Literatura

Vozes e riquezas das favelas cariocas

Escritor Geovani Martins lança seu livro 'O Sol na Cabeça' no Centro de Referência da Juventude

Por Gustavo Rocha
Publicado em 17 de maio de 2018 | 03:00
 
 
Futuro. Martins se divide entre o lançamento de seu livro e a escrita do próximo CHICO CERCHIARO/DIVULGAÇÃO

“O Sol na Cabeça” (Companhia das Letras), do jovem escritor Geovani Martins, 26, se transformou num fenômeno editorial no Brasil e principalmente fora daqui. Nesta quinta-feira (17), o autor estará presente no Centro de Referência da Juventude (CRJ), em BH, para lançar o livro e para conversar com seus (potenciais) leitores. À ocasião, Martins deverá encontrar o público jovem – como sugere o nome – que frequenta o local.

Martins percebe um verdadeiro interesse e a possibilidade de diálogo entre o livro e a juventude. “Posso ver isso com as respostas que venho tendo do público dessa idade, principalmente quando participo de eventos em escolas. Manter a atenção de cem, 200 adolescentes não é fácil. Se acontece, é porque estão realmente interessados. A maioria dos 13 contos do livro fala sobre essa transição entre infância e adolescência, depois vida adulta. São temas próximos de suas realidades, por isso acredito que aconteça essa identificação quase que imediata”, afirma esse carioca nascido em Bangu, zona Oeste do Rio.

Em “O Sol na Cabeça”, é notória a busca de Martins pelo desenvolvimento de uma linguagem própria – uma prosódia que remete ao ambiente sonoro das favelas cariocas. “Independente da linguagem escolhida, nos contos busco sempre deixar a história em primeiro plano. Meu trabalho com a linguagem chega pra ajudar a compor as histórias, aproximar mais o leitor de determinado personagem ou situação, nunca como motivo principal”, destaca.

O escritor acredita que as temáticas universais presentes no livro facilitam o envolvimento de qualquer público. “Trago temas como alegria, medo, ódio, amizade, sentimentos comuns independentemente do contexto social ou cultural”, aponta.

Morador do morro do Vidigal, com passagens por Rocinha e morro do Vasco, Martins largou os estudos cedo e conseguiu trilhar uma trajetória que fez com que a literatura e o desejo pela escrita se tornassem naturais. “Cresci rodeado de grandes contadores de histórias, tanto dentro de casa quanto na rua onde morava. Essas pessoas, sem dúvida, ajudaram a formar meu olhar. Tem também o lance de ter me mudado muitas vezes, estar num trânsito constante pela cidade, sempre descobrindo novas realidades e possibilidades. Tudo isso misturado com o hábito de ler desde muito cedo, a intimidade com o texto literário”, revela.

Rotina. Ao contrário da maioria dos jovens moradores da periferia de sua idade, Martins não se viu na obrigação de contribuir com o orçamento familiar e assim pôde se dedicar à prática da escrita. Para isso, foi importante contar com um núcleo familiar que o apoiasse e entendesse que sua vocação literária poderia ser um trabalho, uma fonte de renda. “Quando fiz esse livro, escrever era minha única ocupação. Escrevia, pelos menos, quatro, cinco horas por dia. Quando passava um dia sem escrever nada, me sentia culpado, obsessivo, até. Passei um ano inteiro escrevendo nesse ritmo, mais do que escrevendo, reescrevendo”, explica. 

E completa: “Depois precisei parar para trabalhar por um tempo, pois não aguentava mais a situação de dependência financeira em que estava vivendo. Foram cinco meses trabalhando na praia sem escrever nenhuma linha, uma completa mudança de uma hora pra outra. Quando apareceu a oportunidade de voltar à Flip, decidi que terminaria de escrever o livro antes de chegar a Paraty, saí do emprego e voltei a escrever todos os dias. Cada vez mais. Hoje, pensando sobre esse processo, foi importante pra conclusão do livro esse período de afastamento”, diz.

Serviço

Geovani Martins lança “O Sol na Cabeça” quinta (17), às 18h30, no CRJ (r. Guaicurus, 50, centro). Além de autógrafos, o escritor vai ler trechos da obra e haverá um bate-papo.