O analista de comércio exterior Francisco Mota admite que falar em público era uma situação extremamente desconfortável, mas, com o passar do tempo, ele passou a administrar melhor o incômodo que sentia. “Já tive muito medo de falar em público, e com a idade perdi a vergonha, mas não 100%. Se eu dominar o conteúdo, levo numa boa”, ele conta. Mota também diz que dava um jeitinho de escapar de episódios potencialmente constrangedores saindo pela tangente ou usando algumas estratégias que evitassem seu contato com uma plateia: “Não me lembro de ter passado por situações constrangedoras, mas, na faculdade já deixei de apresentar trabalhos importantes por vergonha de falar em público”. 

Medo, receio ou fobia de enfrentar plateias – grandes públicos ou não – e falar em público é uma condição muito mais presente que se imagina, impacta negativamente as relações sociais e profissionais e tem até um termo técnico: glossofobia, expressão que identifica o medo exagerado de se apresentar em público. 

Segundo o médico psiquiatra Bruno Brandão Carreira, a dificuldade de comunicação e até mesmo o pavor e a ojeriza em manifestar uma ideia ou discursar para outras pessoas são circunstâncias muito presentes na vida de todos nós. “Não estamos falando necessariamente de grandes apresentações ou plateias imensas. Às vezes, a dificuldade está em conversar com a atendente na padaria ou pedir uma informação na rua. Muitas pessoas vão se organizando para se expor cada vez menos, e isso causa prejuízos ao longo da vida, da perda de emprego a relacionamentos”, avalia o especialista.  

Medo de palco, boca seca, voz trêmula ou fraca, músculos tensos e rígidos, taquicardia, respiração ofegante, tremedeira, transpiração excessiva e, em casos extremos, vômitos e ataques de pânico são alguns sintomas da glossofobia. Carreira afirma que o tratamento passa, basicamente, pela exposição. Resumindo: a pessoa tem que falar, mesmo sem querer. Entretanto, esse processo deve ser feito de forma gradual: “É importante, mesmo que a pessoa não tenha vontade ou sinta-se mal em conversar, mas, à medida que ela vai se expondo, torna-se algo mais habitual. Não vamos colocar o paciente de cara no meio de 500 pessoas, é bom esclarecer”. 

Quem sofre de glossofobia pode recorrer a tratamentos de habilidades sociais e de oratória. Bruno Brandão Carreira, porém, faz um alerta: o mais comum é a pessoa buscar medicamentos contra a ansiedade ou mesmo o álcool para driblar esse desconforto social que, muitas vezes, não está no medo de falar em público, mas no receio de ser julgado, avaliado e criticado por certas crenças de inferioridade e rejeição. A medicação, ele ressalta, pode ser usada como uma espécie de trampolim para facilitar o processo de exposição, mas o tratamento definitivo não envolve medicamentos.  

“O que vemos, na prática, é o consumo excessivo de álcool para conseguir socializar, e isso vira uma bola de neve. Não pode virar muleta, é perigoso. No tratamento, preciso que a pessoa sinta o desconforto para aquilo justamente deixar de ser um desconforto e virar algo habitual”, argumenta o médico psiquiatra.  

O administrador Marcos Mardem sempre teve dificuldade de falar em público. Embora tenha, aos poucos, enfrentado esse tipo de situação, passar por isso não lhe poupou algum sofrimento: “Teve uma ocasião complicada no trabalho. Cheguei para apresentar meu projeto para a diretoria, e minhas pernas tremiam, ficaram bambas mesmo. No fim das contas, apresentei com muito nervosismo, na correria, e isso é péssimo, porque depois você nem sabe o que falou direito”.  

Para Mardem, a principal questão que se apresenta quando alguém se apresenta para outras pessoas é repassar o conteúdo com clareza, tendo certeza de que o público – cinco, dez ou 50 pessoas – irá entender aquilo que se quer transmitir. Mesmo tendo ficado mais confiante e seguro com o passar do tempo, o administrador ainda sente um frio na barriga quando tem que enfrentar uma plateia. “Você tem que ter domínio do conteúdo e repassá-lo da forma correta para que as pessoas entendam, esse é o maior dilema. Venci algumas barreiras, se precisar eu falo, mas, se puder evitar, eu evito”, pontua.  

Jornalista e mentora de comunicação para empreendedores, Delma Lopes oferece cursos de comunicação de impacto e mentoria de comunicação e oratória. “O profissional que não se comunica hoje é considerado ultrapassado. Antes isso era uma habilidade exigida para pessoas que estavam na linha de frente de veículos de comunicação, mas, hoje, é considerada uma habilidade básica”, pondera Delma. 

A metodologia da comunicadora se baseia em uma formação completa, trabalhando desde a construção da autoconfiança dos alunos até o desenvolvimento da voz, fala, linguagem corporal e técnicas de persuasão. Após a pandemia, Delma salienta que um bom uso da comunicação passou a ser um dos principais conhecimentos requisitados pelos recrutadores no mercado de trabalho. Nem sempre o medo de falar em público está relacionado a um trauma: “A maioria das pessoas que me procuram tem mais medo de falhar do que de falar. Elas precisam aceitar que errar faz parte do processo, mas a falta de preparo também pode estar associada a essa insegurança”.  

Ouvir e passar uma ideia com atenção, clareza, transparência e objetividade, utilizar uma comunicação não violenta, se organizar para apresentações e reuniões e praticar sempre que possível são aspectos que contribuem para uma comunicação eficaz, de fácil entendimento e sem ruídos. Além de dominar profundamente o assunto que será tema da apresentação, Delma Lopes diz que exercícios de respiração momentos antes de uma apresentação.  

“Ficar ansioso e ter um friozinho na barriga é normal. Emoção a gente não controla, mas pensamento, sim. Foque para que as pessoas entendam o que você quer passar, respire fundo e entenda que a mensagem é mais importante que você”, garante a jornalista.