O “Big Brother Brasil” pode evidenciar comportamentos humanos comuns na sociedade, dadas as devidas proporções, obviamente. Há quem diga que assistir ao programa é como acompanhar um experimento social em tempo real, no qual pessoas com personalidades distintas têm seu caráter e valores colocados à prova diante de outros personagens igualmente diferentes. Na edição deste ano, não está sendo diferente.
E entre as muitas ações e posicionamentos observados dentro da casa, um tem chamado a atenção: alguns participantes da geração Z – pessoas nascidas entre 1990 e 2010 – têm demonstrado comportamentos que evidenciam a crença de que o mundo gira em torno deles mesmos.
Exemplo disso foi uma briga protagonizada por Alane Dias e Fernanda Bande. A primeira levantou a voz para a colega quando esta disse que a paraense estava muito “molinha”. Acontece que Alane, de 24 anos, não levou em consideração que ela própria já havia criticado o corpo de Fernanda, destacando que a jovem de Niterói não conseguia levantar a perna muito alto.
Em outra situação, a bailarina acusou Juninho de assédio porque o brother disse que ficaria com ela fora da casa. Ou seja, Alane acabou esvaziando duas pautas importantes para manipular o jogo a favor dela. O próprio Tadeu Schmidt, em discurso de eliminação de Juninho, deu um recado à paraense. “Você tem certeza do que está defendendo? Se você aposta todas as suas fichas, é fundamental não ter dúvida nenhuma sobre as cartas que estão na mesa. (...) Senão ninguém mais vai querer jogar com você”, falou o apresentador à época.
Antes de apertar o botão da desistência, a tiktoker Vanessa Lopes, de 22 anos, apresentou comportamentos confusos e passou a acreditar fielmente em uma teoria da conspiração, em que os participantes do reality show e a própria produção do programa criavam situações para prejudicá-la. Um mês após deixar a casa, ela revelou que sofreu um quadro psicótico agudo quando estava confinada.
“Às vezes acho que a minha geração é uma geração muito da correria. É uma geração muito do ‘tem que fazer aquilo, tem que fazer isso’, mas a gente, primeiro, para fazer algo, tem que se cuidar”, disse, em entrevista ao “Fantástico”, no dia 20 deste mês.
Psicóloga e psicopedagoga, Roneida Gontijo Couto aponta que um dos motivos para a percepção individualista sobre a própria imagem tem a ver com a exposição constante à tecnologia e às redes sociais. “Isso pode influenciar a autoimagem e a autoestima dos jovens da geração Z, pois eles frequentemente se comparam com padrões inatingíveis apresentados online. A busca por validação nesse ambiente pode resultar em pressões sociais, levando a um impacto negativo na percepção de si mesmos”, pondera.
A necessidade de validação nas redes sociais pode, inclusive, “afetar o desenvolvimento emocional e social dos jovens da geração Z, uma vez que a autoestima deles muitas vezes se vincula à aceitação virtual”. “Isso pode gerar uma dependência da aprovação virtual, impactando negativamente o desenvolvimento saudável de relacionamentos interpessoais”, assinala, destacando os possíveis efeitos psicológicos de crescer em um ambiente virtualmente conectado. “Inclui-se a isso a ansiedade social, devido à exposição constante e à avaliação pública, além de depressão, síndrome do pânico e dependência tecnológica, que pode afetar a qualidade das relações interpessoais offline”, indica.
Papel da criação dos pais e relação com o trabalho
Em seu consultório, Roneida tem notado como a criação dos pais impacta o desenvolvimento emocional dessa geração. “Observo que os jovens da geração Z buscam uma identidade individual forte, mas alguns pais expressam preocupações sobre o excesso de individualismo, destacando a importância de equilibrar a autonomia com valores familiares. No fundo, sinto os jovens mais solitários. Acredito que a realidade virtual os afasta do convívio social, sendo este extremamente importante para o desenvolvimento do indivíduo”, salienta.
Ela pontua, no entanto, que, ao mesmo tempo que reclamam do comportamento individualista dos filhos, “os pais da geração Z tendem a adotar uma abordagem mais flexível e inclusiva na criação de seus filhos, em que valorizam a autonomia e incentivam a expressão individual”.
Outro ponto que tem se discutido sobre o comportamento da geração Z é como esses jovens têm lidado com o trabalho. “A busca por propósito e flexibilidade é evidente, refletindo em uma preferência por ambientes colaborativos e experiências significativas. No entanto, a resistência das empresas em contratar indivíduos dessa geração muitas vezes está associada à percepção de uma suposta impaciência ou falta de comprometimento. A rápida adaptação a mudanças e o desejo por avanço rápido podem ser interpretados como instabilidade, gerando hesitação por parte das empresas”, avalia.
A psicóloga indica caminhos para promover a autonomia dos jovens, sem fazer com que isso os torne individualistas. “Esclarecer e valorizar as habilidades distintas da geração Z, como criatividade, habilidades tecnológicas e mentalidade empreendedora, é fundamental para superar essas relutâncias e integrar efetivamente esses jovens talentos ao ambiente de trabalho”, observa.
“Para promover uma cultura digital saudável, torna-se essencial educar os jovens sobre o uso consciente da tecnologia, incentivando uma comunicação aberta sobre experiências online. Além disso, fornecer recursos para lidar com desafios emocionais específicos da geração Z pode contribuir para um ambiente mais equilibrado e positivo”, finaliza.