São muitos os debates que os mamilos, por vezes polêmicos, suscitam. Com regularidade, por exemplo, pipocam relatos de mães constrangidas ilegalmente ao amamentarem seus filhos em espaços abertos. Há também um histórico debate sobre a censura de seios entendidos como femininos em detrimento de o peitoral visto como masculino ser liberado a ser exibido. Uma regra, aliás, que muitos apontam ser incoerente, mas que vale tanto para ambientes públicos, como praias, em que mulheres são vetadas de fazer topless, quanto para redes sociais, como o Instagram, que proíbe esse tipo de publicação. São questões que, em comum, buscam deslocar o órgão de uma perspectiva erótica – e até obscena – para uma visão mais naturalizada do corpo. O que não significa que, a depender do contexto e do desejo da pessoa, essa região não possa, também, ser uma fonte de prazer sexual. Há, inclusive, estudos demonstrando que, para alguns, a estimulação das mamas, por si, pode levar ao orgasmo.
A terapeuta sexual psicossomática Tami Bhavani explica que o fenômeno é possível porque a estimulação adequada dos mamilos, sejam eles femininos ou masculinos, tende a gerar a liberação de muita ocitocina no organismo. “E esse é um dos hormônios potencializadores do orgasmo”, expõe. “Além disso, quando a pessoa está excitada, há até uma ereção, tanto que o bico da mama fica enrijecido, o que significa haver grande irrigação sanguínea na região, cujas terminações nervosas estão conectadas ao córtex sensorial, o que faz que a pessoa sinta grande sensação de prazer”, expõe.
Já a terapeuta e sexóloga Allys Terayama lembra um estudo publicado pelo “Journal of Sexual Medicine” que apontou que a sensação de prazer que se inicia no toque no seio pode irradiar pelo corpo, chegando, inclusive, até o clitóris. “Algumas têm tanta sensibilidade local que, ao menor toque, como durante o banho, vão se arrepiar”, cita. Mas ela lembra que essa resposta sexual é muito particular e que há pessoas que não gostam de receber carícias nessa região. “Por exemplo, recebo relatos de mulheres que, ao se tornarem mães, ficam incomodadas com homens que apalpam e colocam a boca no peito, que elas associam à amamentação”, sinaliza, citando já ter atendido também homens trans que, durante o início do processo de transição, embora reconhecessem ter sensibilidade na área, preferiam evitá-la, uma vez que os peitos são culturalmente associados à sexualidade feminina – apesar de também constituírem a sexualidade masculina.
Impacto
Allys Terayama lembra que procedimentos cirúrgicos podem impactar, mesmo que temporariamente, a excitabilidade das mamas. “Pessoas que fizeram implante de prótese de silicone podem perder pouca ou muita sensibilidade. Mas, na maioria dos casos, com o tempo e por meio de exercícios, é possível recuperar total ou parcialmente essa capacidade de se sentir prazer a partir dessa região. Somente em casos mais raros, em que há intercorrência, é que isso se perde em definitivo”, informa.
“Temos ainda os casos de pessoas que passaram por cirurgias mais complexas, como a mastectomia. Mesmo nesses casos, é possível que se sinta prazer ao acariciar ao redor da área da cicatriz”, detalha, ponderando que alguns, por se sentirem desconfortáveis, passam a evitar toques no local e, mesmo que o outro seio não tenha sido afetado, renunciam a desfrutar de carícias nele também.
“Como a resposta sexual é muito individual, o importante é se conhecer, investigando como reagimos a cada estímulo, e comunicar a nossas parcerias as nossas preferências”, situa a sexóloga. Ela alerta que não só o que nos agrada, como também o que nos desagrada, precisa ser dito. “Muitas pessoas, sobretudo mulheres, cedem ao desejo de suas parcerias e, por mais que se sintam desconfortáveis naquela situação, tendo um sexo ruim, deixam de expor isso por medo de desagradar ao outro”, comenta, observando que, durante o ciclo menstrual, é comum que os seios fiquem doloridos, de forma que o toque, se não for bastante delicado, tende a gerar mal-estar.
Dicas
Cada um, cada qual. Alinhada às reflexões de Allys, Tami Bhavani lembra que cada pessoa terá uma preferência distinta em relação à forma de estimulação nos mamilos. “Não existe um toque mágico que vá agradar a todo mundo”, avisa. “Tem pessoas que preferem ser tocadas com a pontinha dos dedos. Outras precisam de uma pressão maior, de beliscões ou de um apertar mais forte. Para você saber qual a forma que você gosta e saber dosar essa medida, é tendo essa comunicação com a sua parceria, dizendo que ela deve ir de forma mais suave ou mais pesada”, sugere.
Começando pelas beiradas. Feita a ponderação, Tami relaciona uma série de estratégias que podem ser adotadas ao se explorar essa parte do corpo. “Eu indico, quando for estimular o seio, começar com a parte mais distante do bico do mamilo, começando em volta com a ponta dos dedos. Lubrificar a área, com óleos ou cremes hidratantes, pode ser uma boa. O objetivo aqui é puxar essa irrigação sanguínea para o bico do peito, mas fazendo isso de forma muito sutil”, indica. “Como já disse, é importante que haja comunicação para saber como esse toque pode ser melhorado de forma que o prazer venha cada vez mais rápido e com mais intensidade”, pondera. “Depois, a estimulação pode ser concentrada no bico da mama, o que pode incluir beliscões, apertos, o uso circular da palma da mão ou mesmo a boca, dando lambidas e até leves mordiscadas”, inteira.
Incrementos. “Pensando em uma transa a dois, o casal pode investir em sex toys, como presilhas, que podem ser bastante prazerosas. Algumas, inclusive, não geram dor, apenas fazem uma pressão na extremidade dos mamilos”, recomenda a terapeuta. “Géis que despertam sensação de quente e frio também podem ser aplicados no local. Há até opções comestíveis”, pontua, acrescentando que vibradores são também uma ótima opção para gerar excitação na região. Ela lembra que esses incrementos podem ser usados ao mesmo tempo em que se estimula outras partes do corpo, como por meio da penetração.
Improviso. “Se não tiver esse tipo de item em casa, pode-se recorrer a penas, para um toque bastante suave, e ao uso de pedras de gelo, para brincar com as sensações despertadas pelas mudanças de temperatura”, comenta. Nesse último caso, a recomendação é evitar permanecer com a pedrinha muito tempo em uma só região para evitar queimaduras. Além disso, é fundamental que a água já esteja em processo de derretimento ao iniciar a dinâmica.