“Não tinha parado para pensar que já passei ⅓ da minha vida aqui”, surpreende-se Renato Cordeiro, 34, coordenador de produção técnica do Sesc Palladium, que comemora, neste agosto, dez anos como uma das casas culturais mais importantes e ativas de Minas Gerais. “Esse espaço é minha primeira casa – a segunda é onde vou descansar”, completa. Há uma década, Cordeiro é um dos muitos funcionários que fazem a roda do Palladium girar.
Para ser mais exato, são dez anos e seis meses, já que o produtor fez parte, como operador de luz, da equipe que participou das adaptações e ajustes estruturais do espaço, que duraram seis meses até as portas se abrirem ao público naquela noite belo-horizontina de 3 de agosto de 2011, uma quarta-feira que ainda permanece em sons e flashes na memória do rapaz.
A fila de uma ansiosa plateia dava volta no quarteirão. Horas depois, no palco, Milton Nascimento, Lô Borges, Wagner Tiso, Toninho Horta, Fernando Brant e Márcio Borges se preparavam para iniciar o show quando Renato Cordeiro se deu conta do que estava prestes a presenciar: “Lembro que até arrepiei quando abriram as cortinas para o Clube da Esquina e o Milton começou a cantar ‘Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor’. Não segurei as lágrimas. Foram três minutos de choro… Um choro de contemplação e realização por ter conseguido, junto a uma equipe e ainda muito novo, fazer parte daquilo tudo. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida: era o início de uma grande jornada”.
Ao falar dessa década de Sesc Palladium, é preciso lembrar que a história começou em julho de 1963, com a inauguração do Cine Palladium, o cinema mais espaçoso, luxuoso e importante de Minas Gerais por muitos e muitos anos. O espaço sobreviveu a um incêndio, em 1972, mas não ao fechamento, em 1999. Após 12 anos sem o burburinho das plateias, o centro cultural voltou a ocupar a rua Rio de Janeiro e a avenida Augusto de Lima, no centro. E voltou com a proposta de ser, além do cinema, o ponto de encontro democrático e diverso da música, do teatro, da dança, das artes visuais e da arte contemporânea.
Essa vocação cultural não foi deixada de lado nem na pandemia. Gerente do Sesc Palladium desde 2019, Priscilla D’Agostini logo se viu diante de uma situação tão inesperada quanto desafiadora. A reinvenção, palavra tão falada nos últimos tempos, teve de virar verbo, mesmo quando o espaço ficou fechado por mais de um ano. Criar uma programação pensada para as plataformas digitais foi só uma das estratégias do centro cultural.
“Ficar sem cultura é angustiante. Cultura é vida, afeto, senso crítico. Nesse momento de pandemia, por mais que os encontros presenciais não tenham acontecido, a cultura teve um papel muito importante na casa de todas as pessoas”, comenta. Agora, com a retomada gradual, o lema da equipe do Palladium é colocar as ideias em movimento. “Vamos trabalhar a programação artística, mas também investiremos em capacitação da cadeia produtiva e criativa da cultura”, completa Priscilla.
A gestora diz que o Sesc Palladium já vem de um histórico de um cinema que ficou no coração dos belo-horizontinos, e a gente deu continuidade de trabalhar junto com a cidade, com diversos tipos de públicos e segmentos. Para ela, a marca desses últimos dez anos é a diversidade. “Buscamos promover encontros entre público, artistas, formadores de opinião. Com a pandemia, tivemos de expandir esse olhar, o futuro é sempre agora”, afirma Priscilla D’Agostini.
Valorização do artista local
Em 2015, a atriz, diretora e dramaturga mineira Rita Clemente inaugurou o projeto Criações de Bolso, no Teatro de Bolso do Palladium, com seu monólogo “Amanda”. Em 2017, Rita apresentou também “Antes do Fim” no centro cultural. Além de promover o diálogo entre artistas de diversas linguagens e regiões do país, o Sesc Palladium é a casa da arte mineira e exerce essa vocação ao abrigar, fomentar e divulgar projetos de nomes do Estado, conforme diz a atriz.
“Sinto no Palladium uma intenção de não abandonar o artista local. É fundamental que uma instituição cravada aqui na capital fomente essa atividade artística. O Sesc Palladium, esse espaço tão importante para se pensar a arte, me fala sobre a necessidade de valorizarmos cada vez mais os profissionais que trabalham em Minas. Somos um povo muito rico de criações e de profissionais.”
Programação celebra aniversário
A data especial não poderia passar em branco, sobretudo em tempos de flexibilização e reabertura dos espaços culturais em Belo Horizonte durante a pandemia. Por isso, agosto será um mês recheado de atividades no Sesc Palladium. O cinema terá lugar especial nas comemorações, com a exibição, neste domingo (15), no Grande Teatro, do filme “A Doce Vida”, de Federico Fellini, dentro da mostra “Clássicos do Palladium”.
“É uma forma de homenagear o Cine Palladium. Estamos prezando muito pela segurança, acolhimento e afeto”, comenta Priscilla D’Agostini. “Cinema Fantástico”, “Festival do Minuto” e “Mulheres no Protagonismo” também exibem produções nacionais e internacionais.
Nos dias 14, 21 e 28, o #TemTodoSábado continua mesclando atividades virtuais e presenciais e traz uma programação para crianças e famílias. Destaque também para o “Sarau Literário: Cartografia Afetiva”, no dia 25, às 20h, com participação do jornalista, poeta e crítico literário Fabrício Marques, do poeta marginal e MC João Paiva e da multiartista Isabela Alves. Não ficaram fora da agenda comemorativa de agosto os workshops de formação criativa do projeto Sessão Dez4Meia, com três encontros virtuais (dias 10, 19 e 24) para troca de ideias sobre educação, economia, criatividade e negócios.
Outra novidade fica por conta da inauguração da exposição “BH: Cidade Fantástica”, que fica em cartaz de 31 de agosto a 30 de abril de 2022. A curadoria é dos arquitetos Felipe Martins e Guilherme Pertence, com concepção dos artistas Paulo Marcelo Oz e Raul Pixel. “A ideia é que o Sesc Palladium seja tomado por um parque de diversões, uma recriação de BH de uma maneira lúdica”, explica Priscilla. Confira a programação completa no site do Sesc Palladium ou no Instagram.
Novidades na agenda
A partir de outubro, o Sesc Palladium vai oferecer cursos continuados de artes visuais e artes cênicas para crianças. Haverá, também, atividades de formação para técnicos: práticas de iluminação, sonorização e audiovisual para apresentações e eventos. Já em 2022, o mundo dos games vai ocupar o centro cultural com campeonatos e cursos de desenvolvimento. “A pandemia nos mostrou que aprendizado é todo dia”, afirma Priscilla D’Agostini, gerente do Sesc Palladium.