Fogo

Festival de Tiradentes destaca o preparo na brasa para além da carne bovina

Evento dialoga com a cultura do churrasco, mas busca valorizar diversidade de insumos

PUBLICADO EM 25/08/19 - 13h22

Tiradentes, MG. Um dos principais destaques do primeiro fim de semana do Festival Cultura e Gastronomia Tiradentes, que ocorre até 1º de setembro na cidade histórica no Campos das Vertentes, foi a maior valorização do uso da brasa em pratos apresentados ao vivo ao público. O espaço Brasa e Lenha, neste ano, ocupa dois lugares e recebeu uma variedade maior de insumos - na tentativa de expandir o conhecimento sobre o tema e promover um diálogo com o modo de fazer de Minas Gerais. Jacaré (inteiro) e peixes de rio de água doce, como o filhote, foram alguns dos exemplos de ingredientes neste fim de semana.

A curadora gastronômica do festival, Luiza Fecarotta, explica que esse tipo de preparo recebeu atenção especial não por estar na moda - referindo-se, aí, a ascensão de eventos no estilo churrascada por todo o país. "Na verdade, o cozimento na brasa é uma coisa que pertence ao homem desde que a culinária nasce. O fato de você cozer e assar é que permite formas mais sofisticadas de fazer o alimento. O mais importante é que o fogo transforma a sociedade, não apenas a comida. Uma fogueira num campo é um lugar de convívio", comenta Luiza. "Então, não tem a ver com a moda, nossa intenção de ir para a brasa tem a ver com o fato de que tudo isso remete a Minas Gerais, porque a gente entende que a cozinha mineira é um dos símbolos do Estado, e a hospitalidade é uma coisa que está na base da sociedade mineira, que ela transmite esse valor para o Brasil, é um dos pilares da organização social em Minas", completa. 

O chef Marcílio Galeano de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, pontua que valorizar esse estilo de preparo é voltar aos olhos para a tradição. "No Mato Grosso do Sul a gente cresce fazendo churrasco, e estamos elevando isso a outro patamar. A gastronomia está acontecendo, as pessoas estão dando mais valor", comenta. Ele explica que, além do visual, o fogo de chão permite um controle adequado das temperaturas para o preparo. "A cocção é mais exata. Para o jacaré, por exemplo, mantenho a temperatura entre 110 e 120 graus por quatro horas para a carne não endurecer. Quando ele atinge 65 graus internamente, é o momento de servir", ensina. 

À frente do restaurante Santa Chicória, em Belém, no Pará, que mudou de endereço recentemente com a intenção de dar mais espaço para o uso da brasa e da lenha, o chef Paulo Anijar trouxe ingredientes típicos do Estado, como o camarão de água doce, para o evento, e elogia o resultado obtido no método. "Brasa agrega sabor. E é um elemento que não é certo, te traz surpresas que frigideira e forno não te dão. Essas técnicas trazem um gosto parecido, daí surgiu esse meu interesse sobre brasa, lenha. A brasa é um diferencial no resultado do alimento", defende.

No próximo fim de semana, outros nomes da gastronomia nacional assumem os preparos no espaço. Veja a agenda:

Espaço Brasa & Lenha Praça da Rodoviária

30 de agosto

18h André Mobrine (CFM Gastronomia, Vitória, Espírito Santo): peixe dentão ao capixaba;

31 de agosto

13h André de Melo e Paulo Vasconcellos (Seu Burguer, Belo Horizonte): hambúrguer artesanal;

17h e 21h Antonio Costaguta (El Topador): Cordeiro na cruz com salsa criolla e moranga no rescaldo;

1 de setembro

13h Antonio Costaguta (El Topador): Costela fogo de chão com legumes no rescaldo e farfa;

Espaço Brasa & Lenha Praça Sesc Campos das Vertentes

30 de agosto

20h Kiki Ferrari (Chefn'Boss, Belo Horizonte): porco;

31 de agosto

14h e 20h André Mobrine (CFM Gastronomia, Vitória, Espírito Santo): peixe dentão ao capixaba;

1 de setembro 

12h Kiki Ferrari (Chefn'Boss, Belo Horizonte): porco;

A repórter viajou a convite da organização do evento.