Aprovada

Vestida de Carnaval

Globo inova nas vinhetas com Erika Moura, a Globeleza, usando fantasias típicas da festa de Momo

Por Da Redação
Publicado em 16 de janeiro de 2017 | 03:00
 
 

São Paulo. Quem já assistiu às novas vinhetas da Globeleza percebeu a mudança. Em 2017, a musa do Carnaval da Globo não está mais com o corpo nu, coberto apenas por pinturas, como nos outros anos. Agora, ela usa fantasias típicas de festas carnavalescas de todos os cantos do Brasil.

A mudança interrompe um costume iniciado em 1991, quando a Globeleza estreou, “na tela da TV, no meio desse povo”, com Valéria Valenssa. Desde então, a Globeleza sempre apareceu nua. “A ideia não era mudar o visual dela, mas enriquecer a vinheta com outros ritmos que compõem o Carnaval brasileiro e que traduzem a festa que toma conta do país”, explica a emissora, em nota.
A mudança agradou a Erika Moura, paulistana que interpreta a Globeleza desde 2015. “O mundo do Carnaval está na minha vida desde sempre. Foi interessante ter contato direto com festas típicas”, conta.

Ela diz que as novas vinhetas têm recebido elogios: “As pessoas falam bem dos vídeos. Todos, incluindo homens, dizem que estão interessantes. Eu não vejo diferença entre a Globeleza pintada e vestida”.

A alteração foi elogiada por pessoas ligadas aos movimentos feministas, que consideravam a nudez da personagem vulgar. Erika discorda. “Nunca vi o meu corpo como um objeto sexual, e sim como um instrumento para a manifestação do Carnaval. Mas, se a mudança agradou, fico feliz. Gosto de fazer as coisas para o público”, afirma.

Ainda por meio de nota, a Globo afirma que a mudança nada teve a ver com deixar de mostrar a Globeleza nua: “A ideia da vinheta tem a ver com a diversidade do Carnaval, que é uma festa popular, vanguardista, inclusiva, contestadora e múltipla. Buscamos um formato que representasse isso”.

Musas aprovam. O novo visual da Globeleza agradou a passistas de escolas de samba de São Paulo. “Achei que ficou mais atraente e mais elegante. É uma ideia inovadora de mostrar o Carnaval”, avalia Ariane Venâncio, destaque de chão da escola de samba Mancha Verde.

Para ela, as novas vinhetas da Globo podem, sim, ajudar a mudar a visão que se tem da mulher no Carnaval. “Essa é uma festa que tem muita sensualidade, o que não é um problema. Mas também não pode usar isso como desculpa para vulgarizar a mulher. O Carnaval não pode ser apenas feito de mulheres com corpões”, afirma.

Outra que gostou do novo visual da Globeleza foi a musa da escola de samba paulistana Vai-Vai Claudia Rossi. “Os vídeos deste ano são maravilhosos. Exibem as festas que fazem parte da cultura do Brasil e desvinculam a imagem sexualizada da mulher no Carnaval, que vai além de corpos nus”, diz Claudia.

Ela acredita, porém, que o modo como as mulheres são vistas no Carnaval ainda vai demorar a mudar. “É uma imagem que vem sendo construída há anos. Sem falar no machismo, que ainda é presente na sociedade”, diz.

Mudanças. As transformações da vinheta de Carnaval da Globo vão além do mundo do samba. A mudança influencia também na forma como a mulher é vista pela sociedade. É o que diz a antropóloga Isabela Oliveira da Silva, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

“A mudança da Globeleza reflete um processo mais amplo sobre como as mulheres são expostas na mídia e como o corpo da mulher é tratado pelos veículos de comunicação. Claro que o fim do machismo depende de uma série de fatores, mas o modo como a modelo está aparecendo é um passo importante para a quebra de estereótipos”, analisa.