PEIXE

Puxando a brasa para a sardinha

Sempre tido como alimento popular e sem glamour, o peixinho será tendência em 2017, segundo pesquisa gastronômica, e mostrará que é muito mais do que uma carne barata e de fácil preparo

PUBLICADO EM 04/12/16 - 02h00

Quem visitar Portugal de junho a setembro vai se deparar com churrasqueiras assando sardinhas e um cheiro característico pelas ruas. O peixinho, talvez o mais barato do mercado, virou símbolo do país europeu e, no de cá do Atlântico, também se tornou popular. Agora, é ainda mais especial. É que, de acordo com uma pesquisa de tendência do Sterling-Rice Group, que fica em Boulder, no Colorado, a sardinha entra na lista das dez tendências gastronômicas para 2017.

Nós, brasileiros, nos acostumamos com as famosas sardinhas em lata, compradas em supermercados, mas é importante ressaltar que, além da conserva, a sardinha in natura é um ingrediente versátil, que funciona muito bem em diversas receitas. É o que explica Raffaele Autorino, chef do restaurante Pecatore, especializado em peixes e frutos do mar. “A sardinha vai bem com muitas coisas. Você pode fazer conserva, fritar, grelhar, fazer um molho para massa. É um peixe com um sabor inconfundível”, explica Autorino. “Mas é importante deixar claro que a sardinha fresca, como qualquer outro peixe, é mais saborosa”, ressalta. O Pecatore é conhecido por servir o peixe fresco retirado do aquário à escolha do cliente. O período de defeso da sardinha, ou seja, quando fica proibida a pesca para que a espécie possa se reproduzir, é de novembro a fevereiro, e depois, no meio do ano, de junho a julho. Nesse caso, durante o período, encontram-se no mercado apenas sardinhas congeladas ou em conservas de lata.

Tendência. Eduardo Maya, que é professor de gastronomia e apaixonado pelo peixe, afirma que a sardinha vem-se consolidando como tendência, pois segue o caminho da culinária contemporânea. “Hoje as pessoas estão utilizando os ingredientes do mercado, do dia a dia, para fazer seus pratos, e a sardinha é uma boa, um peixe barato, fácil de encontrar e muito saudável”, destaca ele.
Os peixinhos são ricos em vitaminas e ômega 3, como o salmão. “A sardinha pode ter ainda mais ômega 3 que o salmão, pois muitos dos que compramos aqui veem de criatórios e são alimentados com ração e betacaroteno para a carne ficar mais rosa. Isso faz com que eles percam um pouco de suas propriedades nutricionais”, diz Maya.

Apertadinhas. As sardinhas enlatadas também têm seu lugar. É o que defende Maya. “As pessoas têm o preconceito de que sardinha em lata é ruim. Existem boas latas, principalmente de sardinha importada. Elas vão bem com um pão, na pizza, em uma massa”, explica. “Em Portugal e na Espanha, bons restaurantes fazem seus pratos com sardinhas em lata, mas, claro, boas conservas, com pimenta, bom azeite e bom tempero”, completa.

O gastrônomo fundou há mais ou menos 16 anos o festival beneficente Tainha com Sardinha, que acontece anualmente na capital mineira. Maya serve tainhas assadas e uma conserva de sardinha, preparada por ele, com tomates, ervas, azeite, azeitonas e palmitos, acompanhada por pão.

Segundo ele, a paixão pelo peixe vem dos tempos em que morava no Rio de Janeiro e costumava se deliciar com as sardinhas servidas em alguns bares da Cidade Maravilhosa. Ele guarda boas lembranças. “Eu me lembro de ir com meu pai e minha filha ao Mercado de São Pedro, e a sardinha chegar direto do mar e ser frita. Isso é um experiência única! Ver aqueles pescadores trazendo a sardinha e ela sendo frita no fubá na hora”, relembra.

Para Maya, “boteco que é boteco tem uma boa sardinha”. “O Brasil herdou a alma dos bares portugueses, e muitas casas têm essa característica. Servem aquela sardinha frita com limão. Isso com uma cerveja gelada é muito bom”.


Serviço

Pecatore
Rua Sapucaí, 535, Floresta,
(31) 2552-1450

Taberna Baltazar
Rua Oriente, 571, Serra,
(31) 3223-7908

Bar do Português
Rua Frutal, 455, Santa Efigênia,
(31) 3482-3040


Uma casa portuguesa, com certeza!

Na Taberna Baltazar, no bairro Serra, a sardinha que é servida nas mesas é portuguesa. Quem conta é Flávia Baltazar, filha de portugueses e dona do estabelecimento. “A gente utiliza a sardinha portuguesa, que é um pouco maior que a nacional”, explica. No restaurante, além de alheiras e bacalhau (pratos lusitanos), as sardinhas são um sucesso. A receita é tipicamente portuguesa: sardinhas empanadas com fubá e fritas, em uma porção de quatro unidades, acompanhadas de molho escabeche (tomate, cebola, vinagre e ervas), além de batatas ao murro e pimentões grelhados.

Dona Tereza Baltazar, uma das fundadoras da Taberna e a responsável pela cozinha, conta que em Portugal a sardinha era o peixe mais barato e que tem lembrança de seus tempos de menina vendo as sardinhas serem assadas no quintal. “Sardinha era o prato da casa, o mais barato, a gente não comia muita carne. Hoje, ela ficou mais cara, mas ainda é bem popular”, explica.

Além da tradicional sardinha frita, a Taberna Baltazar grelha o alimento em churrasqueiras todo último sábado do mês, remetendo às ruas de Portugal no período mais propício do peixe. “Usamos sardinhas temperadas com sal grosso, e, assim como é feito em Portugal, não limpamos as tripas”, conta a proprietária. É que naquele país, as sardinhas são assadas sem que se limpe as vísceras, isso para que o peixe não resseque. “Há quem ache forte, há quem não sinta e há aqueles que limpam no prato”, conta Flávia.

Seguindo a mesma tradição, um bar no bairro Santa Efigênia traz uma receita de família vinda das terras portuguesas. O Bar do Português serve sardinha frita a unidade, da mesma forma que se serve nas tascas (pequenos restaurantes) de Portugal.

“Nossas sardinhas são empanadas no fubá e fritas em seguida, acompanhadas de limão”, explica Jorge Luis Frade, filho de portugueses e dono do bar.