O formato da harpa lembra o de asas e evoca a sensação de leveza e liberdade. Seu som traz encantamento, suavidade e delicadeza e remete a mitos e lendas de fadas e sereias. E também promove cuidado e conforto por meio da interação do paciente com o terapeuta. Por esses e outros motivos, na década de 80 alguns harpistas nos Estados Unidos fundaram movimentos em que o instrumento passou a ser usado de forma terapêutica.
Em 2000, Christina Tourim fundou o International Harp Therapy Program e, desde então já formou mais de 2.000 praticantes de harpaterapia em todo o mundo. Uma delas é Cláudia Miranda, musicoterapeuta e tanatóloga, que há 12 anos trabalha com a harpa como instrumento terapêutico.
Em 2016, Cláudia lançou o livro “Tons de Cores e Sons: Matizes da Harpaterapia”. Neste ano publicou o “Oráculo da Harpa”, com 22 arcanos maiores, todos com ilustrações de harpa. “Por meio dele, leio a situação atual da pessoa, seu passado e futuro, contemplando aspectos mais transcendentes e não exatamente sua história de vida. Por meio de ilustrações lúdicas e do significado dos arcanos, inspiro a pessoa a se conhecer”, diz a harpaterapeuta.
A musicoterapia usa vários instrumentos e trabalha o indivíduo nas dimensões física, emocional, comunicacional, cognitiva, social, musical, espiritual e de autoconsciência.
“Dependendo da demanda do paciente, utilizo recursos terapêuticos para desenvolver a cognição, a respiração, a marcha e o lado emocional. Atualmente tenho trabalhado mais com idosos. Para a perda de memória, uso canções antigas; para carência afetiva, recrio canções do passando. Nos casos de luto, componho com o paciente uma canção”, comenta Cláudia.
Segundo ela, a música tem grande reverberação quando integrada aos cuidados paliativos e no preparo para a terminalidade. Ela vem sendo usado com bons resultados em casos de autismo, Parkinson, síndromes em geral e transtornos psiquiátricos.
Mas é bom que se esclareça: a harpaterapia não é entretenimento. “Ao dar atenção total, presente e inclusiva a cada paciente, acesso padrões de respiração que se manifestam por meio de sinais de alívio de tensão no corpo e na expressão. O som da harpa cria uma adequação mais direta entre os estados de saúde e ânimo e as condições e características do paciente com a música”, ensina Cláudia.
O som da harpa, diz a especialista, tem relações de proporções harmônicas, baseadas em leis matemáticas precisas, e pode propiciar um estado de escuta, atenção, abertura cognitiva emocional e espiritual nos pacientes. Pode estimular órgãos sensoriais dos bebês, desenvolvendo a percepção, a ritmicidade e as conexões neuronais, trazendo relaxamento.
A harpa é um instrumento de múltiplas possibilidades de uso para várias fases da vida. “Ela pode ser usada associada ao canto, a outros instrumentos, a cores, movimentos e pode acompanhar histórias, reflexões e meditações. Ela traz relaxamento, diminuição da ansiedade, contato com vibrações mais sutis e níveis mais elevados de si mesmo, harmonização profunda pela lei da ressonância e reconexão com a própria essência”, observa Cláudia.
O som do instrumento lembra mensagens de anjos, deuses, guias, hierarquias e mentores. “Representa a conexão com o céu, o além (antes de nascer e depois de morrer), a dimensão angelical de luz, sabedoria, alegria, tranquilidade e paz. Pode estimular sentimentos de confiança nos seres que nos protegem”, finaliza Cláudia.
Clássico
Marsílio Ficino. O filósofo renascentista italiano tocava lira e defendia que as dores do corpo poderiam ser curadas pela ressonância entre o indivíduo e a música da harmonia divina.
Serviço: Para saber mais sobre esse trabalho: (31) 98886-1288.
A jornalista Ana Elizabeth Diniz escreve neste espaço às terças-feiras. E-mail: anabethdiniz@gmail.com