mágoas inventando uma outra gramática para o gênero por aqui.

Cometeu de cara um disco clássico, “Atrás do Porto Tem Uma Cidade”, ressaltando as timbragens básicas e rascantes de sua nova banda, o Tutti Frutti.O vocabulário é cosmopolita, corpo Bowie e alma Stones, mas com um toque brejeiro inconfundível.Ela explicita o tesão feminino em uma canção pop (“Menino Bonito”), faz jus à expressão rock “pauleira” em “Ando Jururu”, (do impagável verso “Quero encontrar pelo caminho cogumelo de zebu”) e eterniza um hino pessoal, “Mamãe Natureza”. É o prenúncio nítido para o álbum posterior, sua obra-prima, “Fruto Proibido”. Mas antes temos três provas cabais de que Rita sempre soube das coisas da vida.

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Três Tons de Rita Lee. Box de Rita Lee
. Lançamento Universal Music. Preço em média: R$ 54,90