Não é todo mundo que se arrisca a prever o futuro. Afinal, antecipar com exatidão o que os próximos meses e anos vão trazer é difícil, já que o mundo e as pessoas são, por natureza, imprevisíveis. Mesmo assim, quem se propõe ao desafio tem sinais, números e dados para tentar apontar como algum setor ou atividade vai se comportar. Na gastronomia, não é diferente. É possível analisar os cenários atuais e prever as tendências – e se antecipar a elas – do que vamos comer e beber no futuro. Personalidades da gastronomia de Belo Horizonte, convidados por O TEMPO, decidiram revelar seus palpites de apostas para os próximos meses.
Uma delas já está em um nível mais avançado nacionalmente falando, principalmente nos restaurantes: porções menores para serem compartilhadas, sendo, assim, a oportunidade de aproveitar a experiência gastronômica explorando mais sabores no cardápio e, consequentemente, evitando o desperdício. Para o jornalista gastronômico Nenel Neto, criador do perfil Baixa Gastronomia, as pequenas porções poderão chegar aos botecos. “As pessoas querem experimentar mais coisas. Sei que a nossa tradição é farta, e isso é muito importante. Mas também queremos compartilhar em porções menores e mais variadas. E tem aquela história: boêmio não come, boêmio belisca, né?”, diverte-se. Bares que já oferecem tal opção há mais tempo é o bar do Dudi, no Anchieta, e o bar do Toninho, que serve quitutes árabes e receitas sírias.
E, por falar em boteco, uma das apostas para os próximos 12 meses é explorar ainda mais os endereços na cidade. Marcelo Wanderley, produtor e criador da plataforma gastronômica Cumbucca, acredita que a busca pelas experiências fora da rota deve ser cada vez mais explorada em novas regiões da cidade. “Principalmente no centro, que já se encontra em processo de revitalização com comidinhas e drinks autorais, e também em bairros antigos de BH, como no Carlos Prates e Lagoinha. É o simples preparado com carinho e personalidade”, acredita. Assim como Nenel, esses lugares prezam também para que a refeição seja cada vez mais compartilhada – ou considere quem estiver sozinho. “Os tradicionais tira-gostos devem ficar cada vez mais pop-up, absorvendo maior adesão e levando o cliente a experimentar mais opções”, disse, citando como exemplo o bar Pirex, na galeria São Vicente, o Baixaria, no Edifício Central, e o Forno da Saudade, que fica no bairro Carlos Prates.
Brasa e lenha
No que diz respeito a ingrediente, vale lembrar que, em 2023, muitos endereços colocaram os vegetais como protagonistas em vários menus, não só pela conversa com o crescimento do vegetarianismo e do flexitarianismo, mas também pelos chefs que transformaram vegetais em preparos sofisticados e deliciosos explorando várias técnicas. Para a jornalista gastronômica Carolina Daher, que também é curadora do Festival Fartura Gastronomia, para 2024 as carnes serão as estrelas dos pratos, principalmente em preparos guiados pela culinária de fogo em cocções inesperadas. “Cortes diferenciados, em todos os tipos de proteína, principalmente frutos do mar, com um certo requinte, vão estar mais na moda do que nunca”, pontua ela, citando alguns endereços em Belo Horizonte que já trabalham tanto com preparos na brasa quanto com variedade de proteínas e cortes, como Osso, Hacienda 1979, Turi e Parrila del Mercado.
Previsão de atenção aos produtos locais
Outro ponto que chama atenção em relação aos ingredientes foi destacado em uma publicação internacional, a “Baum+Whiteman”. Uma das previsões apontadas para o mercado americano – mas que pode influenciar todos nós, afinal, vivemos uma era digital – foi a tendência de enlatados diferenciados, como os frutos do mar, chamados de “seacuterie boards”. O relatório cita, inclusive, como exemplo, iguarias como barriga de atum em azeite e anchovas artesanais.
Em contramão às latas, o gastrônomo e idealizador do Projeto Aproxima e da pizzaria Pitza 1780 Eduardo Maya acredita que estaremos ainda mais atentos aos produtos locais. “É uma continuidade pela valorização dos nossos produtos e entendimento do que estamos comendo e a origem de cada ingrediente, deixando, cada vez mais, os ultraprocessados de lado”, disse ele.
Por outro lado, os enlatados podem chegar a expandir no mercado de bebidas, como coquetéis, cervejas e vinhos em suas versões em latas, já prontos para serem consumidos – com a certeza de 5% a 6% de graduação alcoólica, como aponta o consultor de bares Filipe Brasil. Além disso, “cervejas, vinhos e experiências de coquetelaria sem álcool, que começaram em 2020, devem ganhar mais força em 2024, principalmente por meio de marcas consolidadas”, pontua.
Vale dizer que as buscas por cerveja sem álcool, por exemplo, bateram recorde no mundo em julho de 2023, segundo o Google Trends. Nos últimos cinco anos, a procura pelo assunto aumentou 80% globalmente e 60% no Brasil, principalmente para quem quer beber com qualidade, mas não quer os efeitos do álcool. Ele ainda pontua outras apostas que seguirão em 2024 para a coquetelaria. “Mistura de cozinha e bar, além do rum como destilado. Estamos com cerca de oito marcas em produção e vendendo só no Brasil, sem contar outras que estão planejando para ser lançadas”, disse.