“Edu Lobo – 70 anos”

Uma vida inteira revista no palco com os amigos 

CD e DVD comemorativo do compositor carioca reúne Chico Buarque e Maria Bethânia “Edu Lobo – 70 anos

Por LUCAS SIMÕES
Publicado em 22 de setembro de 2014 | 03:00
 
 
Encontro. Edu, Mônica Salmaso e Chico cantam juntos “Na Carreira”, também com Bethânia e Bena Lobo canal brasil/divulgação

“Ainda acredito que uma música nunca estará pronta, mas você tem que aceitá-la. É quase um censor que eu tenho aqui dentro e que me atrapalha muito, porque acho sempre que dá pra ser melhor”. Edu Lobo ainda é obcecado por arranjos complexos e admite ser impossível não perseguir a perfeição. Aos 70 anos de idade, o compositor carioca faz jus ao apelido de “neto de Heitor Villa-Lobos” dado com precisão por Tom Jobim, uma alcunha que aparece com elegância de sobra no recém-lançado box que reúne o CD e o DVD “Edu Lobo – 70 anos” (Biscoito Fino).

Com 19 canções no disco e outras 28 no DVD, peneiradas entre as mais de 250 assinadas por Edu Lobo ao longo dos 50 anos de carreira, o álbum comemorativo seleciona o melhor de seu repertório, revigorado pela união das vozes de Maria Bethânia, o filho Bena Lobo, Chico Buarque e a novata no time de intérpretes, Mônica Salmaso. “Todos foram escolhidos a dedo porque marcaram minha história. E Mônica surge como das melhores dessa geração”, diz Edu.

É nos duetos, aliás, que a obra de Edu Lobo se revela de forma cronológica, sob a presença dos arranjos de Cristóvão Bastos no piano e do sexteto bossa-nova formado por Jorge Helder no baixo, Jurim Moreira na bateria, Carlos Malta nos saxes e flautas, Mingo Araújo na percussão e Lula Galvão nos violões.

Diante do time de músicos que o acompanha há mais de 20 anos, Edu Lobo revive ao lado de Maria Bethânia a aura do segundo LP do compositor, “Edu e Bethânia” (1967), interpretando “Pra Dizer Adeus” (1973), e “Cirandeiro” (1967). “São duas músicas que ajudaram a me projetar e me consolidar”, lembra. Os tempos de festivais, ainda que Edu Lobo os considere “coisa pequena na MPB”, são rememorados ao lado do filho, Bena Lobo, que participa quase como segunda voz em “No Cordão da Saideira” (1967), e consegue encorpar os versos de “Ponteio” (1967), canção vencedora do emblemático 3º Festival de Música Brasileira da TV Record.

Maior parceiro de Edu Lobo na carreira, com 42 canções compostas principalmente para trilhas de teatros musicais, Chico Buarque resgata a fase mais contemporânea do amigo. Apresentando pouco viço vocal, o compositor dos olhos de ardósia marca presença tímida em “A História de Lily Braun” (1983) e solta um pouco mais a voz em “Lábia” (2011). Ainda que não pertença ao universo histórico de Edu Lobo, Mônica Salmaso mostra um incrível alcance de voz ao dar nova roupagem para “Valsa Brasileira” (1988).

PALCO. No DVD, o que se vê é um Edu Lobo à vontade, ainda que sem saber ao certo onde enfiar as mãos – em parte por não tocar mais violão há quatro anos, depois de quebrar o braço direito e ficar com sequelas. “Isso me ajudou a parar de me esconder atrás do instrumento e dialogar mais com as pessoas, curtir meu próprio show”, diz. Comunicativo e até dançante, Edu Lobo chega a brincar que “não dá para lembrar de tudo nessa idade”, ao esquecer que, na sequência de “Pé de Vento” (2010), viria “Beatriz”, um dos maiores clássicos composto em parceria com Chico Buarque, em 1983. “Essa ficou eternizada na voz do Milton Nascimento. Cantei sozinho porque ninguém conseguiria substituí-lo. E a música é assim. Eu, como perfeccionista nato, sei bem que em algumas coisas a gente não mexe”, diz Edu.