Ação, tensão e emoção. Esta é a tríade que move o filme "O Sequestro do Voo 375", que estreia nesta quinta-feira (7), em 564 cinemas e 602 salas, tornando-se o maior circuito de estreia da história de um filme nacional distribuido pela Disney BR. Alguns passageiros que estavam a bordo daquele voo que decolou do aeroporto de Confins (MG), em setembro de 1988, depois de várias conexões e escalas, e foi sequestrado, assistiram ao longa-metragem e deram suas impressões.

 

O carioca Humberto Pessanha, de 66 anos, era um dos passageiros do Boeing da Vasp. Ele confessa que chegou a ter um pouco de taquicardia na sessão em que estava durante o Festival de Cinema do Rio, em outubro. E que literalmente passou um filme em sua cabeça. “Vendo a produção, a gente relembra de como realmente o comandante Murilo teve tranquilidade para conduzir as coisas. Ele foi fundamental para o desfecho. Só assistindo é que as pessoas vão realmente ver o que a gente passou. Se eu não estivesse dentro daquele avião, eu não acreditaria. Acho que o filme tem algumas valorizações e tal, mas conseguiu ser bem fiel à história. E não perde em nada para filme americano. Foi muito bem feito e quero levar meus amigos e alguns familiares para assistir”, diz Pessanha que, na época, era auditor do extinto Banco Bamerindus, e estava a trabalho em Belo Horizonte atuando numa agência no Centro da cidade. 

Após toda essa experiência, Humberto passou a ter uma relação meio complicada com avião. Chegou a viajar algumas vezes depois do incidente por conta do trabalho, mas, desde 1992, não voa mais. “Toda vez que tenho que visitar minha neta em Florianópolis, eu vou de ônibus. Mas eu quero voltar a voar e estou fazendo um tratamento. Então, vamos torcer para tudo dar certo”, anseia.  

A enfermeira aposentada mineira Maria Aparecida Freitas, de 68, também passageira do voo da Vasp, foi outra que aprovou o longa-metragem. Apesar de saber que tem muita ficção, no geral ela acha que a produção foi fiel à realidade. “Achei o filme muito bom, super bem feito. O que mais gostei foi de saber das negociações feitas pelo governo; o quanto não estavam importando com os civis dentro do avião. Iriam abater o avião de qualquer jeito e, os ministros na época, proibindo jornalistas de divulgar qualquer coisa, principalmente, o objetivo de matar o Sarney. E gostei da fantástica negociadora (papel da atriz Roberta Gualda) que era contra tudo isto”, avalia ela que, na época do ocorrido trabalhava no hospital João XXIII em BH, e estava indo ao Rio de Janeiro para terminar um namoro. A decisão acabou sendo adiada e hoje ela é muito amiga do ex.

 

Cida chegou a prestar socorro aos passageiros e a um dos comissários que foi atingido por um tiro disparado pela arma de Nonato e revela que após o ocorrido chegou a fazer terapia durante um tempo. “Mas depois voltei a trabalhar. Tive muito apoio da minha família e dos amigos. Em março de 1989 (cinco meses após o sequestro), eu voltei a viajar de avião sem nenhum medo, o que faço até hoje, pois adoro viajar e conhecer o mundo”, celebra.

 

Joana Henning, a sócia e fundadora da Escarlate, produtora do longa-metragem, acredita que as trocas com pessoas que presenciaram ou tiveram alguma ligação com a história, foram bastante enriquecedoras.

“Quando se trabalha com histórias reais ou com fatos documentais, a gente mexe muito com as pessoas, com as feridas, com as vivências, e cada um vive isso de uma forma completamente diferente da outra. Eu acho que essa escuta é muito rica para a construção dramatúrgica, porque tem vários pontos de vista. E aí junta os pontos de vistas da equipe do projeto, o diretor centraliza e canaliza isso para um recorte, um conceito de filmagem, uma linha narrativa. Sem contar as consultorias que tivemos da aeronáutica, de controladores de voos e pilotos não necessariamente porque a ficção tem que retratar a realidade ipsis litteris, mas porque são fundamentais para que o espectador embarque de fato na trama sem questionar. Você se sente ali na história”, salienta Joana.