Farinha, leite, ovos, açúcar, manteiga e fermento. Qualquer cozinheiro pode imaginar os ingredientes básicos de um bolo dando origem ao quitute fofinho e com cara de lanche da tarde. Mas, e se entrarem polvilho, queijo e outros itens? Será que dá bolo? Claro. Bolo de pão de queijo, com aparência que pode até confundir. E essa é a intenção de chefs e cozinheiros inventivos de BH. Suas criações trazem misturas que parecem uma coisa, mas são outras ensinando a nem sempre confiar nos olhos, já que a imaginação e a previsibilidade, nesse caso, com certeza vão enganá-lo.

É o caso, então, do bolo de pão de queijo da Casa Faví, marca com menos de seis meses que comercializa seus itens por encomenda e na House of Food BH. “É o nosso produto que mais faz sucesso. Todo mundo pensa que é doce, e a surpresa está no fato exatamente de ser um bolo salgado”, conta a empresária Viviane Ruffo, sócia ao lado de Fabiana Martins. A receita, cheia de segredos, foi criada pela avó de Fabiana e já representa metade das vendas da dupla, mas elas revelam que há sempre uma resistência inicial. “Principalmente quando participamos de feiras, vemos que todo mundo estranha, questiona”, diz Viviane.

Essa desconfiança não é coisa de mineiro arredio. Ao mudar a forma de uma apresentação, o cozinheiro faz uma aposta que pode ser ou não bem-sucedida. “Existem estudos da neurogastronomia, uma área nova, provando que o corpo percebe o alimento com todos os sentidos. Então, nós formamos uma imagem da comida no cérebro antes de senti-la pelo olfato e pelo paladar. Se esperamos algo doce e está salgado, vamos ter um choque, e o cérebro vai precisar se reorganizar. O resultado, se vamos apreciar ou não, depende de como aquele alimento nos remete à infância, momento mais importante para a concepção da alimentação”, explica o professor Hans Eberhard Aichinger, especialista em gastronomia do Senac-MG.

E que criança mineira não adora pão de queijo? Certamente por isso Viviane e Fabiana percebem que o receio dos clientes vai embora quando experimentam o bolo. “Sempre damos uma provinha e, então, só ouvimos elogios”, diz Viviane, que sugere servir a fatia com uma pastinha de tomate levemente picante, que faz aqui o papel quase de calda.

O tomate, aliás, tem sido um ótimo aliado dos chefs para sair do óbvio. Na Lullo Gelato, ele serviu de base para a criação de um sorvete salgado, que leva, ainda, azeite de oliva e manjericão. A mistura foi criada na última semana em homenagem ao Dia da República Italiana e à integração entre as culturas. Também é novidade o sorvete de pão italiano. Gelatos salgados podem ser consumidos puros ou até com saladas. “Cheguei a essas receitas ao pensar na bruschetta caprese, que todo mundo ama. Ainda assim, quando alguém vai experimentar o gelato, aviso que será diferente, e as pessoas têm-se surpreendido positivamente”, diz a mestre-sorveteira Cristiane Temporão.

Para o preparo dar certo, ela precisou ter bastante parcimônia na dosagem de açúcar, ainda presente, e sal. Em sentido inverso, do sal para o doce, parecer ser tudo mais fácil, vide a proliferação de criações. Dos harumakis, rolinhos primavera que agora não levam recheio de legumes, mas de chocolate e morangos, às pizzas doces, os chefs querem é novidade. No Porcão, dá para provar, por exemplo, o sushi de chocolate, criado durante uma semana de Páscoa pelo chef Gladson Bezerra. “Queria uma proposta diferente para o bufê, e fez sucesso, então não tirei mais. Hoje, ele está no rodízio e é feito quando o cliente pede”, explica. O arroz oriental ganha companhia de lascas de chocolate ao leite ou branco, ou mesmo granulado e calda. Por dentro do bolinho, pode haver frutas ou salmão. Para acompanhar, um molho teriyaki com shoyu e calda de chocolate meio amargo. “Os adolescentes são os que mais pedem”, explica Bezerra.

No restaurante italiano Est! Est!! Est!!! não há idade para provar o salame de chocolate, receita clássica do país europeu. O nome é devido ao formato parecido ao do embutido, mas, no lugar de carne, entra uma mistura cremosa do doce com biscoitos picados. “Minha avó fazia muito, e incluí no cardápio para homenageá-la”, diz o chef Simone Biondi. A origem da receita é incerta, mas ela é tradicional da região de Roma. Claro que não é privilégio da cozinha internacional, italiana ou asiática, por exemplo, ser base para criações doces que parecem salgadas. Até a clássica feijoada entrou nessa. Ganhou versou com sorvete no Rima dos Sabores e ficou quase idêntica visualmente a sua irmã salgada. “Ela é feita apenas de balas, sorvetes, bolinhas de chocolate, farofa de amendoim e, no lugar da couve, hortelã picadinha”, ensina o chef Juliano Caldeira.

Motivação. A necessidade de inovações fez o empresário Gustavo Graça, do Slow Burger, incluir hambúrgueres doces no cardápio.

Fama. O sucesso foi imediato, maior do que ele previu. As fotos ganharam as redes sociais e Gustavo foi parar até no programa da apresentadora da Ana Maria Braga, na Globo. “Comecei com três opções doces, e agora já são cinco”, diz.

Segredo. O truque é o pão – um pretzel ao leite (ou de cacau) que não é nem muito doce, nem salgado. “O sanduíche fica equilibrado. Fiz várias combinações até chegar a essa receita do pão, feita sob encomenda”, explica.

Views. Nas redes sociais, há ainda dois preparos curiosos do tipo que têm feito sucesso em Minas: uma cozinheira de Governador Valadares prepara a coxinha em formato de cupcake: no lugar de confeitos doces, usa bacon para salpicar, por exemplo. Em BH, outra criou um bolo em formato de marmita.

Serviço

Churrascaria Porcão. Av. Raja Gabáglia, 2.671, São Bento, (31) 3293-8787

Est! Est!! Est!!! Av. Getúlio Vargas, 107, Funcionários, Belo Horizonte, (31) 2526-5852

Lullo Gelato. R. Antônio de Albuquerque, 617, Funcionários, (31) 3656-0625

Rima dos Sabores. R. Esmeralda, 522, Prado, (31) 3243-7120

Slow Burger. Av do Contorno, 5.713, Savassi, (31) 3646-9555

Casa Faví. Encomendas pelos telefones (31) 99290-8484 e 99158-6523 casafavi@casafavi.com.br.