A política de viés conservador encabeçada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro tem pressionado a esfera pública e gerado efeitos que demandam atenção, como tem alertado o filósofo Vladimir Safatle. Ele desembarca em Belo Horizonte, onde participa de duas conferências nesta terça-feira (8) na UFMG, sendo a primeira, às 10h, calcada no seu livro mais recente: “Dar Corpo ao Impossível: o Sentido da Dialética a Partir de Theodor Adorno”.
O segundo encontro está agendado para as 14h e tem como tema “A psicanálise como modelo de crítica à sujeição social”. Ambas serão realizadas no auditório A104 do Centro de Atividades Didáticas II. Safatle observa que em torno do cancelamento da apresentação de espetáculos e do corte de investimentos em editais voltados a iniciativas artísticas há o interesse de se instaurar um movimento de caráter reacionário.
“Ninguém está entendendo que o Brasil está passando por uma revolução conservadora. As pessoas que hoje estão no poder se veem como arautos dessa espécie de revolução. Elas querem, de fato, uma reconstituição ideológica da sociedade brasileira”, pontua Safatle. “Dessa forma, nós temos um governo que, ao mesmo tempo, não se vê como um governo, mas como um movimento. Então, para eles, tanto faz se o país entrar em colapso”, completa o filósofo.
Recentemente, Safatle publicou um artigo (“Chega de diálogo. A partir de certo ponto é apenas inútil”), no jornal “El País”. No texto, o autor discute como a tradição conciliatória entre grupos com interesses antagônicos no Brasil tem contribuído para a manutenção de problemas que eclodem no presente.
“Poderíamos dizer que a Nova República (período posterior à ditadura miliar até o presente) foi uma experiência de grandes coalizões, e, portanto, não tem nada de nova. Os antigos membros do regime militar seguiram atuantes na cena política, o que indica um problema estrutural no país, que é a incapacidade de operar no interior do seu processo político algumas rupturas quando são necessárias”, explica Safatle.
Ele ressalta que a Nova República deveria ter passado a limpo os processos violentos perpetrados pelo Estado. “Todos os crimes da ditadura militar deveriam ser julgados, mas, como nada disso aconteceu, o Brasil criou uma fragilidade institucional que nos leva a viver uma situação que está longe de ser normal para uma democracia”, conclui.
Agenda
O quê. Conferências de Vladimir Safatle.
Quando. Nesta terça-feira (8), às 10h e às 14h.
Onde. Auditório A104 do CADII da UFMG ( Av. Pres. Antônio Carlos, 6627, Pampulha).
Quanto. Entrada gratuita.