Saúde mental

Entenda o que é a terapia breve e como ela funciona

Abordagem mais dinâmica oferece oportunidade de lidar com questões mais urgentes

Por Da Redação
Publicado em 18 de dezembro de 2023 | 07:00
 
 
saiba-o-que-e-terapia-brevejpeg Foto: Prostock-Studio/iStockphoto

Mesmo que os cuidados com a saúde mental sejam cada vez mais recomendados e que o tema faça parte das principais discussões na atualidade, cuidar da mente ainda pode ser algo cercado por estigmas. Um deles, inclusive, tem relação com a própria duração dos tratamentos que, a depender da abordagem escolhida e das questões tratadas, pode se estender por um longo tempo. Apesar de os formatos mais conhecidos de terapia não terem, à priori, uma duração definida, é possível encontrar abordagens que são mais dinâmicas. É esse o caso da terapia breve, tratamento que começou a se tornar mais popular a partir dos anos 2000 e que tem como características ser menos extenso. 

Especialista em terapia breve sistêmica, a psicóloga Lilian Garate explica que essa abordagem costuma utilizar um parâmetro médio de 16 sessões, período em que o paciente é avaliado. “Se há alguma pendência, podemos flexibilizar, mas também é possível que o paciente seja liberado antes”, afirma. 

Embora tenha um caráter mais rápido que o dos tratamentos mais conhecidos, a terapia breve não é um tratamento apressado e não tem esse objetivo. A sua principal diferença é se desenvolver de forma mais centralizada. “O nome não vem tanto da questão do tempo, mas sim porque trabalhamos com uma questão. A gente direciona o trabalho para um foco e acaba tendo uma terapia mais breve”, explica a psicóloga. 

Em outras palavras, esse tipo de abordagem tem como ponto principal a solução da questão apresentada pelo paciente. “Já na primeira sessão, trabalhamos, com o paciente, a identificação de alguma meta, de algum objetivo que seja mais claro, perceptível para a própria pessoa e significativo para ela. É como se fosse uma viagem, posso pegar o carro e dizer para onde eu vou e escolher por onde eu começo”. 

A partir dessa identificação, são utilizadas estratégias que guiam a prática terapêutica até o ponto desejado pelo paciente. “Esse também é um tratamento que permite que a pessoa entre em contato com seus próprios recursos, com o que ela tem de crenças, suas alternativas e com formas possíveis de ela levar a vida de maneira mais criativa”.  Ou seja, mesmo que o trabalho tenha um foco, os aprendizados e estratégias não precisam se restringir somente ao trato do problema apontado pelo paciente.  “A pessoa vai se apropriando da capacidade de lidar com outras coisas também”. 

Tratamento direcionado

Ao invés de passar por um trabalho que busca as raízes dos problemas ou dores emocionais das pessoas, a terapia breve tem uma orientação mais focada no presente e no futuro. A intenção é ajudar a criar estratégias mais concretas para os desafios que estão sendo enfrentados naquele momento. “A urgência da dor emocional tende a fazer com que esse tipo de terapia seja procurado. É um momento em que os pacientes notam que precisam realmente da resposta da forma mais rápida possível. Não em um sentido de trabalho sintomático, não é como um analgésico, mas sim tratamento que tem como objetivo que a pessoa consiga encontrar uma estratégia que sirva para que ela se sinta melhor”, esclarece a psicóloga, pontuando que é possível notar evoluções a cada sessão. 

Outra característica da terapia breve é a maior autonomia do paciente durante o tratamento.“A pessoa é parte ativa do processo, é ela quem vai decidir a meta, com o nosso apoio, mas a decisão é dela. O ritmo também vai ser negociado, não é uma definição apenas do terapeuta”, explica Lilian. 

A psicóloga conta ainda que durante a terapia é trabalhada a motivação do paciente pela mudança, para que a transformação seja um desejo da pessoa. “Trabalhamos com o conceito de que é uma terapia sob medida, como se fosse um processo de alfaiataria, sob medida para cada um. Para isso, o paciente precisa ter voz ativa e escolher o que vai funcionar para ela, de uma maneira que ela também se reconheça”. 

A terapia breve também costuma ter um caráter mais leve, principalmente por ter um foco mais prático, apontado para os recursos que podem ser utilizados pelo paciente para lidar com a questão que tem causado problemas. “Não é ignorar as dores e olhar apenas o lado bonito da vida. A gente acolhe as dores, mas traz, com elas, a capacidade de lidar com aquela situação. E isso é algo que traz mais leveza e que o paciente pode levar para a vida em um sentido mais amplo”, afirma. 

Além disso, a abordagem mais dinâmica pode ser uma boa estratégia para ter um alcance mais amplo, já que é mais acessível, por ter um número limitado de sessões, e também se difere das formas mais tradicionais, que ainda são cercadas de estigmas. “De fato, muita gente aceita ou procura pela terapia breve a partir dessa premissa de que não vai ficar a vida inteira em terapia”, conta a psicóloga. 

Ela pontua que esse contato com um formato diferente de tratamento psicológico também pode ajudar a modificar o olhar diante do próprio processo terapêutico. “Existe ainda um preconceito, as pessoas acham que é para alguém que tem algum tipo de transtorno, mas enfrentamos crises o tempo todo e a terapia breve traz muitos recursos para lidar com elas”. 

Terapia breve é indicada para casos variados

A psicóloga Lilian Garate afirma que não existem casos específicos para os quais a terapia breve é indicada, já que o tratamento pode gerar resultados para questões variadas. Apesar disso, existem situações em que a abordagem costuma ser mais utilizada. Entre eles estão processos de mudanças de hábitos e crises específicas, como transições da escola para a faculdade, o Enem, divórcios, mudanças de emprego e problemas familiares. 

"Por ser mais focalizada, a terapia breve também desempenha um papel importante no ambiente hospitalar, sendo utilizada para tratar pacientes internados, pessoas que recebem diagnósticos de doenças crônicas, aquelas que passarão por cirurgias ou até mesmo familiares enlutados.

“Ela pode ser aplicada nos mais diversos contextos, a questão da terapia, independentemente de ser breve ou não, ela tem muito a ver com o momento de vida da pessoa e o encontro com o terapeuta. Mais do que a técnica em si, a parceria e a sintonia que se dá com o psicólogo é o que traz a melhor garantia de resultado”, conclui.